Leishmaniose tegumentar americana: pesquisa investiga relação entre vitamina D e tratamento da doença

Estudo apoiado pela Fapeg analisa fatores não-genéticos e polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) associados ao metabolismo da vitamina para controle e/ou imunopatogenia da doença.

Uma doença que antes se restringia às zonas de florestas das Américas chegou às regiões periurbanas e áreas desmatadas, levando um grande número de pessoas a conviverem com o estigma social decorrente das deformidades e cicatrizes desfigurantes. A Leishmaniose tegumentar americana é uma antropozoonose, ou seja, afeta primeiramente animais e pode ser transmitida aos humanos. Insetos da família Psychodidae, conhecidos como mosquito palha e birigui, são os principais vetores da enfermidade, cujos sintomas são lesões na pele e em mucosas.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2019 foram confirmados 15.484 casos novos de Leishmaniose tegumentar (LT) no praís, com coeficiente de detecção de 7,37 casos a cada 100 mil habitantes. A doença se distribui por todo o território nacional, sendo os maiores percentuais registrados na região Norte (42,8%). Do total de pacientes com a enfermidade em 2019, 67,1% evoluíram para cura clínica, enquanto 1,9% abandonaram o tratamento. Neste período, 19 óbitos causados pela doença foram registrados.

Para ajudar no combate à enfermidade, um grupo de pesquisadores coordenado pelo Prof. Dr. Rodrigo Saar Gomes investiga fatores genéticos, os polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs), e não-genéticos relacionados à resposta imune dependente de Vitamina D em pacientes com a doença. De acordo com Rodrigo Saar, como a LT é predominantemente rural em Goiás, o trabalho fornecerá um conjunto de informações sobre o impacto da vulnerabilidade social da população rural, bem como a variabilidade genética que influenciam a doença nesses indivíduos.

A partir de pesquisas recentes que têm demonstrado a importância da Vitamina D na resposta imune às infecções, o estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) vai investigar se genes envolvidos nessa via da Vitamina D podem ser bastante frequentes em diversas populações e estarem envolvidos em melhor ou pior prognóstico de doenças infecciosas. “Assim decidimos investigar a frequência desses polimorfismos genéticos na população de Goiás e associar com o risco para as leishmanioses, endêmicas no Estado, e mais frequentes em populações rurais”, explica o pesquisador.

Os resultados do trabalho também podem dar suporte ao desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas e políticas públicas para as leishmanioses. É que segundo o grupo de pesquisadores, o atual tratamento da LT no Brasil é altamente tóxico e apresenta considerável grau de falha terapêutica. Isso porque as drogas de primeira escolha são os compostos antimoniais pentavalentes. Os tratamentos alternativos são a anfotericina B, a pentamidina e a pentoxifilina, todas de uso parenteral, e, mais recentemente, a miltefosina – primeiro medicamento de uso oral. “Esses medicamentos são escolhidos de acordo com a forma clínica e o perfil do paciente. Em geral, estes remédios apresentam uma janela terapêutica estreita, podendo levar à disfunções renais, cardíacas e hepáticas, sendo necessário acompanhamento frequente e, em alguns casos, internação”, informa Saar.

A pesquisa vai avaliar os polimorfismos genéticos nos grupos de controle “saudáveis” e “pacientes com leishmaniose tegumentar”, já estudando as associações com a resposta imune e aspectos clínicos e terapêuticos. O pesquisador responsável lembra que teve que ser feito um grande esforço para recrutar esses pacientes durante pandemia, pois foi observada uma redução no número de de pacientes em busca de tratamentos para doenças não associadas com a COVID-19.  A expectativa dos cientistas é apresentar os dados e as publicações do projeto em meados de 2024.

APOIO FUNDAMENTAL

O projeto de pesquisa recebeu apoio do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS), através da Fapeg. “O financiamento foi essencial para esse trabalho. Avaliação de polimorfismos genéticos são muito importantes para se traçar um perfil de uma população e prever, de alguma forma, o risco de muitas doenças, infecciosas ou não. Mas essas são análises realmente caras, de alto perfil”, revela o pesquisador. Com o valor recebido com a Chamada Pública, foram adquiridos kits para avaliação genética e imunológica também equipamentos essenciais para a pesquisa científica.

Rodrigo Saar ainda comenta a relevância do PPSUS no país, uma vez que dá espaço para pesquisas científicas laboratoriais encontrarem com a clínica médica. “Tenho certeza que esse programa terá impacto futuro nos diagnósticos e tratamentos de diversas doenças, melhorando a qualidade de vida da população e tornando o SUS cada vez mais eficiente em suas abordagens clínicas e terapêuticas”, finaliza.

Equipe de trabalho:
Prof. Dr. Rodrigo Saar Gomes (UFG; pesquisador responsável)
Profa. Dra. Fátima Ribeiro Dias (UFG; pesquisadora)
Profa. Camila Freire Araújo (HDT e UFG; médica infectologista e pesquisadora)
Profa. Dra. Iara Barreto (UFG; pesquisadora)
Dr. Ramon Vieira Nunes (UFG; pesquisador)
Murilo Barros Silveira (UFG; técnico e pesquisador)

 

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