Comunicação da ciência desperta interesse de pesquisadores de Goiás

Túlio, semifinalista famelabHelenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg

“O brasileiro gosta de ciência, desde que ele entenda o que está sendo dito e note a relevância do que está sendo discutido para sua realidade ou para a sociedade como um todo”. A opinião é do cirurgião-dentista, mestre e doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Odontologia na Universidade Federal de Goiás (PPGO/UFG), Túlio Nogueira. O pesquisador ficou entre os 30 semifinalistas no FameLab, uma das maiores competições de comunicação científica do mundo, realizada em 32 países pelo British Council, que tem como objetivo facilitar o entendimento público dos conceitos complexos do campo científico desenvolvendo competências em comunicação e aproximando a ciência da sociedade.

Também semifinalista no concurso, Karolline Viana, cirurgiã-dentista, especialista em Saúde Materno-Infantil, mestre em odontologia pelo PPGO/UFG e doutoranda em Odontologia tem o mesmo entendimento. “A ciência, no geral, existe para ajudar as pessoas, logo ciência e sociedade devem estar sempre juntas. É através da comunicação que a ciência pode perceber e atender as demandas da sociedade, auxiliar na solução de problemas e demonstrar como a ciência se faz presente no dia a dia das pessoas, daí a grande importância do FameLab”. Os dois pesquisadores são do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFG e foram os únicos semifinalistas selecionados do Estado de Goiás.karolline semifinalista no famelab

Legado do FameLab
Para Karolline e Túlio, bolsistas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), o grande legado do FameLab foi o aprendizado de competências em comunicação científica por meio da contextualização e abordagem, o aprimoramento da habilidade oral, que foi útil para o concurso e para a carreira acadêmica como um todo, e a motivação que receberam para continuar divulgando a ciência para a sociedade. “Não podemos mais ficar restritos ao ambiente das universidades, fechados fazendo pesquisas e divulgando pesquisas apenas entre pesquisadores. A aproximação é benéfica tanto para a população quanto para os pesquisadores,” diz Karolline.

Túlio acrescenta que pretende, a partir destas reflexões, iniciar novos projetos no sentido de aproximar a população da ciência. “Creio que devemos nos conscientizar da importância dessa interação e, assim desenvolver estratégias que permitam essa aproximação e conexão, sendo o FameLab uma ótima forma de induzir este começo e quebrar o gelo”.

Estudo confirma gosto do brasileiro pela ciência
Em março deste ano, foi divulgado o Índice Anual da Situação da Ciência – um estudo global feito pelo Instituto 3M em 14 países, incluindo o Brasil – com o objetivo de conhecer o que o público em geral pensa e sente sobre ciência e seu impacto no mundo. O estudo confirma o que os pesquisadores Túlio e Karolline afirmaram: o brasileiro gosta de ciência, mas gostaria de saber mais sobre o assunto. Segundo o estudo, a palavra “ciência” deixa 94% dos brasileiros esperançosos e 6% desencorajados; 88% fascinados e 12% entediados e 52% gostariam de saber mais sobre ciência. 90% acreditam que a ciência impulsiona a inovação; 85% concordam que a ciência melhora o mundo, porém 74% dos entrevistados acreditam que o Brasil não acompanha o desenvolvimento de outros países quando se trata de avanços científicos.

Apoio
Para os dois, o apoio recebido da Fapeg para o evento foi essencial para o deslocamento até o Rio de Janeiro (Museu do Amanhã) e proporcionou a possibilidade de atuarem como multiplicadores da comunicação científica no Estado de Goiás. Já a presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), Maria Zaira Turchi, ressaltou a consolidação do FameLab que recebe participantes cada vez mais qualificados e preparados para a difusão da ciência para a sociedade. “Todos os participantes trouxeram para o evento um elevado nível de excelência em suas apresentações, o que mostrou a qualidade das pesquisas e do trabalho de comunicação desses pesquisadores”, considerou.

A competição
Para concorrer, o interessado precisava ser pesquisador (bolsista ou não) e gravar um vídeo, em português e inglês, de três minutos em cada idioma, sem uso de edição ou dispositivos eletrônicos, com carisma, conteúdo e clareza para explicar um conceito científico ou tecnológico e mostrar sua importância ou impacto na vida cotidiana. Fazer uma apresentação atrativa para o público, traduzindo jargões científicos e termos técnicos em uma linguagem acessível, porém sem ser muito simplista a ponto de banalizar a ciência foi o maior desafio de Karolline. Ela, que também foi semifinalista na edição de 2017 do FameLab, afirma que em nenhuma das duas edições imaginou que pudesse ser selecionada. “Comunicar ciência em uma linguagem acessível sempre foi um grande desafio para mim, mas após os treinamentos oferecidos, houve uma melhora substancial em minha habilidade de comunicar”, revela a pesquisadora.

trinta semifinalistas
Trinta semifinalistas

Foram 119 inscritos, sendo 30 selecionados para a semifinal e depois outros 11, para a final. Todo o processo de seleção foi feito no Museu do Amanhã, de 23 a 27 de abril, em diferentes etapas. Neste ano, os participantes tiveram a oportunidade de participar de masterclass com experts em comunicação científica, da Inglaterra e do Brasil.

O FameLab foi lançado em 2005 pelo Festival de Ciência de Cheltenham, na Inglaterra e esta foi a terceira edição do concurso realizada no Brasil. Contou com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), por intermédio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap); e das Fundações de Amparo à Pesquisa dos Estados da Bahia (Fapesb), Espírito Santo (Fapes), Goiás (Fapeg), Maranhão (Fapema), Minas Gerais (Fapemig), Paraná (Fundação Araucária), Santa Catarina (Fapesc), São Paulo (Fapesp) e Sergipe (Fapitec); e do Museu do Amanhã.

                                                                                                  As apresentações
túlio nogueiraNo vídeo de inscrição, Túlio explicou conceitos científicos relacionados à pesquisa que está realizando em seu doutorado, a qual é um estudo clínico alinhado à análise econômica de custo-efetividade. Neste estudo, ele avalia uma alternativa de tratamento simplificada com uso de implante dentário para pacientes desdentados totais que possuem dificuldade de uso da dentadura inferior. No vídeo ele contextualiza os problemas enfrentados por pacientes nesta situação e sugere o tratamento da dentadura associada ao uso de um único implante colocado na região média do queixo, com o intuito de firmar a dentadura inferior. Túlio e seu grupo de pesquisa, liderado pelo Prof. Dr. Cláudio Rodrigues Leles (UFG) esperam obter evidências científicas que justifiquem e encorajem a inserção deste tratamento no SUS. Na semifinal, o foco da apresentação ficou em um único conceito científico: osseointegração de implantes dentários. Além de estar cursando doutorado, Túlio atualmente está na fase final de sua especialização em Implantodontia. Ele atua na linha de pesquisa “Avaliação de condutas clínicas em Odontologia”, com ênfase em alternativas de tratamento com implante para pacientes desdentados totais.

O conceito científico que Karolline Viana apresentou foi células-tronco de origem dental e sua utilização para regeneração de estruturas perdidas. Ela justificou a escolha pelo tema porque as células-tronco obtidas dos dentes vêm sendo bastante pesquisadas e os resultados são promissores, e que por isso considerou ser um assunto de interesse para a sociedade em geral que despertaria a atenção e interesse. “Durante a minha apresentação, busquei definir as células-tronco, mostrar as vantagens de se obter as células-tronco do dente em vez de obter de outras estruturas do corpo, falar o que as pesquisas mostram e como armazenar essas células. Fiz uma analogia com o experimento do feijão, para explicar que, assim como o feijão precisa do algodão e da água para crescer, as células-tronco precisam de uma matriz para sustentá-las e de fatores de crescimento para se diferenciarem”, explica Karolline.

karollineDurante a fase da semifinal, ela fez uma metáfora com a “fada do dente”. “Expliquei que as células-tronco podem ser obtidas da polpa do dente de leite, e que é mais fácil obtê-las dos dentes que da medula óssea, por exemplo. Essas células-tronco podem dar origem a células que fazem parte do dente, do osso, das cartilagens, músculos e até do sistema nervoso, logo podem ajudar na recuperação de tecidos perdidos”. Karolline atua principalmente nos seguintes temas: odontopediatria, comportamento infantil, sedação em odontopediatria e amnésia induzida por sedativos.

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