Apoio da Fapeg fortalece NIT do IF Goiano
Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg
Farinha de okara e farelo de milho, dois subprodutos das agroindústrias de grãos, que normalmente são descartados ou utilizados para ração animal, após pesquisa científica desenvolvida no Câmpus do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) de Rio Verde, se transformaram em uma mistura pronta para produção de alimentos sem glúten, preferencialmente pães, com custo relativamente baixo e com potencial funcional de grande valor nutritivo para o ser humano.
A pesquisa foi desenvolvida pela então aluna do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos do IF Goiano, Rafaiane Guimarães Macedo, e agora, o produto faz parte do portfólio de proteção intelectual do IF Goiano, que no mês passado (junho), por meio do seu Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), fez pedido de registro de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).
Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), selecionada pela Chamada Pública 03/2016, seu mestrado foi defendido em agosto de 2017 com orientação da coordenadora do Programa, Mariana Buranelo Egea. Rafaiane ressalta a importância do apoio da Fapeg para o fomento de pesquisas no Estado fortalecendo o conhecimento científico e a produção de novas tecnologias.
Ela explica que, além do aproveitamento racional de subprodutos agroindustriais da soja e do milho (Rio Verde está entre os dez maiores exportadores de grãos de Goiás (2014), sendo a soja e o milho, os produtos de maior expressão), o produto agrega valor nutricional ao pão sem glúten, e pode ajudar a reduzir a dependência com relação às flutuações de preço nas importações de farinha de trigo, além da praticidade das misturas prontas para facilitar o preparo.
Receita saudável
A mistura é voltada especialmente para pessoas portadoras da doença celíaca (alérgicas ao glúten) ou intolerantes ao glúten, além dos consumidores que buscam um estilo de vida saudável. Pessoas acometidas pela doença celíaca têm uma dieta extremamente restritiva já que não devem ingerir produtos contendo trigo, aveia, centeio ou cevada.
A mistura ao ser utilizada para preparar pães ou bolos, fornece altos teores de proteína, fibra alimentar e isoflavonas. Alto teor de fibra alimentar pode ajudar na melhora das funções intestinais e com isso manter a microbiota saudável. As isoflavonas são fitoesteróis por apresentarem semelhança estrutural com os hormônios estrogênicos de mulheres, explica a pesquisadora.
Rafaiane ressalta que a mistura também é indicada para pacientes com ataxia cerebelar e esquizofrenia, pois estudos sugerem que existe, nestes casos, evidência sorológica de sensibilização ao glúten com prevalência consistentemente alta de anticorpos antigliadina. “Isso acontece porque nesses pacientes, o glúten pode chegar ao cérebro e interferir na comunicação entre os neurônios. A implementação de uma dieta livre de glúten parece melhorar o comportamento de um subconjunto de crianças com transtornos do espectro do autismo, pois quando se exclui o glúten da dieta desses pacientes, acontece uma melhora do quadro clínico e, depois, a estabilidade desse quadro”. Além disso, diz ela, no caso dos esquizofrênicos, a retirada do glúten da dieta pode melhorar a coordenação motora, a comunicação e o uso da linguagem – além de diminuir o déficit de atenção.
Fortalecimento do Núcleo de Inovação Tecnológica
O NIT do IF Goiano foi criado em 2010, após a implantação do IF Goiano na Rede Federal de Educação, por força da Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2009. Em setembro de 2015, a Fapeg lançou a chamada pública 07/2015, de Apoio à Estruturação e Manutenção dos NITs, e entre as 12 propostas submetidas para avaliação, nove foram selecionadas e o NIT do IF Goiano foi um dos contemplados, com R$ 60 mil.
Segundo a coordenadora do Núcleo de Inovação do IF Goiano, Tânia Fernandes Veri Araujo, o apoio dado pela Fapeg foi fundamental para estruturação do Núcleo e apresentou excelentes resultados. Ela conta que o fomento possibilitou uma atualização da regulamentação interna (atualização do Regulamento do NIT e aprovação de Política Institucional de Propriedade Intelectual); uma consultoria especializada em inovação foi contratada para contribuir no Planejamento Estratégico e na capacitação; foi ampliada a equipe que hoje conta com agentes de inovação em cada campus (são 26 docentes capacitados para promover a cultura inovadora na capilaridade multicampi do IF Goiano).
“O marketing foi melhorado e o operacional foi estruturado, com mapeamento de processos, elaboração de fluxogramas e de formulários, como o de comunicação de invenção para pedido de patentes e para registro de softwares, além do relatório de análise de patenteabilidade e anterioridade do estado da técnica”, diz ela.
“Com apoio da Fapeg foi possível a capacitação da equipe do NIT e os frutos do trabalho na proteção de propriedade intelectual vieram. Somente em junho deste ano (2018), o IF Goiano realizou três pedidos de patentes e registrou três softwares, alcançando a marca total em seu portfólio de seis depósitos de patentes junto ao Inpi, cinco registros de software e uma marca protegida. Estão em fase de finalização da redação mais três pedidos de patentes até agosto”, diz Tânia Araujo.
Produtos do conhecimento no mercado
Segundo a coordenadora do NIT, o IF Goiano já é reconhecido pela Pós-Graduação na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Segundo a Capes, a Rede ofereceu, em 2017, 135 cursos, sendo 81 mestrados profissionais, 42 mestrados acadêmicos e 12 doutorados (Plataforma Sucupira – Capes, 2017). “O destaque é para o IF Goiano, que oferece o maior número de cursos, são 12 Mestrados e dois Doutorados. Foi também a primeira instituição da Rede Federal a aprovar um Doutorado em Agronomia em 2012”, lembra ela.
“O grande desafio hoje é justamente a transferência de conhecimento, colocar soluções tecnológicas no mercado e na sociedade. Por isso a importância da inovação na geração de riquezas e no desenvolvimento local. A sensibilização da comunidade acadêmica para focar as pesquisas em inovação e no desenvolvimento tecnológico é fundamental”, diz ela.
Para Tânia, “a transferência de tecnologia é um grande diferencial, com a oferta de diversos serviços tecnológicos, de certificação e parcerias para desenvolvimento de novas tecnologias”. Ela destaca a aprovação do Polo de Inovação IF Goiano como unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Doze projetos de parcerias externas foram aprovados e estão em fase de execução.
Polo Embrapii gerando conhecimento e riqueza
Em março deste ano, o Governo de Goiás, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), assinou convênio no valor de R$ 4,750 milhões com a Embrapii para apoio à pesquisa voltada ao desenvolvimento de tecnologia, por meio da cooperação entre o setor industrial e o setor acadêmico, no Polo Embrapii de Tecnologias Agroindustriais (PETAgro), criado recentemente na cidade de Rio Verde (GO). Na época da assinatura do convênio, a presidente da Fapeg, Maria Zaira Turchi, comentou sobre a importância da unidade. “Com essa articulação entre universidade, governo e setor empresarial muitas startups vão surgir ali, muitos produtos novos vão gerar conhecimento e riqueza para o Estado e para o País”, pontuou.
A Fapeg vem se consolidando como o grande agente de fomento à pesquisa científica, tecnológica e de inovação nas diversas áreas do conhecimento, em Goiás. Um conjunto de ações de fomento como as bolsas de mestrado, doutorado, pós-doutorado dão subsídios para o funcionamento dos NITs no Estado de Goiás, gerando pesquisas, conhecimentos e produtos inovadores. Os editais que promovem a realização de eventos científicos e possibilitam a participação de doutores em eventos científicos dentro e fora do País também dão suporte para as atividades e para o fortalecimento dos NITs. “É um retorno para a sociedade em benefícios que só o conhecimento proporciona à medida que eleva a qualidade dos debates e propõe alternativas aos problemas que vivenciamos no nosso dia a dia”, entende a presidente da Fapeg, Zaira Turchi.
Atividades do NIT
O NIT é um departamento que tem o compromisso de disseminar a Política Institucional de Propriedade Intelectual e tem, entre outras metas, a de proteger os produtos gerados pela pesquisa científica de uma instituição. O NIT do IF Goiano cuida do encaminhamento dos pedidos de patente (invenção ou modelo de utilidade para criações a partir da pesquisa com novicidade e aplicação industrial; de programas de computador (direito autoral do software por meio do registro do seu código fonte original; de marcas (registro de sinais que individualizam e diferenciam os produtos ou serviços que podem agregar valor; de indicação geográfica (identificação de um produto ou serviço como originário de um local, região ou país por suas características de origem; e de cultivares (registro da nova variedade de planta derivada de uma espécie, comprovada por ser distinta, homogênea e estável).