Estudo financiado pela Fapeg investiga relação entre doença causada por fungos e alteração genética
Selecionada no edital do PPSUS, pesquisa investiga se uma pessoa que foi diagnosticada com a micose Paracoccidioidomicose (PCM) tem uma alteração no gene chamado CHIT1. Objetivo é contribuir para um tratamento mais eficiente.
Letícia Santana, da Assessoria de Comunicação da Fapeg
Frieira e candidíase são as micoses mais popularmente conhecidas, mas há outras infecções causadas também por fungos que merecem atenção, como por exemplo, a Paracoccidioidomicose, ou de forma abreviada, PCM. Segundo o Ministério da Saúde, a PCM representa uma das dez principais causas de morte por doenças infecciosas e parasitárias, crônicas e recorrentes, no país, sendo prevalente nos países da América Latina, incluindo o Brasil. Para entender melhor sobre esta infecção, um estudo tem sido realizado em Goiás pelo pesquisador André Corrêa Amaral, da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Selecionado na sétima edição do edital do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS), executado no estado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), o projeto de pesquisa tem o objetivo de investigar se uma pessoa que foi diagnosticada com PCM tem uma alteração no gene chamado CHIT1.
O pesquisador explica que ao ser contaminado pelo fungo da PCM, o ser humano é capaz de desenvolver mecanismos para combatê-lo, produzindo uma enzima chamada quitotriosidase, capaz de digerir estruturas presentes na célula do fungo, como a quitina. E esta quitotriosidase é produzida no organismo a partir da informação genética contida no gene chamado CHIT1. “Em algumas pessoas, a alteração neste gene leva a perda da atividade eficiente desta enzima e pode comprometer os mecanismos de defesa para combater a infecção pelo fungo. O que estamos investigando é se uma pessoa que foi diagnosticada com a infecção fúngica Paracoccidioidomicose tem esta alteração genética”, diz.
Em colaboração firmada com o Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), em Goiânia, o pesquisador e equipe coletarão amostras de sangue de pacientes com diagnóstico confirmado para a PCM, caso concordem em participar da pesquisa. “Não há um limite de pacientes que incluiremos no estudo, pois quanto maior o número de pessoas investigadas, maior será a confiança do estudo”. No momento, os cientistas estão em contato com os pacientes que estão em tratamento ou que já receberam alta.
Como resultado da pesquisa, o objetivo é contribuir para um tratamento mais eficiente contra a PCM. “Atualmente, não há um estudo sobre uma correlação entre o polimorfismo no gene CHIT1 e a PCM. Se os nossos dados indicarem que há uma maior prevalência de pessoas que têm a PCM e que também têm a alteração genética no gene CHIT1, o médico poderá optar por um tratamento mais eficiente e que é mais caro, porém trará resultados melhores e acarretará menor toxicidade para o paciente. Por outro lado, indivíduos que não têm esta alteração, poderão ser tratados com um medicamento de menor custo para o SUS”, ressalta.
A doença
Mas, afinal, como se contrai essa doença fúngica? A Paracoccidioidomicose (PCM) é uma micose causada por fungos do gênero Paracoccidioides spp. Este fungo, quando presente no meio ambiente se alimenta de matéria orgânica no solo. Conforme explica André, no seu ciclo de vida, este fungo produz estruturas muito pequenas chamadas de conídios que, encontrando condições adequadas, dão origem a uma célula fúngica.
“Como ele está presente no solo e é de difícil identificação, pessoas que remexerem este solo contendo os conídios, podem fazer com que estas estruturas permaneçam no ar e sejam inaladas. Uma vez no pulmão da pessoa, este conídio se transforma em uma célula chamada de levedura e ocorre então o estabelecimento da doença”, explica André.
Segundo informações do Ministério da Saúde, a maioria dos indivíduos que adoeceu com a PCM apresenta história de atividade agrícola exercida nas duas primeiras décadas de vida. O pesquisador André acrescenta que também já foram relatados casos em que operários trabalhando na construção de túneis ou estradas se contaminaram pelo fungo, pois houve a derrubada da vegetação e a movimentação do solo.
Como a principal porta de entrada do fungo no organismo é por via inalatória, os órgãos comumente afetados são os pulmões (50%-100%), seguidos da pele, mucosas, linfonodos, adrenais, sistema nervoso central, fígado e ossos. “Tendo em visa que a PCM acomete principalmente os pulmões, o quadro clínico pode comprometer a vida do indivíduo de diferentes maneiras, incluindo o aspecto econômico, uma vez que está em um momento mais produtivo”, destaca o pesquisador.
PPSUS
O projeto do pesquisador André Corrêa Amaral foi selecionado na sétima edição do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS). Este programa é executado em Goiás pela Fapeg e conta com a parceria do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (Decit/SCTIE) do Ministério da Saúde; do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Secretaria de Estado da Saúde (SES).
O investimento total nesta Chamada Pública foi de R$ 2.137.500,00 para apoiar financeiramente e fortalecer as pesquisas científicas, tecnológicas ou de inovação que tenham potencial para oferecer novos serviços e dar respostas a problemas prioritários de saúde enfrentados pela população usuária do SUS, além de estimular o ensino, pesquisa, extensão e educação em saúde, colaborando com a formação de recursos humanos qualificados. Os trabalhos foram iniciados em 2021 e se estenderão até meados de 2023.
Segundo o pesquisador André, os resultados da sua pesquisa selecionada no PPSUS poderão contribuir para um tratamento mais eficiente contra a PCM. Esta micose foi descrita pela primeira vez em 1908 por Adolfo Lutz. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, as micoses sistêmicas, como a PCM não são doenças de notificação, portanto não se dispõe de dados precisos sobre sua incidência. Assim há uma baixa divulgação da doença e suas consequências. “Somente recentemente (2020) que a PCM passou a incluir a lista de agravos e doenças de notificação compulsória. O fato de não ser obrigatória a sua notificação pode contribuir também para a baixa divulgação”. Ele acrescenta que a confusão no diagnóstico com outras infecções pode gerar um tratamento não tão eficiente e isso resulta em poucas informações sobre a PCM.