Fapeg fomenta criação e expansão de startups em Goiás
Estado possui mais de 190 startups cadastradas na base de dados oficial do ecossistema brasileiro, o StartupBase. Até março de 2020, mais de 12 mil startups, em diversas áreas e estágios de operação, foram inscritas na plataforma
Larissa Andrade, da Assessoria de Comunicação da Fapeg
Goiás é um Estado empreendedor. Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia estão entre as 100 cidades mais empreendedoras do País em 2020, de acordo com o Índice de Cidades Empreendedoras da Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Só em janeiro de 2021, em meio à pandemia do Covid-19, foram abertas 723 novas empresas em relação ao mesmo período do ano passado, com um total de 2.774, o maior número dos últimos cinco anos. Os números são da Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg).
Com as limitações impostas pela pandemia, o desenvolvimento e o uso de novas tecnologias têm sido amplamente explorados e difundidos desde 2020, o que fez com que o ambiente virtual se tornasse uma oportunidade para empreendedores. Entre as modalidades de empreendedorismo que utilizam bem os recursos dos meios digitais estão as startups.
“A pandemia acelerou a transformação digital nas médias e grandes empresas, que passaram a adotar tecnologias e processos já conhecidos pelas startups. Perdemos os encontros presenciais, mas tivemos a capacidade de nos adaptar rapidamente ao novo contexto”, é o que afirma o gerente de Fomento às Incubadoras Tecnológicas e Startups da Secretaria de Desenvolvimento e Inovação de Goiás (Sedi), Carlos Magno.
As startups dominam o meio digital há mais tempo, embora não sejam empresas que existam e funcionem apenas na internet. A web torna a sua criação bem mais barata e possibilita uma expansão do negócio de forma bem mais fácil e rápida.
Pelo momento econômico atual, o nicho empreendedor de startups tem crescido e se tornado uma oportunidade de negócio rentável em nível estadual e nacional. Goiás possui mais de 190 startups cadastradas na base de dados oficial do ecossistema brasileiro, o StartupBase, da ABStartups. Até março de 2020, mais de 12 mil startups, em diversas áreas e estágios de operação, foram inscritas na plataforma.
Fomento público
Para o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás (Fapeg), Robson Vieira, “o grande desafio é mostrar que essa grande ideia criativa realmente possa se transformar em uma inovação e assim fazer sentido montar a startup. Não basta ter a ideia, precisa mergulhar e se dedicar ao projeto, estudar o mercado e entendê-lo. Em resumo, muita coisa precisa ser feita para conseguir validar essa inovação”.
Nesse ponto surge o fomento público como forma de capacitar e financiar ideias inovadoras para estimular a economia. O presidente da Fapeg também ressalta: “O aporte público vem para fortalecer o ecossistema. Estimular a comunidade a empreender, abrir portas para diferentes públicos e idades, gerar emprego e renda. Esse é um caminho sem volta para o desenvolvimento socioeconômico. Jogamos a semente com a subvenção e assim abrimos caminhos para as startups receberem outros tipos de aportes”.
Três staturps goianas foram selecionadas para participarem do Programa IA², do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). O programa possui abrangência nacional e apoia investimentos em projetos de desenvolvimento (P&D) de soluções em Inteligência Artificial (IA) orçados em até R$500 mil.
Encaixe.me, IndustryCare e Total Strategy concorreram com 736 inscritas na pré-seleção e foram classificadas juntamente com outras 28 startups e empresas de tecnologia da informação de todo o País.
As startups goianas já haviam recebido fomento através do Programa Centelha, que no Estado é operado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). A iniciativa também é promovida pelo MCTI e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), e direcionada pela Fundação CERTI.
O programa tem como objetivo estimular a criação de empreendimentos inovadores e disseminar a cultura empreendedora nos Estados, sendo o recurso concedido através das FAPs em cada unidade da federação. Para isso, oferece capacitações, recursos financeiros e suporte para transformar ideias em negócios e ampliar a carteira de clientes.
Na primeira edição do Centelha Goiás, realizada em 2020, 28 projetos foram selecionados e receberam R$ 60 mil, através da Fapeg, para execução de seus projetos. Para o Centelha II é esperado apoio a cerca de 50 empresas e o valor destinado a essa edição é de R$ 2 milhões para cada agente local.
“Projetos como esses ensinam muito por meio das mentorias, aulas e tarefas práticas, que resultam em aperfeiçoamento do modelo de negócio a ser seguido dando resultado nas operações e visibilidade. Junto a isso, conseguimos o fomento, valor financeiro para que seja subsidiado o modelo de negócio, enquanto apresentamos algo inovador e que solucione a necessidade do cliente”, destaca a CEO da Total Strategy, Cynara Bahia.
Cynara conta que a startup nasceu da ideia de reduzir o desperdício nos supermercados e a perda que o comerciante tem com produtos que são descartados por conta da data de validade. Surgiu também de uma preocupação socioambiental, pois esse tipo de lixo lota aterros sanitários, quando poderiam ser reduzidos, além da possibilidade de serem doados, dentro de um prazo de validade aceitável para consumo, para instituições beneficentes.
Em 2020, a Total Strategy atuou basicamente no segmento supermercadista. Entretanto, a startup ampliou o público-alvo e, atualmente, farmácias, lojas de conveniência, empórios, pet shops também são clientes com foco na excelência e eficiência na gestão de validade. Os clientes utilizam o aplicativo desenvolvido pela empresa para reduzir em 65% o tempo de todo processo de estoque e reposição nas gôndolas e em 95% do descarte de produtos.
Enquanto a Total Strategy atua no comércio, a IndustryCare se debruçou sobre a eficiência do processo produtivo de fábricas. Para isso, utilizou a internet das coisas (Iots) na gestão de dados do chão-de-fábrica, digitalizando e monitorando em tempo real, o comportamento e desempenho de máquinas e processos industriais.
De acordo com o coordenador da IndustryCare, Wagner de Barros Neto, a oportunidade de negócio surgiu ao perceber a dificuldade de médias e grandes indústrias para tomarem decisões ágeis por falta dos dados necessários.
“Existem várias ineficiências escondidas em seu custo operacional. Internamente, elas têm uma série de dificuldades tecnológicas e burocráticas em aquisição de sensores e medidores, que atrapalham agendas de transformação digital e Indústria 4.0”, explicou Barros Neto.
O coordenador aponta que com um monitoramento granular e em tempo real, é possível ajudar as indústrias a acompanharem seus indicadores de consumo, produção e processos; e a entenderem o motivo de determinados comportamentos, passando a tomar decisões mais ágeis e orientadas por dados.
Com experiências dos empreendedores no mercado industrial, o time da IndustryCare desenvolveu a primeira versão do produto, que foi aperfeiçoada com recursos do Programa Centelha. “O fomento da Fapeg teve importância para a melhoria da plataforma na arquitetura de software, da experiência do usuário na usabilidade e interface e na confiabilidade da nossa infraestrutura. E agora o recurso do Programa IA², do MCTI, vem para apoiar no desenvolvimento de um modelo de Inteligência Artificial, para ajudar indústrias em sua modulação fabril”, concluiu o coordenador da startup.
E não só indústrias e comércios, mas prestadores de serviços também se tornaram clientes de startups. A Encaixe.me criou uma solução em automação comercial de agendamentos de consultas em rede para estabelecimentos de saúde. O serviço é capaz de otimizar a agenda dos profissionais evitando horários vagos e não-comparecimento de pacientes através de engajamento via WhatsApp.
“Os estabelecimentos oferecem suas disponibilidades de horários vagos para apenas um ou outro sistema de agendamento online e acabam por disponibilizar 70% a 80% da capacidade produtiva somente para poucos “fornecedores” (convênios ou sites de busca), tornando-se reféns da quantidade direcionada, valores praticados e até atrasos nos repasses financeiros. Com o mínimo de automação descentralizada, em que secretárias e profissionais consigam ofertar horários em tempo real, é possível suprimir o não-comparecimento, engajar toda a rede credenciada e ainda economizar no caixa das instituições”, explica o líder operacional e comercial Iarly Coli.
Entre os desafios no início de todo negócio, Coli aponta a dificuldade em reunir uma equipe de fundadores madura, resiliente e a validação comercial, com clientes pagantes e recorrentes, de uma solução minimamente indispensável para os usuários do seu produto.
“Posso afirmar que o fomento da Fapeg foi essencial para financiarmos uma comunicação assertiva, iniciarmos as validações com usuários reais (secretárias e profissionais da saúde) e, principalmente, implementarmos a jornada do paciente via WhatsApp Oficial. Já com os futuros recursos oferecidos pelo programa do MCTI, desenvolveremos nosso assistente virtual, encomendaremos algoritmos para otimização de horários (TimeTabling) e criaremos o nosso próprio modelo de inteligência artificial para sugestões otimizadas de mercado (B.I.) referentes às redes credenciadas”, destacou o líder da Encaixe.me.
O destaque dessas empresas no cenário nacional indica que os próximos passos das startups goianas serão bem-sucedidos. O presidente da Fapeg reforça que “o mercado de startups em Goiás é promissor. Criamos uma série de ações para acelerarmos a inserção da inteligência artificial no dia a dia do goiano. E as respostas para todas as ações que temos feito tem sido fenomenal. Agora queremos ter mais startups que utilizem e inovem com inteligência artificial”.