Centro de Síntese é apresentado no Instituto Mamirauá
O termo simbiose define o fenômeno onde seres vivos de duas espécies diferentes associam-se por um longo período de suas vidas, em uma parceria que pode ser benéfica para ambos. Simbiose foi, também, o nome escolhido como referência para o Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose)- novo programa brasileiro que, por meio de uma abordagem interdisciplinar, quer estabelecer grupos de trabalho para processar os dados já coletados sobre a biodiversidade brasileira e colocá-los a serviço da sociedade, disponibilizando-os a autoridades e gestores ambientais.
O programa foi explicado à comunidade do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), em uma palestra proferida pela gerente de projetos do SinBiose, Marisa de Araújo Mamede, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), um dos parceiros da iniciativa. A palestra foi realizada na sede do instituto, em Tefé, Amazonas, na última quinta-feira (25), em meio às comemorações dos 20 anos da instituição.
O SinBiose é fruto de uma parceria entre o CNPq, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com apoio do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (CONFAP), que trabalhará articulando a participação de outras fundações estaduais. “O programa se propõe a financiar projetos de pesquisa diferenciados, chamados de projetos de síntese”, explica Marisa Mamede.
Tais projetos trabalharão com a extensa porção de dados coletados sobre a biodiversidade brasileira. “São projetos de pesquisa que não envolvem coleta de dados primários, mas vão reunir grupos de trabalho interdisciplinares, pesquisadores de diferentes disciplinas e também outros atores sociais, como gestores ambientais, tomadores de decisões e representantes de comunidades tradicionais, para trabalharem focados em um tema específico relacionado à biodiversidade”.
O retorno à sociedade
Apesar de utilizarem dados levantados no passado, o objetivo dos projetos, que durarão cerca de dois anos, é produzir conhecimento novo e socialmente relevante. Para Marisa, é imprescindível que o resultado das pesquisas “se reverta em alguma aplicação para a sociedade”.
A intenção é transbordar a produção científica para além do meio acadêmico, aproximando esses resultados da população em geral. “[O SinBiose] envolve a sociedade de uma forma ampla, gestores ambientais e tomadores de decisões”, conta a pesquisadora. “Vamos ter um cuidado especial na elaboração dos produtos que vierem desse conhecimento novo, para que não fique restrito à área acadêmica”.
As estratégias de conservação para a fauna e flora brasileiras dependem da produção científica para que sejam, de fato, efetivas. Para pensar a conservação de qualquer região, é fundamental que se conheça suas particularidades pelo olhar das diferentes áreas do conhecimento. “Queremos trazer perspectivas diferentes e integrá-las de forma a gerar uma coisa nova que seja benéfica para a sociedade”, afirma Marisa Mamede.
O projeto
A ideia dos centros de síntese já vinha sendo discutida pela comunidade científica nacional a partir de experiências bem-sucedidas em países da Europa, América do Norte e na China. Alguns desses centros internacionais abrigavam pesquisadores brasileiros em seus projetos de pesquisa. “Havia a vontade de trazer uma estrutura como essas para o Brasil, para trabalharmos aqui os nossos dados”, relata a cientista.
“Nós temos uma quantidade de conhecimento incrível sobre a biodiversidade, os ecossistemas, os processos e os impactos antrópicos que estão acontecendo. Esse conhecimento é gerado, mas tem uma circulação muito restrita dentro da comunidade acadêmica, em periódicos e algumas ações de divulgação científica. Esse material tem uma dificuldade muito grande de atingir os tomadores de decisão, os responsáveis pela gestão ambiental”.
Os centros de síntese se propõem a fazer a ponte entre o conhecimento acadêmico e a política. “A necessidade de produzir o conhecimento científico de forma que ele possa ter uma aplicação mais direta e mais efetiva na tomada de decisões sobre o meio ambiente foi uma motivação muito importante, tanto das agências de fomento quanto da comunidade científica, para colocar um centro de síntese em funcionamento no Brasil”, explica a pesquisadora.
Serviços Ecossistêmicos
Conceito que dá nome ao projeto, os serviços ecossistêmicos são as diversas contribuições da natureza ao planeta e aos seres humanos, como a provisão de água limpa, a regulação do clima, a boa qualidade do solo e a polinização. “É preciso enxergar essa realidade e aprender a trabalhar com isso para realmente produzir conhecimento que tenha uma conexão com a realidade. Quando falamos em serviços ecossistêmicos, falamos também das ciências sociais e de Economia”, conta Marisa.
“É importante ressaltar esse aspecto porque não se pode trabalhar com ecologia e biodiversidade e desconsiderar as populações humanas que estão nos locais, interagindo com esses ambientes naturais, mesmo em áreas protegidas. Não enxergar essa relação e os efeitos que ela produz é fechar os olhos para a realidade”, complementa.
A primeira chamada pública para projetos dentro do Sinbiose deve ser divulgada até o mês de agosto.
Texto e foto: Bernardo Oliveira/Instituto Mamirauá
Coordenação de Comunicação Social do CNPq