Estudo inédito apoiado pela Finep/MCTI sobre o Zika Vírus em bebês é destaque no mundo
Um estudo desenvolvido em parceria com diversas instituições de pesquisa brasileiras que integram a Rede Zika vai permitir, pela primeira vez, mapear alterações moleculares no cérebro de bebês que nasceram com a Síndrome da Zika Congênita. O resultado da pesquisa, que explica o motivo de algumas mães infectadas pelo vírus na gravidez terem tido bebês com microcefalia, enquanto outras não, acaba de ser publicado na revista Science Signaling, da American Association for the Advancement of Science. Assinado por 32 pesquisadores brasileiros, o artigo é um reconhecimento ao mérito científico da Rede Zika, formada por instituições de pesquisa, como o LNCC, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Estadual do Cérebro, Butantan e Universidade de São Paulo (USP), com o apoio da Finep, Financiadora de Inovação e Pesquisa do Ministério da Ciência, tecnologia e Inovações, do CNPq e Faperj.
Desenvolvida pelo Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) com apoio da Finep/MCTI, a Plataforma Genômica Computacional de Alto Desempenho de Arboviroses, em especial o vírus Zika, foi o grande destaque do artigo. O projeto da plataforma, que integra a Rede Zika e teve grande relevância para a conquista desse avanço científico, contou com recursos não reembolsáveis do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
A Plataforma, que utiliza tecnologias modernas de sequenciamento e computação de alto desempenho, foi fundamental para um melhor entendimento dos mecanismos fisiopatológicos em tecidos infectados pelo Zika Vírus. “O sucesso desse projeto, referendado pela publicação de seus resultados na Science Signaling, demonstra a acurácia das ações de fomento realizadas pela Finep. O Brasil liderou a descoberta da relação do vírus Zika com o aumento de casos de microcefalia e a Finep/MCTI se orgulha de ter participado desse esforço nacional” afirma o diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep/MCTI, Marcelo Bortolini.
“Este trabalho é mais um exemplo da importância de um investimento contínuo em ciência. A epidemia de Zika começou em 2015 e os resultados só saíram agora, ou seja, a qualidade depende de tempo e esforço de muitos pesquisadores”, afirma a professora Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, coordenadora do projeto.
A análise das amostras pelos pesquisadores da Rede Zika, levaram ao entendimento dos mecanismos moleculares fisiopatológicos do vírus Zika no cérebro de oito bebês com a Síndrome da Zika Congênita, falecidos após 48 horas do nascimento, no período de outubro de 2015 a julho de 2016. Os pesquisadores acompanharam mulheres grávidas nos estados do Rio de Janeiro e da Paraíba, e que tinham sido expostas ao vírus da zika. “Nós olhamos todas as alterações moleculares que aconteciam no cérebro dos bebês”, disse a coordenadora. Foram aplicadas nas análises diferentes metodologias, como proteômica, transcriptoma e genômica do cérebro, e utilizados equipamentos de alta tecnologia, também financiados pela Finep/MCTI, por meio de ações de apoio à infraestrutura de pesquisa – CT-INFRA e o PROINFRA, das instituições integrantes da Rede.
No artigo, a conclusão dos pesquisadores é de que houve uma redução no colágeno tanto no RNA quanto na proteína, alterações específicas nos neurônios, nos axônios e defeitos de migração neuronal. Além disso, os cérebros dos neonatos apresentaram alterações associadas à osteogênese imperfeita — uma doença hereditária que prejudica a formação dos ossos e os torna anormalmente frágeis — e à artrogripose, caracterizada por contraturas articulares e fraqueza muscular; ambas doenças raras. Essa constatação poderá levar a novas formas de tratamento de doenças dessa natureza.
Até a implantação da Rede Zika, o Brasil não dispunha de infraestrutura dedicada ao estudo das Arboviroses. Dessa forma, a Plataforma contribuiu para a análise e realização de estudos sobre a infecção e as manifestações fisiopatológicas associadas não somente ao Zika vírus, mas também à dengue, chikungunya e mayaro.
Essas informações forneceram subsídios para estudos de virologia, epidemiologia, fisiopatologia e interação vírus-hospedeiro. E serão, sem dúvida, uma grande contribuição para estudos de virologia e epidemiologia que possibilitem pesquisas sobre novas perspectivas terapêuticas e profiláticas, inclusive para o desenvolvimento de vacinas.
Fonte: Finep