Especial PPSUS: Monitoramento para infecção por citomegalovírus reduz a zero o índice mortalidade de transplantados no Araújo Jorge

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Foto: Arquivo pessoal.

Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg

Vinte e um pacientes que foram submetidos a transplantes de células progenitoras hematopoiéticas do tipo alogênico, no Hospital Araújo Jorge, em Goiânia, foram acompanhados com o objetivo de se fazer o monitoramento da infecção por Citomegalovírus humano (HCMV). A implementação do monitoramento promoveu uma significativa queda da toxicidade hematológica dos pacientes e queda no custo do tratamento, em razão de menor uso do ganciclovir (antiviral). O índice de mortalidade de pacientes antes do acompanhamento, que era elevado, de janeiro de 2016 até o 100º dia após o transplante dos pacientes foi zero.

O Estudo prospectivo de reativação de citomegalovírus em pacientes submetidos a transplante alogênico de células progenitoras hematopoiéticas: comparação entre a detecção do DNA viral por três metodologias – PCR, PCR em tempo real e antigenemia (antígeno PPG5) foi o tema da pesquisa coordenada pela professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Menira Borges de Lima Dias e Souza, com a participação da aluna de mestrado Francielly Pinheiro da Silva Borges. O monitoramento para a infecção por CMV era feito desde o período pré-transplante (cinco dias antes do transplante) até um ano após o transplante, de junho de 2014 a dezembro de 2015. O monitoramento foi feito utilizando três diferentes metodologias a fim de determinar a mais sensível e o melhor tipo de amostras clínicas para a detecção de infecção ativa por CMV.

Transplante
As células progenitoras são encontradas por todo o corpo e podem ser definidas como uma população de células indiferenciadas capazes de autorrenovação indefinida e geração de uma progênie de células altamente especializadas. Menira Souza explica que o transplante destas células progenitoras hematopoiéticas (TCPH) tornou-se um padrão de tratamento para doenças hematológicas malignas, doenças congênitas ou adquiridas do sistema hematopoiético, e também é aplicado como uma opção terapêutica em alguns tumores sólidos. Atualmente, o transplante também é realizado para novas indicações, tais como doenças autoimunes e alterações metabólicas hereditárias.

Segundo a coordenadora da pesquisa, o transplante pode ser dividido em dois tipos: o autólogo (AutoTCPH), em que o paciente doa as células progenitoras da medula para si mesmo; e um processo mais complexo e elaborado de transplante, o tipo alogênico (AloTCPH), no qual o paciente recebe o enxerto de células progenitoras a partir de um doador compatível. De acordo com o Registro Europeu de Transplantes de Células Progenitoras Hematopoiéticas, em 2012, de todos os TCPH realizados, pelo menos 42% foram do tipo alogênico.

Leucemia mieloide aguda e leucemia linfoblástica aguda são as indicações mais comuns para AloTCPH, seguidas por síndrome mielodisplástica, neoplasias mieloproliferativas e síndrome de falência da medula óssea. Outras indicações menos comuns para o transplante alogênico incluem linfoma, mieloma e doenças hematológicas como anemia aplástica e talassemia, explica a professora.

As células progenitoras utilizadas nos transplantes podem ter origem na medula óssea, sangue periférico ou cordão umbilical. Células progenitoras do sangue periférico são utilizadas para transplante alogênico e tem gradativamente substituído as células da medula óssea como fonte de CPH utilizada para AutoTCPH.

Célula infectada por citomegalovírus. Foto: Centers for Disease Control and Prevention’s Public Health Image Library (PHIL).

Infecção por Citomegalovírus
Menira Souza explica que, dentre as intercorrências que podem afligir as pessoas submetidas a transplantes destacam-se as infecções virais, que são atualmente uma das principais causas de morbidade e mortalidade nesta população. A infecção por citomegalovírus humano (HCMV) é uma complicação frequente em pacientes imunocomprometidos com imunidade celular prejudicada, incluindo pacientes com neoplasias hematológicas e os receptores de transplante.

Apesar dos avanços que têm ocorrido quanto ao monitoramento da infecção e tratamento, a coordenadora da pesquisa afirma que esta continua a ser uma importante e frequente complicação após a realização do TCPH. Infecção por citomegalovírus humano passou a ser considerada um dos principais agentes virais em hospedeiros imunocomprometidos. Na década de 80, foram iniciados tratamentos (uso de antivirais) e intervenções imunológicas específicas para o HCMV e, atualmente, as pesquisas são voltadas para um melhor entendimento desta virose, os aspectos moleculares da infecção, tendo como foco principal os indivíduos que foram submetidos a algum tipo de transplante.

O HCMV pertence à família Herpesviridae, subfamília Betaherpesvirinae e gênero Cytomegalovirus. Este agente é também denominado Herpesvírus Humano 5 (HHV-5) em razão de seu genoma ser composto por DNA dupla-fita e partícula ser semelhante estruturalmente a outros herpesvírus. O HCMV é espécie-específico, considerando a replicação e patogênese viral infectando, portanto, somente humanos.

O HCMV pode ser transmitido a um indivíduo susceptível por meio do contato com urina, saliva, sêmen e outros fluidos corporais de indivíduos infectados; pelo transplante de órgãos infectados; transplante de células precursoras da linhagem hematopoiética com o vírus latente; pela via vertical (transmissão da mãe para o filho durante a gestação, parto ou amamentação); pela via parenteral (principalmente através de transfusão sanguínea); e através de fômites (objetos infectados).

Um termo abrangente que pode ser utilizado para caracterizar indivíduos cujas amostras clínicas são positivas para HCMV é “infecção ativa pelo HCMV”, que é definida pela literatura como a detecção do HCMV a partir de sangue total e/ou seus derivados (soro, pellet e plasma) em um paciente negativo para anticorpos anti-HCMV (infecção primária) ou em um paciente positivo para anticorpos anti-HCMV (infecção secundária por reativação do vírus latente ou por reinfecção com outra estirpe de HCMV).

No estudo coordenado pela professora Menira, a infecção por CMV foi avaliada a partir de amostras de sangue de pacientes transplantados com o objetivo de comparar a detecção e quantificação viral por ensaios de antigenemia (pp65), Nested-PCR e PCR em tempo real quanto à sensibilidade, especificidade e custo-benefício; para estimar a carga viral adequada para dar início ao tratamento preemptivo dos pacientes monitorados; comparar os dados obtidos entre os dois tipos de amostras utilizados e fornecer subsídios que auxiliassem na implementação do teste na rotina de exames dos pacientes; explica a professora Menira.

O Hospital Araújo Jorge é uma unidade de saúde privada e filantrópica. Atende, em média, 80% dos pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de todas as idades, oferecendo tratamento para todos os tipos de cânceres, sendo considerado centro de referência no tratamento da doença no Centro-Oeste, mas também atende pacientes de outras regiões brasileiras, especialmente Norte e Nordeste (Acre, Pará, Rondônia, Tocantins, Bahia). O trabalho de pesquisa se justifica em razão de que exames para a pesquisa de infecção ativa por Citomegalovírus (antigenemia, Nested-PCR ou PCR em tempo real) não fazem parte da tabela do SUS, ficando, portanto, o monitoramento para a infecção por CMV a cargo de cada centro de transplante.

Para a realização do estudo foi estabelecida parceria com o Laboratório de Virologia Humana do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás e o Hospital Araújo Jorge. Esta parceria resultou em um projeto de extensão relacionado, gerando benefícios para os pacientes atendidos no Hospital, bem como no desenvolvimento de outros projetos relacionados ao monitoramento de outros vírus na população de transplantados, comenta a professora Menira Souza.

A coordenadora do estudo espera que “os resultados obtidos com a pesquisa possam fornecer subsídios para que a triagem da infecção por CMV, bem como por outros vírus, seja incluída na rotina de exames dos pacientes em um futuro próximo, o que poderá auxiliar na conduta clínica e resultará em um melhor prognóstico para o paciente”.

Resultados
Os resultados da pesquisa revelam elevado índice de infecção ativa por Citomegalovírus em pacientes submetidos a transplantes de células progenitoras hematopoiéticas do tipo alogênico. A infecção por CMV foi identificada por pelo menos uma das três metodologias em 95,3% dos pacientes, ou seja 20 dos 21.

Quando o tipo de amostra testada e metodologia utilizada, os resultados revelam que maiores cargas virais foram detectadas em amostras de pellet, quando comparadas às amostras de soro. Maior sensibilidade do qPCR em relação ao Nested-PCR. Os resultados indicam ainda que, o pellet seria a amostra de escolha para o monitoramento da infecção por CMV, independente da metodologia molecular de escolha. Elevada positividade pré-transplante e maior sensibilidade da AGM e qPCR quando comparada ao Nested-PCR e, finalmente, a concordância entre as técnicas de AGM e qPCR foi considerada boa e a qPCR teve sensibilidade avaliada em 100%, enquanto que a concordância entre a AGM e Nested-PCR moderada.

Produtos gerados
O projeto de pesquisa resultou em uma dissertação de mestrado defendida e aprovada em abril do ano passado; em um projeto de aluno bolsista de iniciação científica – PIBIC (concluído) e de um aluno voluntário – PIVIC (concluído); um PIBIC (em andamento).

E ainda, apresentações de resultados preliminares em eventos científicos regionais, nacionais e internacionais com publicações de resumos em anais dos congressos (Congresso Brasileiro de Virologia de 2015, Seminário do IPTSP 2015, congresso da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea de 2014) e dos resultados finais (Congresso Brasileiro de Virologia em 2016, CONPEEX 2016; Congresso Brasileiro de Virologia em 2017); um artigo científico que foi submetido para publicação e outro já publicado: Santos et al. Detection of Human Adenovirus (Species -C, -D and –F) in an Allogeneic Stem Cell transplantation recipient: a case report. Rev. Bras. Hematol Hemoter. 2017 ; 39(1):60-62.

O trabalho resultou também em um projeto de extensão cadastrado na Proec/UFG (participação de alunos de Pós-graduação e de graduação )no estabelecimento de parceria com o Hospital Araújo Jorge para o monitoramento de outros vírus na referida população, sendo que o Araújo Jorge arca com os custos dos ensaios e o Laboratório de Virologia faz os exames.

O projeto de pesquisa foi selecionado pela Chamada Pública nº 12/2013 no âmbito do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS): Gestão Compartilhada, com outras 28 propostas. O PPSUS tem por objetivo apoiar atividades de pesquisa científica, tecnológica ou de inovação que promovam a formação de recursos humanos qualificados e a melhoria da qualidade de atenção à saúde no contexto do SUS. A chamada é realizada pela parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) com o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A coordenadora da pesquisa
Menira Borges de Lima Dias e Souza é professora de Virologia na graduação e Pós-Graduação, lotada no DMIPP/IPTSP/UFG. A professora é ainda coordenadora, já no segundo mandato, do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro do IPTSP. Possui graduação em Biomedicina pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (1996), mestrado em Medicina Tropical pela Universidade Federal de Goiás (2001) e Ph.D pela The Ohio State University (2007), com bolsa Doutorado Pleno da Capes. Tem experiência de pesquisa na área de Microbiologia, com ênfase em Virologia, atuando principalmente nos seguintes temas: perfil molecular e avaliação da carga viral de vírus gastroentéricos (adenovírus, norovírus, sapovírus, rotavírus) e citomegalovírus em diferentes populações (crianças, indivíduos imunocomprometidos), resposta imune a agentes virais, uso de animais de laboratório (porcos e vacas gnotobióticos) para o estudo da patogênese viral e resposta imune aos vírus. Endereço para acessar CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/0054562567103606

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Governo na palma da mão

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