Aumento da fome no planeta mobiliza instituições no Dia Mundial da Alimentação
Quase 820 milhões de pessoas sofreram com a fome em 2017 em todo o mundo e, neste exato momento, poucas são as possibilidades de que esses números tenham se estabilizado, podendo ser ainda maiores. Pelo terceiro ano consecutivo, os dados registrados pelas estatísticas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) evidenciam um retrocesso aos níveis registrados há uma década. Conflitos de várias naturezas, mudanças no clima e a crise econômica são apontados como algumas das principais causas para o agravamento da situação.
Foi esta a preocupação que deu o tom das manifestações de autoridades do governo brasileiro e organismos internacionais durante a passagem do Dia Mundial da Alimentação, nesta quarta-feira dia 17 de outubro, em solenidade realizada no campus do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em Brasília-DF. Em mensagem de vídeo, o diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, chamou a atenção dos países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) para que trabalhem coordenadamente para que até 2030 seja possível erradicar a fome no planeta. “Esse é o compromisso assumido para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em especial o número 2”, destacou. “Agir não é mais uma opção – é o que precisa ser feito para que o quadro se reverta”.
“É com tristeza que admitimos que esta luta não está sendo vencida”, lamentou a secretária-executiva do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Marília Leão. Segundo ela, o Brasil tem experiências interessantes do poder público e de iniciativa da sociedade civil, em prol da alimentação saudável e da inclusão social, mas é preciso fazer mais. “É fundamental preservar a noção de que alimentação é um direito”, completou.
Além de todas as circunstâncias que contribuem para que a fome ainda persista, o desperdício de alimentos foi destacado pelo secretário de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Odilson Luiz Ribeiro, como uma das mais graves. “Infelizmente, ainda lidamos com normas internacionais que induzem a esse tipo de prática”, apontou, referindo-se às formas de classificação de alimentos que, por fugirem de padrões estéticos considerados ideais para o mercado, acabam sendo descartados.
Atenção ao Semiárido
Para o presidente da Embrapa, Sebastião Barbosa, que durante 17 anos atuou na FAO, a pesquisa desenvolvida pela Empresa ao longo dos anos tem contribuído muito com o Brasil e com países localizados na zona tropical do planeta. “Hoje somos capazes de produzir alimento para cinco vezes a população do País”, afirmou, ressaltando que com o apoio de parcerias foi possível dar um salto de qualidade que reverteu a posição brasileira do década de 1970, quando o Brasil ainda importava alimentos.
Barbosa disse que a tecnologia nacional pode resolver parte do problema da fome em muitos países do mundo, principalmente na Àfrica, na região ao sul do Saara, e que têm sido empreendidos esforços para que essa tecnologia seja levada aos trópicos, por meio de variedades adaptadas a diferentes condições, resistentes a fatores bióticos e abióticos, sistemas de produção, técnicas de manejo de solo e pragas, e pelo sistema integração- lavoura-pecuária- floresta (ILPF).
Sobre a região do Semiárido brasileiro, em função da vulnerabilidade social, econômica e ambiental, o presidente da Embrapa garantiu que a Empresa está comprometida em desenvolver programas específicos para a pequena agricultura, com sustentabilidade na produção de alimentos no bioma. “A pesquisa está empenhada em cumprir os ODS, em cooperação com a FAO e organismos internacionais”, garantiu. “É uma programação importante para a qual esperamos conseguir apoio e recursos para intensificar as ações voltadas à erradicação da fome até o dead line de 2030”.
Geração Fome Zero
O oficial encarregado da FAO no Brasil, Gustavo Chianca, destacou o esforço brasileiro que conseguiu fazer com que a fome no país caísse de 10,6 por cento da população – cerca de 19 milhões de pessoas – no início de 2000, para menos de 2,5 por cento no triênio 2008-2010. “Somos a primeira geração Fome Zero no Brasil e estamos batalhando para sermos a primeira na América Latina, nos próximos cinco anos, e até 2030, quem sabe não seremos a geração Fome Zero no mundo?”, concluiu, lembrando os dados que fazem parte do Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e no Caribe 2017.
Também estiveram presentes à abertura do evento, o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Celso Moretti, a subcoordenadora da Frente Parlamentar de Segurança Alimentar e Nutricional no Congresso Nacional, senadora Regina Souza, o secretário da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF, Argileu Martins, o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Francisco Bezerra, o presidente substituto do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), José Fernando Uchoa Costa Neto, o diretor do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e da diretora do Departamento de Reestruturação e Integração dos Sistemas Públicos Agroalimentares do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Patrícia Gentil.
A programação do Dia Mundial da Alimentação 2018, cujo slogan é “Nossas ações são o nosso futuro. Um mundo de #FomeZero até 2030 é possível”, contou ainda com a participação da chef Rita Lobo, criadora do site Panelinha e apresentadora do programa Cozinha Prática, do Canal GNT, que apresentou o painel “Cozinhar vai mudar a sua vida”, sobre a retomada do hábito da sociedade moderna de preparar em casa as próprias refeições.
Imprensa – Embrapa