Grupo que inclui pesquisadores do CNPq revela a diversidade de plantas da Amazônia
A Amazônia abriga a maior floresta tropical úmida do mundo e seus serviços ecossistêmicos, através dos ciclos biogeoquímicos e regulação do clima, são de valor inestimável para a manutenção do equilíbrio do planeta. Por ser também um dos principais hotspots de biodiversidade, a Amazônia sempre atraiu a atenção de cientistas, conservacionistas e da população mundial.
Quantas espécies de plantas vivem na Amazônia? Essa é uma questão que tem sido muito debatida, com estimativas sobre as plantas com flores (angiospermas) variando de dezenas a centenas de milhares. Mas, como melhor estimamos a diversidade nesta região icônica antes que ela seja perdida para sempre? Dados básicos sobre catalogação da biodiversidade são fundamentais para tomar decisões importantes sobre as estratégias de conservação e uso sustentável, bem como para estudar os processos evolutivos e ecológicos que moldaram a extraordinária biodiversidade das florestas amazônicas.
Apesar disso, estudos que objetivam desvendar a origem, a evolução e a ecologia dessa região hiperdiversa têm sido limitados pela falta de sistematização de informações básicas, como a composição de espécies de plantas que compõem a flora amazônica. Uma pesquisa que contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e foi realizada por uma equipe de 44 cientistas dos países amazônicos, da Europa e dos Estados Unidos, foi publicada no Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA (PNAS). O artigo Amazon plant diversity revealed by a taxonomically verified species list revela que a diversidade de plantas da Amazônia envolve 14.003 espécies de plantas com sementes (angiospermas e gimnospermas), das quais pouco menos da metade (6.927 espécies) são árvores.
Dos 44 pesquisadores que assinaram o artigo, 26 atuam no Brasil, sendo 21 bolsistas ou ex-bolsistas do CNPq, incluindo 11 bolsistas de Produtividade em Pesquisa (PQ), dentre eles o autor principal, Domingos Cardoso, PQ 2 [1]. “A reunião desse catálogo só foi possível graças ao esforço feito pelo Brasil para apoiar trabalhos em biodiversidade, incluindo a formação de taxonomistas e suporte a coleções, como o propiciado por programas apoiados pelo CNPq, como o Protax, Reflora e Sisbiota”, explica Luciano Paganucci de Queiroz, orientador de Domingos, um dos autores do artigo e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq nível 1A.
“As estimativas anteriores eram muito díspares. Um trabalho publicado em 2016 estimava o número de árvores em cerca de 14.000, baseado em bancos de dados e modelagem, mas a lista que eles se basearam era muito suja, contava como amazônicas árvores da Mata Atlântica (como o pau-brasil), da Caatinga, da África (como a Moringa), da Austrália (como espécies de Acacia), etc.”, explica o pesquisador. Além disso, segundo Luciano, o estudo também considerou plantas que são cultivadas como medicinais como o boldo, que é uma planta do Chile, e pequenas ervas como espécies de carrapicho (Desmodium sp.) como árvores. “Enfim, faltou uma revisão da lista por taxonomistas”, completou.
Segundo o pesquisador, um diferencial desse estudo foi o uso da informação taxonômica atualizada e verificada por centenas de taxonomistas de todo o mundo que compõem catálogos nacionais, como é o caso da Flora do Brasil 2020. “Essas plataformas digitais representam o acúmulo de centenas de anos de trabalhos de campo na região e o esforço de centenas de taxonomistas”, comenta Tiina Särkinen, do Jardim Botânico de Edimburgo, outra das líderes desse estudo. Recursos como esse catálogo taxonomicamente certificado fornece uma base sólida para o estudo das respostas dessa floresta a mudanças climáticas e outras mudanças ambientais.
Os autores destacaram que a publicação desta nova lista não significa que a flora amazônica seja completamente conhecida. Muitas novas espécies de plantas são descobertas todos os anos, tanto no campo como nas coleções de museus e herbários, e grande parte da vastidão da Amazônia continua ainda pouco conhecida ou inexplorada. As diferenças entre as estimativas anteriores e os números apresentados neste novo estudo não diminui, de forma alguma, o valor da diversidade da Amazônia, mas enfatiza as grandes lacunas no seu conhecimento. A falta de conhecimentos taxonômicos, coleções de plantas e estudos de longo prazo limitam nossa capacidade de conservar e utilizar os recursos da biodiversidade, uma lacuna que esse estudo está contribuindo para preencher.
Histórico e perspectivas
Luciano aponta que este não é um projeto muito antigo, mas os estudos que possibilitaram essa compilação remontam ao final da década de 1990 quando centenas de taxonomistas de todo o mundo se associaram para produzir a primeira Lista da Flora do Brasil, uma iniciativa apoiada pelo REFLORA. Esse projeto evoluiu para um mais ambicioso, que está em curso, que é a Flora do Brasil 2020, coordenado pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Espera-se, agora, que o estudo da Flora Amazônica se converta em um sítio na web onde pesquisadores podem contribuir com atualizações à medida que forem ocorrendo.