Bolsista da Fapeg desenvolve exoesqueleto de baixo custo para membros superiores

Letícia Santana, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg

Protótipo
Protótipo de exoesqueleto feito na impressora 3D. Foto: Arquivo Pessoal

Pegar um copo de água ou pentear o cabelo são tarefas feitas diariamente e, muitas vezes, de maneira automática. Mas para as pessoas que possuem mobilidade reduzida ou que tiveram perda total dos membros superiores, decorrentes de alguma doença, essas ações se tornam difíceis para a realização de cuidados rotineiros. Diante dessa realidade, o pesquisador Eliézer Pires Ferreira desenvolveu, por meio de sua dissertação de Mestrado em Modelagem e Otimização pela Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão, sob a orientação do professor Marcelo Henrique Stoppa, no ano de 2018, um protótipo de exoesqueleto para membro superior com dois graus de liberdade, de baixo custo, com estrutura fabricada em impressora 3D.

Fabricar o exoesqueleto em uma impressora 3D é uma alternativa diante dos equipamentos encontrados no mercado. Segundo Eliézer, os atuais aparelhos de reabilitação são importados e custam mais de R$ 30 mil, ou seja, além do preço elevado do próprio equipamento que deve ser comprado em outro país, ainda há o alto custo de peças e manutenção, quando necessárias. O exoesqueleto feito na impressora 3D poderia ser vendido no mercado por um valor abaixo de R$ 3mil. “Essa pesquisa é muito importante para as pessoas que não têm tanto poder aquisitivo”, afirma Eliézer. Além disso, com a impressão em 3D, há a vantagem de o protótipo ser mais leve, pois a maior parte das estruturas é em plástico biodegradável, tornando-o mais fácil carregar. “É um material bem resistente e acessível”.

Eliézer também desenvolveu um software que pode auxiliar nos movimentos durante as sessões de fisioterapia. “O exoesqueleto ajudaria a pessoa a se movimentar no dia a dia, para fazer tarefas de rotina, e também a recobrar os movimentos. Com o software, o profissional poderia passar uma sessão de movimentos para fazer, por meio do programa, e isso seria benéfico, facilitando para não ter que fazer a sessão fora de casa”. Ele cita o exemplo do avô, um dos motivos de inspiração para o projeto, e que havia sofrido um Acidente Vascular Encefálico (AVE) e não conseguia ir às sessões de fisioterapia porque não tinha carro para levá-lo. “Era preciso que um profissional fosse até à casa dele. Talvez se já tivesse essa pesquisa, poderia ter ajudado a recobrar os movimentos mais rápidos à época”, conta.

Aplicabilidade da matemática

Pesquisadores desenvolvem protótipo de exoesqueleto
Professor e pesquisador Marcelo Stoppa, e o aluno e bolsista Eliézer Pires. Foto: Arquivo Pessoal

Eliézer formou-se em Matemática pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), onde posteriormente se tornou professor na instituição. A paixão pela área da robótica já o encantava desde a infância, mas foi depois de um tempo como professor na UEG, que se dedicou à área da robótica unindo ao conhecimento da matemática. “Quando se trabalha com matemática, pensamos qual a aplicação principal do conteúdo que se está estudando? E uma aplicação da matemática é na robótica, o que a torna mais significativa para o dia a dia”, explica.

Quando iniciou os estudos no Mestrado em Modelagem e Otimização pela UFG – Regional Catalão, sob a orientação do professor Marcelo Stoppa, Eliézer deu prosseguimento à sua pesquisa no Núcleo de Tecnologias Assistivas (NENA), implantado em 2013 por meio do fomento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Segundo Stoppa, no Nena são realizadas diversas pesquisas voltadas para a melhoria da qualidade de vida em termos de saúde e bem-estar. “A exemplo, podemos citar o desenvolvimento de próteses biônicas de mão para amputados, órteses, dispositivos para redução de escaras em pacientes acamados e exoesqueletos para reabilitação de dedos e membros superiores”. Ele ressalta que uma característica importante dessas pesquisas é a busca por um produto de baixo custo, que seja acessível para o maior número de pessoas.

Em breve, Eliézer espera ingressar no Doutorado, dando continuidade à pesquisa ampliando os atuais dois graus de liberdade do exoesqueleto e fazendo testes em pessoas com dificuldade para movimentar os membros superiores.

Importância da pesquisa

Protótipo de exoesqueleto
Protótipo de exoesqueleto para membros superiores. Foto: Arquivo Pessoal

Para o professor Stoppa, é muito importante que todos conheçam o que é desenvolvido nas Universidades. “Elas não apenas formam profissionais, mas também têm papel vital na pesquisa deste País, além de promover a extensão e cultura que estreita o laço com a sociedade. Um dos problemas da Universidade é que esses produtos não são conhecidos pela sociedade e demoram a chegar ao usuário final, mas todos devem trabalhar para que isto se resolva”, afirma.

Seguindo essa linha de promover a pesquisa, inovação e tecnologia, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) tem como missão induzir e apoiar pesquisas científicas em áreas estratégicas para Goiás, investir na formação de recursos humanos qualificados para a ciência e a tecnologia e apoiar a difusão científica para aumento da competitividade e melhoria do desenvolvimento social e econômico em Goiás e no Brasil.

Por meio de editais, a Fapeg proporciona oportunidades para o desenvolvimento das pesquisas no estado de Goiás e promove o intercâmbio entre pesquisadores de diferentes estados e países para a cooperação em prol de projetos nas mais variadas áreas. Eliézer Pires Ferreira contou com o apoio da Fapeg para o desenvolvimento da sua pesquisa, por meio da Chamada Pública nº 03/2017, de Bolsa de Formação de Mestrado e Doutorado.

“Sem a bolsa não conseguiria terminar o mestrado. Morava em outra cidade e queria desenvolver essa pesquisa. Como morava muito longe da cidade onde fiz o mestrado, a uns 500 quilômetros, teria muito gasto com combustível”, diz. Eliézer ainda utilizou parte do fomento para fazer os primeiros testes em casa.

A pesquisa requer pesquisadores qualificados e estimulados ao trabalho. Também é preciso despertar talentos para a ciência. Nesse sentido, a Fapeg realizou, de 2011 a 2018, um investimento contínuo e expressivo na formação de pesquisadores no estado por meio das bolsas de Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado. Nesse período, foram mais de 2500 pesquisadores apoiados pela Fundação para desenvolver suas pesquisas científica, tecnológica e de inovação.

Para o professor Stoppa, é fundamental o aporte financeiro para as pesquisas e, ao contrário do que muitos pensam, “pequenas quantias podem render muitos resultados positivos”, conclui.

Governo na palma da mão

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