Estudo financiado pela Fapeg propõe novos sistemas de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta para o desenvolvimento sustentável do Cerrado

Plantio de mudas de eucalipto no sistema ILPF

O projeto propõe tecnologias para o bioma Cerrado a partir de pesquisas locais alinhadas com a real necessidade dos produtores. Os novos sistemas a serem criados envolvem a incorporação de espécies vegetais ainda pouco utilizadas, novos arranjos produtivos e adequação no planejamento de produção visando avaliar formas inovadoras e sustentáveis na produção de bovinos de leite, buscando a máxima sinergia entre as atividades. O projeto conta com apoio da Fapeg e do CNPq por meio do Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional

 

Reconhecidamente sustentáveis ambiental e economicamente, os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) fazem parte de um projeto da pesquisadora Jakeline Fernandes Cabral, que foi uma das aprovadas na Chamada Pública nº06/2020 para seleção de bolsistas no âmbito do Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (PDCTR), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). O projeto está recebendo investimentos de R$ R$ 176.200,00.

Jaqueline Cabral ingressou em um grupo de pesquisadores e professores do Instituto Federal Goiano (IF Goiano), campus Rio Verde, com a proposta de desenvolver novos sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta para apoiar o desenvolvimento rural sustentável de áreas do Cerrado e atender a propriedades rurais de diferentes portes e aptidões estabelecendo novos modelos de produção para diferentes módulos produtivos em ILPF com perspectivas para proporcionar melhores condições socioeconômicas aos produtores.

“Queremos implantar e conduzir as pesquisas visando o desenvolvimento de tecnologia inovadora para integração da pecuária leiteira com a produção agrícola e florestal no Cerrado do Estado de Goiás, aumentando a eficiência de utilização do uso da terra e contribuindo para uma maior sustentabilidade dos sistemas produtivos e para a conservação de espécies florestais nativas”, ressalta a pesquisadora.

Contagem das árvores de eucalipto para avaliação da sobrevivência na integração pecuária e floresta

Segundo ela, “os resultados contribuirão sobremaneira, e em caráter inédito, para o aumento da eficiência produtiva da pecuária leiteira de forma sustentável, além de aprofundar e consolidar os conhecimentos sobre os sistemas integrados para produção de leite”. Jakeline aponta que os novos sistemas a serem criados têm como objetivo o desenvolvimento de sistemas intensivos de pecuária leiteira, produção de grãos, silagem e forragens. Os pesquisadores pretendem identificar diferentes consórcios entre gramíneas e leguminosas aptos a produção sustentável de forragem conservada em sistema de ILP. Eles buscam ainda, desenvolver sistemas produtivos com espécies florestais nativas em ILPF capazes de proporcionar maior sustentabilidade econômica e ambiental.

Aproveitamento do Cerrado

O Cerrado ocupa cerca de 23% do território brasileiro. São aproximadamente 205 milhões de hectares que compõem o segundo maior bioma do país, quase um quarto do território nacional. Até o início da década de 1960, o Cerrado era considerado um bioma impróprio e sempre marginal para a produção agrícola. A partir daquela década, grandes investimentos em ciência, pesquisa e novas tecnologias de manejo sustentáveis e uma série de estratégias de gestão foram capazes de transformar o Cerrado em uma das regiões mais produtivas do Brasil em termos de produção de grãos, gado bovino, agroenergia e reflorestamento.

O projeto vai ao encontro de um dos grandes desafios atuais da humanidade que é atender à crescente demanda da população mundial por alimentos, e ao Cerrado brasileiro cabe uma grande responsabilidade. Para isso, é preciso novos investimentos em CT&I para suprir a agropecuária com soluções sustentáveis que levem a transformação no campo, a práticas e métodos que possam alavancar o aumento da produção de alimentos sem aumento de área plantada, com ganhos de eficiência técnica, assegurando o suprimento das necessidades de alimentos saudáveis da população produzidos de forma sustentável nas perspectivas econômica, ambiental e social.

Benefícios do ILPF

Para Jakeline, o ILPF traz, entre outros benefícios “uma maior otimização dos processos e fatores de produção; a intensificação e sustentabilidade da agropecuária; a ciclagem de nutrientes no solo; a manutenção da biodiversidade; o aumento da renda líquida permitindo maior capitalização do produtor; redução da pressão pela abertura de novas áreas e a mitigação das emissões de gases causadores do efeito estufa”.

Etapas do projeto

Moagem da forragem para análise bromatológica

O projeto foi dividido em três etapas, em diferentes linhas de pesquisa. Na primeira, estão sendo avaliadas diferentes culturas, espécies e arranjos florestais em sistema de ILPF para fase de recria da pecuária de corte e a viabilidade econômica dos sistemas avaliados. A ideia é desenvolver o melhor arranjo de integração lavoura-pecuária-floresta, tendo como foco a fase de recria da bovinocultura de corte. A proposta visa à introdução de diferentes espécies florestais com potencial madeireiro (cedro australiano, cedro indiano, mogno africano, pinus, eucalipto e baru) em consórcio com dois diferentes manejos da integração lavoura-pecuária (soja + forrageira e milho silagem + forrageira).

Na segunda etapa serão avaliados diferentes sistemas de implantação de arranjos florestais em pastagem e efeitos do sombreamento natural sobre a saúde e produção de vacas em lactação e qualidade do leite e queijo minas frescal. Nesta fase, a pesquisadora explica que o objetivo é viabilizar a arborização das pastagens com eucalipto, devido ao seu crescimento rápido. É proposto um trabalho com a utilização de plantio de mudas em grupos adensados. A pesquisadora destaca que este agrupamento visa proteger a muda central, evitando assim danos causados pelos animais a essa muda central. Serão avaliados nesse experimento, dados morfológicos, (altura e diâmetro) da planta central, os parâmetros fisiológicos das mesmas. A partir do segundo ano, será avaliado o efeito do sombreamento natural sobre parâmetros fisiológicos, sanguíneos, produção, composição e frações de caseínas do leite, rendimento e qualidade de queijos minas frescal oriundos de leite obtido a partir de vacas submetidas ou não ao sombreamento natural na pastagem.

A terceira etapa do projeto vai avaliar diferentes sistemas para produção intensiva de forragem no sistema de integração lavoura pecuária. Nesta fase serão avaliados três subprojetos envolvendo produção de milho para silagem rotacionado com pastagem. A silagem produzida nesta etapa do projeto será fornecida, no período seco, para as vacas em lactação, as quais estão inseridas na segunda etapa deste projeto.

A pesquisadora explica que, no primeiro subprojeto o objetivo será avaliar a utilização do biofertilizante proveniente de dejetos da produção suinícola em substituição e/ou associação à adubação mineral na cultura do milho (silagem e grãos) e pastagem no sistema de integração lavoura pecuária. No segundo subprojeto o objetivo será avaliar a eficiência agronômica e econômica de diferentes sistemas de exploração de milho cultivado para silagem. No terceiro subprojeto serão conduzidos oito ensaios, em campo, nos quais se adotará duas cultivares forrageiras consorciadas com milho e serão avaliadas oito doses crescentes de herbicidas.

O edital

Jakeline ressalta a importância do PDCTR, que vai “fomentar e proporcionar a investigação de meios que possam resultar no aumento da produção de grãos e produtos de origem animal devido ao aumento da eficiência de utilização do uso da terra”.

Com o Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional, a Fapeg busca reduzir as desigualdades regionais e estimular a mobilidade e a fixação de doutores com experiência em ciência, tecnologia e inovação e/ou reconhecida competência profissional em instituições ou empresas, públicas ou privadas, de ensino superior (IES) e/ou de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTI) para atuarem no Estado de Goiás.

O PDCTR atua em duas vertentes: Regionalização: caracterizada pela atração de doutores de outras regiões do país e de outros países para instituições de ensino superior e/ou pesquisa localizados na Região Metropolitana de Goiânia ou no município de Anápolis; e Interiorização: caracterizada pela atração de doutores para instituições acadêmicas e institutos de pesquisa localizados fora da área metropolitana de Goiânia e fora do município de Anápolis (permitida a concessão de bolsa a doutor formado e/ou radicado no estado de Goiás).

Tornar Goiás referência em ILPF

O projeto pretende, também, ampliar o diálogo da comunidade científica com produtores e com a sociedade como um todo. E ainda, estabelecer grupo de pesquisa de referência em ILPF, dando suporte ao processo de extensão tecnológica para áreas produtivas comerciais no Cerrado.

Parte da equipe da pesquisa e a coordenadora do projeto

Os trabalhos vão colaborar com a formação intelectual dos alunos do Curso Técnico em Agropecuária, graduação, mestrandos e doutorandos envolvidos dos cursos de Zootecnia, Engenharia de alimentos e Agronomia do IF Goiano. A pesquisadora explica que seu projeto está inserido em um projeto institucional de ILPF do Instituto Federal Goiano, de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que tem como objetivo tornar o estado de Goiás referência na utilização de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta com a implantação de Unidades de Ensino, Pesquisa e Extensão com essa tecnologia em alguns municípios goianos. “Pretendemos com o projeto, melhorar a produtividade das unidades de produção e consolidar o IF Goiano como polo de pesquisa e inovação em sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta”, destaca. A equipe pretende realizar eventos de extensão com o intuito de difundir os sistemas desenvolvidos aos demais produtores da região.

Também é objetivo dos pesquisadores, formar recursos humanos de qualidade que terão experiência em sistemas integrados de produção. “Estes profissionais terão uma visão multidisciplinar e holística dos sistemas de produção, os quais têm sido intensamente requisitados pelo setor produtivo. E está ainda entre as nossas metas, realizar a publicação dos resultados em revistas científicas, contribuindo para consolidação dos programas de pós-graduação do IF Goiano”, explica a pesquisadora.

Assessoria de Comunicação Fapeg. Texto: Helenice Ferreira. Fotos: Arquivo da pesquisadora.

Governo na palma da mão

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