Bolsista da CAPES concorre a prêmio mundial de pesquisa
Itanna Fernandes, ex-bolsista do Programa de Doutorado-sanduíche no Exterior (PDSE) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), foi indicada ao prêmio de jovens cientistas da Plataforma Global de Informação sobre Biodiversidade (GBIF, na sigla em inglês). O trabalho que lhe rendeu a indicação consistiu em um levantamento de dados inédito realizado a partir do monitoramento ambiental de formigas na Usina Hidrelétrica Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia.
A pesquisadora é doutoranda em Ciências Biológicas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) e foi a única brasileira indicada ao prêmio pelo Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr), entidade parceira do GBIF no Brasil. Durante o mestrado, Itanna também foi bolsista da CAPES.
Resultado de um dos trabalhos do curso de doutorado de Itann30a, este é considerado o primeiro estudo com tratamento taxonômico (classificatório) e ecológico usado para monitorar o impacto de uma usina hidrelétrica em uma fauna de formigas. O trabalho foi realizado de 2011 a 2014 em seis áreas de influência da usina.
O prêmio da GBIF incentiva a inovação científica em tecnologia da informação para a biodiversidade. Anualmente dois projetos de todo o mundo, sendo um de mestrado e outro de doutorado, são premiados com 5 mil euros. O resultado será anunciado no fim de setembro, durante o 24º Congresso do GBIF, na Finlândia.
Na edição de 2016, um brasileiro foi premiado, o estudante de mestrado Bruno Umbelino da Silva Santos, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). A pesquisa de Umbelino pretende calcular como o desmatamento degrada a qualidade dos dados de biodiversidade para o bioma amazônico ao longo do tempo.
Pesquisa inédita
A pesquisa de Itanna buscou entender a adaptação da fauna à situação de enchimento do reservatório da hidrelétrica, pois alguns trechos monitorados ficariam submersos. Coletas de dados foram efetuadas a cada quatro meses, nos períodos anterior e posterior ao enchimento da usina. Foram contabilizadas 253 coletas e mais de nove mil ocorrências de formigas. “Estas formigas estão, hoje, divididas em 10 subfamílias, 68 gêneros e 324 espécies e morfoespécies, todas depositadas na Coleção de Invertebrados do Inpa”, detalha Itanna.
“É a primeira vez que um monitoramento dessa extensão é realizado; não somente para formigas, mas para diversos outros grupos focais da fauna e flora”, destaca a doutoranda. Segundo ela, na construção da Usina de Balbina, no Amazonas, não houve um monitoramento prévio.
Especializada em taxonomia (descrição, identificação e classificação dos organismos) e sistemática de formigas, Itanna estuda as formigas Anochetus e Odontomachus em seu doutorado. Esses insetos são conhecidos como formigas-estalo, pois emitem um ruído ao abrir suas mandíbulas num ângulo de 180 graus para capturar presas ou se apoiar durante uma fuga.
“Já concluí as análises filogenéticas, considerando dados moleculares, e conseguimos distinguir os dois gêneros. Até então, não tínhamos certeza sobre a monofilia de ambos, e as análises acabaram indicando que os dois gêneros formam dois clados (ramos) distintos, com um ancestral comum”, diz a doutoranda.
Trajetória
Marcio Luiz de Oliveira, orientador de Itanna, conta que ela nunca havia pesquisado formigas até 2009, quando iniciou mestrado em mirmecologia no Inpa. Durante o curso, ela produziu um estudo taxonômico com formigas do complexo villosa e o trabalho foi publicado na influente revista Myrmecological News. Mirmecologia é a área dedicada ao estudo de formigas.
Já no doutorado, em 2014, Itanna estudou no Museu Nacional de História Natural dos Estados Unidos (Smithsonian Institution) como bolsista de doutorado-sanduíche da CAPES. No período, foi contemplada com um Ernst Mayr Travel Grant, patrocínio oferecido pela Universidade Harvard.
Durante o período em que esteve no Smithsonian, a então bolsista da CAPES descreveu uma nova espécie de formiga, em colaboração com seu co-orientador, Ted Schultz. Coletada na Usina Hidrelétrica de Santo Antônio em Rondônia, a nova espécie integra o banco de dados ecológico que lhe rendeu a indicação ao prêmio internacional.
O caminho para ingressar no doutorado-sanduíche envolveu uma participação em evento no exterior. “Ao final do mestrado, em 2012, me inscrevi em um curso de Identificação de Formigas no Peru. Ao final do curso fiquei em primeiro lugar em uma avaliação sobre o nosso nível de habilidade em identificação de espécies. A partir desse evento, houve uma correspondência com meu futuro coorientador no Smithsonian, Dr. Ted Schultz. Entrei no doutorado em 2013 e após minha qualificação, submeti o pedido de doutorado sanduíche no exterior à CAPES (PDSE). Em menos de três meses recebi a resposta positiva para a viagem”, diz Itanna. Segundo a pesquisadora, seu objetivo do período no Smithsonian foi iniciar o estudo molecular de dois gêneros de formigas que possuem distribuição mundial.
Em 2015, a pesquisadora foi coautora do livro Guia para Identificação dos Gêneros de Formigas do Brasil e se tornou autora do Catálogo Taxonômico da Fauna Brasileira – CTFB. Teve também aprovados dois projetos como coordenadora: um, para uso de DNA Barcode, em 2013; e outro, em 2017, para buscar o ninho da formiga mais primitiva que existe, a Martialis heureka.
Ainda em 2017, a estudante foi uma das pesquisadoras selecionadas para repatriar os dados de tipos brasileiros depositados no exterior pelo programa Refauna, do SIBBr.
Sobre o SiBBr
O Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr) é uma plataforma online que pretende reunir a maior quantidade de informações existentes sobre a biodiversidade do Brasil. Ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o SiBBr é associado à GBIF, a maior iniciativa multilateral de acesso virtual a informações biológicas de aproximadamente 60 países.
Fonte: CCS/CAPES com informações do Inpa e do GBIF