Centro de Excelência em Inteligência Artificial desenvolve plataforma para correção de redações na rede estadual
Ferramenta tem capacidade de corrigir textos em minutos e auxiliar estudantes na preparação para o Enem. “É importante ressaltar que a plataforma não substitui professor, vem para auxiliá-lo e permitir que ele tenha mais tempo para se dedicar aos alunos e nos seus pontos fracos na produção de textos”, comenta Robson Vieira, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás
Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação da Fapeg
Implantado numa parceria do Governo de Goiás com a Universidade Federal de Goiás (UFG), o Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia) entrega, até o final deste ano, uma plataforma de correção automática e de ensino de redação desenvolvida a partir da inteligência artificial. A ferramenta vai auxiliar os alunos da rede pública de ensino na preparação para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Ligado à UFG, por meio do Instituto de Informática, o Ceia foi criado em 2019, com apoio do governo estadual, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e Secretaria de Desenvolvimento e Inovação (Sedi). O objetivo é impulsionar descobertas científicas e encontrar soluções tecnológicas para que Goiás acompanhe a transformação que vem ocorrendo no mundo.
O diretor do Ceia e orientador do projeto da plataforma, professor doutor Anderson da Silva Sores, destaca que “a parceria para a concepção do Centro de Excelência em IA foi essencial para viabilizar soluções tecnológicas que auxiliem a resolver problemas comuns aos cidadãos. Foi possível evoluir pesquisas que careciam de apoio e suporte de modo a implantá-las em ambientes que as pessoas possam usufruir. A correção automática de redação é um claro exemplo nesse sentido”.
“É importante ressaltar que a ferramenta de IA para correções de redações não vem para substituir o professor, ela vem para auxiliá-lo e permitir que ele tenha mais tempo para se dedicar aos alunos e nos seus pontos fracos na produção de textos”, comenta o presidente da Fapeg, Robson Vieira.
A Secretaria da Educação, responsável pela execução da plataforma, também contribuiu no desenvolvimento, especialmente a parte pedagógica. A plataforma está em fase de testes de aceitação e adequação para os alunos, professores e gestores da rede pública, para que o projeto seja expandido, posteriormente, para toda a rede. “Temos capacidade de corrigir os textos de todos os alunos da rede pública e entregar as correções automatizadas no prazo de minutos”, diz Júlio Sousa, do curso de Sistemas de Informação, da UFG, um dos coordenadores do trabalho. O projeto piloto já está em produção e é capaz de fazer avaliação de textos em escala utilizando o sistema. Inicialmente, contempla duas escolas de Goiânia: o Colégio Estadual Jardim Europa e o Colégio Estadual Murilo Braga.
Treinamento da máquina
Para fazer o treinamento do sistema, Júlio Sousa conta que foi necessário que uma determinada quantidade de redações fossem avaliadas por professores. “Esses dados foram inseridos no sistema e nesse momento foi feito o aprendizado. A partir desse ponto, a solução é capaz de avaliar quantos textos forem necessários de maneira quase instantânea e isso é feito com base nas redações que foram corrigidas inicialmente”, explica.
Diferente de outras disciplinas, redação não possui gabarito. “A ideia de utilizar inteligência artificial é exatamente fazer com que o sistema aprenda, de maneira eficiente e imparcial, com base em redações corrigidas por professores humanos a avaliar textos de forma rápida e em escala e, com isso, entregar o mais próximo de um “gabarito” para as redações”, destaca.
Além de corrigir os textos, a plataforma disponibiliza o ensino da matéria para os alunos que se preparam para o Enem. A plataforma também contribuirá na formação de professores e coordenadores pedagógicos que estarão aptos a receber treinamentos específicos para a correção das redações no modelo Enem.
Como é um sistema adaptativo, sempre precisará ser melhorado e adaptado a novos temas e a novas realidades, “então o processo de desenvolvimento é constante”, explica Júlio Sousa. Em termos de implantação, ele destaca que até o final de 2020 o Ceia terá condições de implementar o sistema em toda a rede pública de Goiás.
A correção das redações pela plataforma analisa critérios como: a compreensão do tema, o domínio da escrita formal, a defesa do ponto de vista, o uso de mecanismos linguísticos para a argumentação da proposta e o respeito aos direitos humanos, de acordo com as competências exigidas pelo Enem. Após o aluno redigir o texto na plataforma, o sistema faz a correção e atribui a nota, automaticamente. Em seguida, o professor analisa a correção junto com o aluno para que ele possa reescrever o texto e encaminhá-lo para uma nova correção.
José Adenaldo Bittencourt, engenheiro de computação e orientado do professor Anderson Soares é o criador da pesquisa de mestrado que deu origem ao projeto. Ele destaca que na redação, diferente de outras disciplinas, o fator subjetivo sempre estará presente. “Prova disso é o processo de correção feito pelo próprio Enem, em que todas as redações são corrigidas por dois professores. Se a diferença na nota final atribuída por eles for maior do que 100 pontos ou se a diferença em qualquer uma das competências for maior do que 80 pontos, a redação é enviada para um terceiro corretor. E se a nota do terceiro corretor ainda for discrepante dos dois primeiros, a redação é enviada para uma banca de três corretores para avaliação”, lembra José Adenaldo.
“A grande vantagem da ferramenta é o suporte pedagógico que ela dá ao professor para identificar quais os pontos fortes e fracos da produção de texto dos alunos para a redação do Enem. Já para os alunos, a grande vantagem é a velocidade com que terão seus textos corrigidos e a possibilidade de corrigir seus pontos mais fracos e fazer o reenvio das redações para correção”, explica José Adenaldo. Segundo ele, o sistema foi desenvolvido inicialmente para fazer avaliação de textos utilizando o modelo de correção do Enem, porém revela que ele pode ser adaptado para outros formatos de avaliação de texto.
A plataforma foi desenvolvida no Ceia/Instituto de Informática da Universidade Federal de Goiás. Inicialmente, José Adenaldo Bittencourt desenvolveu a ferramenta para correção manual de redação e, posteriormente, com pesquisas no campo de inteligência artificial, sob a orientação do professor doutor Anderson Soares. O projeto teve o apoio dos estudantes Denis Masunaga (Sistemas de Informação), Jurandir Silva (Ciência da Computação) e Júlio Sousa (Sistemas de Informação), todos ligados ao Instituto de Informática da UFG.
Ceia e Governo
O secretário de Desenvolvimento e Inovação, Marcio Cesar Pereira, ressalta que a Sedi, por meio da Subsecretaria de Tecnologia da Informação, é responsável pelas inovações tecnológicas no Governo de Goiás e tem trabalhado em vários projetos em parceria com a Fapeg e o Ceia, a fim de viabilizar algumas ferramentas que vão de fato melhorar a vida da população, por meio de avanços nos processos internos da Administração Pública. “É a tecnologia a serviço das pessoas. A Plataforma de Correção Automática de Redação é um destes projetos, no qual temos a Secretaria da Educação como parceira, sendo beneficiada com a aplicação da Inteligência Artificial para auxiliar os alunos da rede pública, na preparação para as provas do Enem, mas que também poderá ser utilizado nas correção das redações de sala de aula convencional, pois seguem os mesmos padrões”, ressalta o secretário.
Com o objetivo de estimular a competitividade e a efetividade organizacional das instituições públicas e empresas privadas, o Ceia está desenvolvendo soluções tecnológicas e inovadoras baseadas em IA sustentado no engajamento empresa/governo/universidade por meio do Laboratório Deep Learning do INF/UFG. Em nível de governo, a atuação do Ceia é direcionada para as áreas estratégicas, especialmente saúde, educação, agricultura, segurança, mobilidade urbana, bem como, atendimento ao cidadão e à sociedade e eficiência administrativa.