INCT EECBio: Rede goiana com mais de 150 pesquisadores busca liderança em estudos de biodiversidade
A ideia é fomentar a ciência em campos estratégicos investindo em novas tecnologias de análise e obtenção de dados, além de aspectos teóricos inovadores. Equipamentos e a infraestrutura física e de recursos humanos têm contribuído com estudos que podem subsidiar políticas públicas em relação à pandemia da COVID-19
Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação da Fapeg
Cofinanciado e apoiado pelo Governo de Goiás, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade (INCT EECBio) da Universidade Federal de Goiás (UFG) está consolidando grupos de pesquisas no Estado de Goiás e conquistando liderança em estudos de biodiversidade. O EECBio tem articulado os melhores grupos de pesquisa do Brasil e do exterior em áreas de fronteira da ciência e em campos estratégicos para o desenvolvimento sustentável do Estado e do País. O Instituto é coordenado pelo professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia & Evolução / Genética & Biologia Molecular, do Departamento de Ecologia da UFG.
O INCT EECBio construiu uma rede de pesquisa envolvendo mais de 150 pesquisadores nacionais e internacionais. Esses pesquisadores estão organizados em oito grupos de trabalho e atualmente estão desenvolvendo 22 projetos de pesquisa em torno de três grandes eixos temáticos: Padrões de diversidade em diferentes níveis de organização e escalas de tempo e espaço; Adaptação, evolução do nicho ecológico e mudança climática; e Planejamento em conservação e uso sustentável da biodiversidade.
Pesquisas estratégicas
“No INCT EECBio temos projetos em diferentes linhas e áreas, indo desde o Genoma do “Pequizeiro” até a análise de populações de anfíbios por todo o Brasil utilizando novas tecnologias automatizadas de monitoramento acústico. Temos projetos mais teóricos envolvendo simulação de padrões de diversidade em escala global e suas respostas à mudança no clima, modelagem estatística dessas respostas, projetos de integração em genética e ecologia, sobre espécies ameaçadas e invasores. A ideia geral é investir em novas tecnologias de análise e obtenção de dados, além de aspectos teóricos inovadores, pela integração de pesquisadores de diferentes áreas,” ressalta José Alexandre Felizola. “São vários projetos envolvendo conservação e planejamento, de modo amplo, que poderão ser aplicados”, resume ele.
“Temos, por exemplo, uma estação experimental montada na Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Anápolis, com muito apoio do Instituto. Esse projeto é um resultado das ações do INCT que contribuiu para o desenvolvimento regional ao apoiar grupos emergentes”, comenta o pesquisador. O projeto faz experimentos sobre resposta de comunidades de organismos aquáticos a diversos fatores, considerando que os ambientes aquáticos são afetados por ambientes terrestres periféricos e também por outros ambientes aquáticos, uma vez que lagos, rios e represas estão conectados pela rede hídrica e assim, muitos fatores como entrada de nutrientes, retirada da vegetação do entorno, construção de barragens, entre outros podem afetar a biodiversidade aquática.
Neste projeto, está sendo desenvolvido um experimento usando micro-organismos e dezenas de caixas d’água enterradas no mesmo nível e conectadas individualmente para entrada e drenagem da água. As primeiras pesquisas estão sendo feitas com algas e zooplâncton procurando responder questões como sinais precoces de floração de algas; efeito de diferentes tipos de dispersão na estrutura das comunidades biológicas. Esse tipo de estudo pode ser útil no manejo de ambientes aquáticos, principalmente lagos urbanos, ou usado pelo sistema de abastecimento público, explica o coordenador. As pesquisas estão sendo realizadas com pesquisadores de diferentes instituições vinculadas ao EECBIO e com a participação de discentes de diversos programas de pós-graduação e graduação.
Associação
Além dos trabalhos mais específicos que já foram iniciados, os equipamentos e a infraestrutura física e de recursos humanos do INCT têm contribuído com estudos que podem subsidiar as políticas públicas em relação à pandemia da COVID-19, como um trabalho em escala global derivado do projeto em “Macroecologia Humana” (https://peerj.com/articles/9708/) e o grupo de modelagem temporal e espacial da expansão da pandemia da COVID-19 em Goiás (www.covid.bio.br), composto pelos professores José Alexandre F Diniz-Filho e Thiago Rangel. Além disso, parte dos pesquisadores e bolsistas do INCT EECBio iniciou um projeto para sequenciar o genoma do coronavírus no Estado de Goiás, com apoio da Fapeg no Laboratório de Genética & Biodiversidade pelas professoras Mariana Telles, Thannya Soares e Daniela Melo, associadas ao INCT EECBio, dentre outros pesquisadores.
Análise de dados
Os pesquisadores do INCT estão com os olhos voltados para projetos de integração do conhecimento da biodiversidade em diferentes escalas espaciais, temporais e níveis da hierarquia biológica, por meio do desenvolvimento, aplicação, avaliação e divulgação de métodos inovadores para a obtenção e análise de dados. Com isso, eles esperam ter uma melhor compreensão dos padrões e processos ecológicos e evolutivos envolvidos na origem e manutenção da biodiversidade e otimizar estratégias para sua conservação com base em evidências sobre efeitos antrópicos, especialmente causados por mudanças climáticas, invasões biológicas e mudanças no uso do solo. José Alexandre Felizola entende que, “ao mesmo tempo, espera-se que a integração de pesquisadores e estudantes por meio do EECBio melhore a capacitação de profissionais atuando nas diferentes áreas da biodiversidade no Brasil”.
“Temos um grande fluxo de pesquisadores do Brasil e do mundo vindo para Goiás para participar de reuniões e workshops que o INCT EECBio promove. Até 2019, foram realizados 11 workshops de discussão de projetos”, ressalta ele. Previsibilidade em Ecologia de Comunidade; EcoClimate: avanços e atualizações da base de dados climáticos; Supressão de fogo e remoção do gado em áreas de Reserva Legal de campos e savanas descaracterizam a biodiversidade desses ecossistemas?; Integrando mecanismos fisiológicos a padrões geográficos da biodiversidade; O papel das propriedades privadas na conservação dos serviços ecossistêmicos no Cerrado; e Desvendando os múltiplos efeitos de espécies exóticas em redes ecológicas, foram alguns dos temas dos workshops. Muitos cursos de capacitação e palestras têm sido ministrados por docentes e bolsistas, incluindo um novo ciclo de palestras online disponibilizadas no canal YouTube do INCT EECBio (https://www.youtube.com/channel/UC1SsttFqtlICHCX9AczZqbg).
Soma-se a isso, a publicação de mais de 100 trabalhos científicos em revistas de alto impacto, com destaques para artigos na Science, PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America), Trends in Ecology and Evolution, dentre outras revistas internacionais de alto impacto.
Participantes
Associado a essas ações e projetos, José Alexandre ressalta outro componente importante: “a formação de recursos humanos, pois, além da inserção de estudantes de novos cursos de graduação da UFG, UEG, PUC-GO, UFJ, temos os estudantes de mestrado e doutorado de diversos programas de pós-graduação envolvidos nos projetos, incluindo do nosso programa “Ecologia & Evolução” da UFG, que é o único programa de pós-graduação do Centro-Oeste com nota 7, máxima, na avaliação da Capes. O EECBio, além disso, tem concedido diversas bolsas de pesquisa e desenvolvimento para alunos e pós-doutorandos”.
São mais de 50 universidades envolvidas no projeto, destacando a participação, em termos de pesquisa e coordenações, a UFG, a Universidade Federal de Jataí (UFJ), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Estadual de Goiás (UEG), além de diversas parcerias, entre elas com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, do Ministério do Meio Ambiente e apoio da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, conta José Alexandre Felizola.
Apoio da Fapeg
O INCT é o maior programa brasileiro na área de CT&I por meio de editais. O fomento total para o projeto do INCT EECBio é de pouco mais de R$ 7 milhões, recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). À Fapeg coube um aporte de R$ 3,5 milhões. O projeto teve início em 2017 e terá duração de seis anos.
O INCT EECBio é um dos 101 projetos selecionados no País pela Chamada INCT – MCTIC/CNPq/Capes/FAPs lançada em 2014 com o objetivo apoiar atividades de pesquisa de alto impacto científico em estratégias ou na fronteira do conhecimento, mediante a seleção de propostas de apoio financeiro a projetos voltados à consolidação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, que ocupam posição estratégica no Sistema Nacional de CT&I, e à formação de novas redes de cooperação científica interinstitucional de caráter nacional e internacional. No Estado de Goiás também foi selecionado, nesta chamada, o INCT de Estratégias de Interação Patógenos-Hospedeiros.
Novos aportes financeiros
O projeto do INCT prevê a possibilidade de aporte de novos recursos de outras fontes ou da própria Fapeg ou CNPq. “Dentro do contexto do EECBio estão sendo discutidos novos projetos de maior interesse para o Estado, envolvendo, por exemplo, uma parceria com a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável para atualizar o mapa de áreas prioritárias para conservação e restauração no Estado de Goiás, bem como novas análises de monitoramento a partir de Ecologia Molecular e DNA ambiental para o Rio Araguaia,” disse o coordenador do EECBio.