Especial PPSUS: Tratamento de úlceras venosas com alta taxa de sucesso em Goiás

Da esquerda para a direita: Dra Suelen Gomes Malaquias (professora da UFG), Aline Antonelli Meira (enfermeira da SMS, mestranda na UFG), Paulla Guimarães Melo (nutricionista, doutoranda na UFG), Cynthia Assis de Barros Nunes (enfermeira da SMS, doutoranda na UFG), Dra Maria Márcia Bachion (professora da UFG, coordenadora da equipe) e Geovanka Sousa Paixão (enfermeira voluntária no projeto). Foto: Arquivo pessoal.

Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg

Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) desenvolveram dois tratamentos para úlcera venosa que apresentaram significativos resultados. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em Goiânia, a estimativa, em média, é que após seis meses de tratamento das úlceras venosas a taxa de feridas cicatrizadas seja de aproximadamente 20%. Como resultados da pesquisa, a cicatrização das úlceras tem ocorrido de 55% a 70%, em até seis meses.

Os tratamentos desenvolvidos pelos pesquisadores combinam a educação em saúde, suplementação nutricional, atadura compressiva e exercícios com as pernas e curativos com produtos de baixo custo.

Úlcera venosa
A coordenadora da pesquisa, doutora Maria Márcia Bachion, explica que estas feridas ocorrem nas pernas devido a problemas na circulação venosa e geram sofrimento para os pacientes, porque infeccionam facilmente, causam dor e desconforto, com a observação de secreção excessiva, que às vezes pode ter odor fétido. “Como consequência, as pessoas podem ter dificuldade para dormir, para alimentar-se e para andar. Com o tempo, podem ter limitações para movimentar as articulações dos tornozelos e dos pés. Precisam de curativos constantes, assim, não podem viajar e deixam de realizar atividades de lazer”, explica a enfermeira Cynthia Assis de Barros Nunes, que também integra a equipe. O tratamento pode custar caro, geralmente é demorado, levando até mais de um ano para se obter a cicatrização destas feridas, que podem voltar.

A pesquisa
A cicatrização depende de vários fatores. A equipe coordenada pela professora Maria Márcia Bachion, formada por enfermeiras, nutricionistas e fisioterapeuta, desenvolveu uma pesquisa testando dois tratamentos. O atendimento tem sido realizado em duas salas que foram disponibilizadas no Centro de Atenção Integrada à Saúde (Cais) de Campinas, em Goiânia.

Os pacientes, cerca de 40 pessoas, foram divididos em dois grupos. Todos participaram de um programa de educação em saúde; receberam orientações sobre a necessidade de caminhada diária e repouso com as pernas elevadas por 20 a 30 minutos, três vezes ao dia; foram treinados para fazer exercícios com as pernas, três vezes ao dia, para fortalecer a musculatura, e receberam aplicação de atadura compressiva para promover a circulação do sangue nas veias e evitar inchaço, além de suplementação nutricional (duas a três doses, dependendo do tamanho das lesões). “Tudo isso num clima de acolhimento e vínculo para favorecer a adesão ao tratamento”, conta a nutricionista Paulla Guimarães Melo.

A Dra. Maria Márcia Bachion explica que apenas o curativo da úlcera foi realizado de modo diferente. Um grupo foi tratado com limpeza da lesão com soro fisiológico aquecido, aplicação de polihexanida biguanida por 15 minutos, cobertura com hidrogel e gaze de rayon, seguido de enfaixamento e aplicação de bandagem elástica. O outro foi tratado da mesma forma, só que a cobertura da lesão foi feita com papaína em concentração de acordo com a quantidade de tecido desvitalizado presente na ferida. Quando as feridas apresentavam apenas tecido avermelhado, conhecido como granulação, o tratamento passou para uso de Bota de Unna (terapia contensiva), com uma diferença entre os grupos: apenas aqueles em tratamento à base de hidrogel usavam uma membrana de celulose além da Bota de Unna.

Paciente com 64 anos, sexo feminino, úlcera com três semanas de duração, cicatrizou em 16 semanas.

Os resultados
“Já se sabia que cada uma destas ações isoladas tinha efeitos positivos, mas não se conhecia o efeito de sua combinação para promover o alívio da dor nas pernas e na ferida, a melhora da qualidade de vida e de autopercepção da saúde, além da cicatrização propriamente dita”, revela a Dra Suelen Gomes Malaquias, enfermeira que atua na equipe com a professora Maria Márcia Bachion.

Entre os principais resultados da pesquisa obteve-se que, no grupo tratado com o curativo que incluiu a papaína, a cicatrização de 70% das feridas foi realizada em até seis meses, e, no outro, que recebeu o curativo com o hidrogel, a cicatrização ocorreu em 55%.

Outros resultados observados nos pacientes e que não estavam previstos na investigação foram registrados, conforme revela a coordenadora da equipe. Há relatos de melhora da qualidade do sono, melhora no estado de humor, ampliação do círculo de interações sociais, aumento da autoestima, aumento do nível de atividade física, melhora da disposição geral e da capacidade de andar e de movimentar as pernas.

Paciente 60 anos com úlcera venosa
Paciente do sexo feminino, 60 anos, com úlcera venosa com duração de 10 meses, cicatrizada em sete semanas.

Trabalho desperta interesse
A pesquisadora Maria Márcia Bachion conta que, ao longo do tempo, o local da pesquisa (salas de curativos do Cais de Campinas) passou a atrair profissionais de saúde de outras cidades e de outros serviços, que buscavam qualificar-se para atender esse grupo populacional, “e assim a equipe de pesquisa passou a se configurar como facilitadores para a incorporação dos conhecimentos e tecnologias testadas para outros cenários de atendimento”.

Os pesquisadores consideram que esta proposta é ao mesmo tempo simples, abrangente e sustentável, e pode ser aplicada no SUS, desde que se tenha uma equipe de profissionais bem preparados e que não haja descontinuidade no suprimento dos produtos. Ressalvam que a abordagem terapêutica de pessoas com úlceras venosas vai além dos curativos e atribuem ao sucesso dos resultados o uso combinado das terapias, que agregam saberes de várias áreas da saúde. A equipe também destaca o importante papel da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapeg) na indução de pesquisas no Estado de Goiás, que estimulam a parceira entre universidades, instituições de saúde e empresas como a que forneceu parte do suplemento nutricional usado no estudo.

PPSUS: Gestão Compartilhada
A pesquisa, intitulada Efetividade de tecnologias interdisciplinares e multidimensionais na cicatrização de úlceras venosas, dor nas pernas e autoavaliação de saúde e qualidade de vida dos usuários num período de seis meses de seguimento na atenção primária é uma entre as 29 selecionadas pela chamada pública 12/2013 no âmbito do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS): Gestão Compartilhada. O PPSUS tem por objetivo apoiar atividades de pesquisa científica, tecnológica ou de inovação que promovam a formação de recursos humanos qualificados e que possam colaborar para a melhoria da qualidade de atenção à saúde no contexto do SUS.

A chamada é uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) com o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Maria Márcia Bachion é professora titular na Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás; líder do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Tecnologias de Avaliação, Diagnóstico e Intervenção em Enfermagem e Saúde (Nutadies) da UFG, e coordenadora da Rede Goiana de Pesquisa em Avaliação e Tratamento de Feridas, que envolve a Universidade Federal de Goiás (UFG), Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG) e Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer).

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