Especial PPSUS: Pesquisa foca na detecção de câncer cervical por método molecular
Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg
Quinhentas pacientes atendidas gratuitamente no Hospital da Mulher, em Goiânia, estão participando do projeto Uso de estratégia molecular para rastreamento de mulheres com risco de desenvolvimento de câncer cervical no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto está sendo coordenado pela professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Angela Adamski da Silva Reis e é um entre os 29 selecionados pela Chamada Pública nº 12/2013 no âmbito do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS): Gestão Compartilhada.
O PPSUS tem por objetivo apoiar atividades de pesquisa científica, tecnológica ou de inovação que promovam a formação de recursos humanos qualificados e a melhoria da qualidade de atenção à saúde no contexto do SUS. A chamada é uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) com o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A coordenadora do projeto explica que o estudo fomentado pelo PPSUS/Fapeg tem como principal objetivo a detecção precoce de mulheres suscetíveis ao desenvolvimento do câncer de colo uterino (câncer cervical) combinando citologia oncótica com método molecular de detecção e tipagem do HPV, representando uma estratégia de redução de custos ao SUS a longo prazo, uma vez que “a detecção precoce por método molecular do HPV, agente etiológico do câncer de colo do útero, reduzirá a incidência deste tipo particular de câncer e , consequentemente, os custos de tratamento oncológico que repercutem no sistema público de saúde”, explica.
Segundo ela, os dados preliminares do estudo já “demonstram que os testes moleculares para detecção do DNA de HPV e tipos virais são importantes como metodologia no rastreamento do câncer do colo do útero e apresentam-se como novas estratégias de triagem e uma alternativa na prevenção do carcinoma cervical com importante valor de diagnóstico e prognóstico, que pode ser aplicado como um forte componente adicional no rastreamento desse tipo de tumor associado à citologia oncótica (Papanicolau) no SUS”.
Angela Adamski esclarece que as infecções pelo Papilomavírus Humano (HPV) ocorrem em ambos os sexos e a sua alta prevalência demonstra que a mesma é uma doença sexualmente transmissível que acomete homens e mulheres, e evidências epidemiológicas permitiram estabelecer uma relação etiológica entre alguns tipos virais de HPV, os de alto risco oncogênico e o câncer de colo do útero.
Papanicolau e Biologia Molecular
A pesquisadora explica que no Brasil, o exame Papanicolau é a estratégia recomendada pelo Ministério da Saúde (MS) no programa de rastreamento para o controle do câncer de colo útero. “No entanto, o Papanicolau apresenta grande variação de resultados falso-negativos (aproximadamente 15% a 50%), devido à baixa sensibilidade, pois o método não consegue detectar as alterações celulares iniciais ocasionadas pela infecção por HPV de alto risco oncogênico”, alerta a professora.
As técnicas de biologia molecular, no entanto, apresentam sensibilidade e especificidade na detecção do vírus. Assim, mulheres com infecções por HPV apresentam risco aumentado para o desenvolvimento do câncer de colo uterino e infecções em estágio de latência apresentam citologia normal. E nesse contexto, a presença de HPVs de alto risco determina que mulheres identificadas com esses tipos virais devem ser seguidas pelo serviço médico, para reduzir a incidência e prevalência deste tipo particular de tumor, e sobretudo nos custos do SUS no âmbito do tratamento oncológico.
Dentre os objetivos específicos do projeto em execução, a pesquisadora cita: detectar o DNA de HPV e identificar os principais tipos virais nas amostras de escovado de cérvice uterina; comparar os resultados dos métodos moleculares com a citologia oncótica para estimar medidas de efetividade na triagem do câncer de cérvice uterina para o SUS; gerar e contribuir nas estratégias de planejamento de custo do SUS nas políticas públicas voltadas à saúde da mulher, e, sobretudo no rastreamento do câncer de colo uterino; desenvolver uma cartilha para a educação em saúde com intuito de promoção e prevenção do câncer de colo uterino; avaliar a aplicabilidade da cartilha educativa em HPV para a promoção e prevenção do câncer de colo uterino; contribuir para a geração do conhecimento e formação de pessoal qualificado, visando o desenvolvimento científico tecnológico do país, em nossa região, e, sobretudo no nosso Estado.
O projeto
O projeto foi iniciado em dezembro de 2015. Para sua execução financeira, foram liberados R$ 72.323,00, sendo que 70% deste total já foram aplicados. O estudo conta com a colaboração do pesquisador Dr. Erick da Cruz Castelli, Unesp Botucatu-SP, e do Dr. Aparecido Divino da Cruz, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia-GO, nas análises moleculares.
As 500 mulheres que contribuem com o estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido para participarem da pesquisa conforme comitê de ética, explica Angela Adamski. Segundo ela, as amostras de cérvice uterina das 500 mulheres foram coletadas para análise por citologia oncótica (Papanicolau) e detecção do DNA do HPV e genotipagem dos tipos virais pela reação em cadeia da polimerase. As análises estatísticas, comparando o teste de DNA para HPV e citologia oncótica, demonstraram que o teste de DNA possui maior sensibilidade, sendo o p-valor Kappa <0,001 e teste do qui-quadrado <0,001. Nesse sentido, as pacientes com presença de infecção por HPV não apresentaram alterações celulares detectáveis no exame citológico e apresentam risco para o desenvolvimento de câncer do colo do útero.
No ano passado a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFG realizou o HPV Day no Dia Mundial de Combate ao Câncer (08/04/2016) com o objetivo de levar à comunidade a prevenção primária, secundária no rastreamento do câncer de colo uterino. Foram distribuídas 100 fitas rosas aos participantes do evento, que aconteceu na UFG e contou com o apoio de O Boticário na divulgação do evento. Foram ministradas palestras sobre o tema saúde da mulher no âmbito da prevenção do câncer de cérvice uterina; prevenção e diagnóstico da infecção pelo papilomavírus humano (HPV), associação do risco de infecção e o
desenvolvimento de cérvice uterina, bem como aspectos da prevenção primária (vacinação e educação em saúde) e prevenção secundária (realização do rastreamento de câncer de cérvice uterina).
Em 2017, Angela Adamski proferiu palestra na edição do Dia Mundial de Combate ao Câncer promovido pela UFG, abordando a importância da incorporação dos testes moleculares no rastreamento do câncer de colo uterino. Angela explica que, com a finalização dos dados totais, será elaborado um artigo científico analisando os dados moleculares X dados cito-oncológicos em relação aos custo-efetividade para o SUS.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer do colo do útero é o terceiro mais incidente na população feminina brasileira, excetuando-se os casos de câncer de pele não melanoma. Políticas públicas nessa área vêm sendo desenvolvidas no Brasil desde meados dos anos 80 e foram impulsionadas pelo Programa Viva Mulher, em 1996.
O controle do câncer do colo do útero é hoje uma prioridade da agenda de saúde do país e integra o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil, lançado pelo Ministério da Saúde, em 2011. As Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero passaram por amplo processo de revisão e atualização baseado em evidências, envolvendo diversos segmentos da sociedade científica. O documento foi lançado em julho de 2011 e atualizado em 2016.
Segundo dados do ©ICO Information Centre on HPV and Cancer (HPV Information Centre) 2017, cerca de 18.503 casos de câncer de cérvice uterina são diagnosticados anualmente no Brasil. Para a cidade de Goiânia temos em média 836 novos casos por ano, sendo as taxas de incidência para carcinoma escamoso e adenocarcinoma de 20,9 e 4,2, respectivamente.
A coordenadora
A professora Angela Adamski possui graduação em Biomedicina pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás); mestrado em Genética e doutorado em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É professora adjunta nível II da UFG, no Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular (DBBM) do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Coordenadora do Laboratório de Genética Molecular e de Microrganismos (ICB-UFG. Professora Orientadora Permanente no Programa de Pós-Graduação de Genética e Biologia Molecular ICB-UFG, Programa de Pós-Graduação em Assistência e Avaliação em Saúde – Faculdade de Farmácia-UFG e no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina-UFG. Tem experiência em Genética Molecular, com ênfase na interface entre o binômio saúde – doença e os aspectos genéticos e ambientais (análise de polimorfismo genético em doenças crônicas: câncer, diabetes, hipertensão dentre outras). As informações sobre a pesquisadora foram coletadas do Lattes em 31/07/2017.
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