Acesso à informação, por si só, não determina interesse pela ciência, aponta pesquisa

A participação em atividades de divulgação científica, como a Semana Nacional de C&T, é uma variável que, em alguns casos, influencia muito mais a forma como o brasileiro vê a ciência e tecnologia do que o simples acesso à informação. É o que aponta a pesquisa “Percepção pública da C&T no Brasil”, realizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e demandada pelo Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia (Depdi) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Os resultados da iniciativa foram debatidos na semana passada, em São Carlos (SP), durante a programação da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

De acordo com a pesquisa, 61% dos entrevistados demonstraram interesse pela área. A análise dos dados aponta que o otimismo ou pessimismo com o qual o brasileiro encara a área está associado ao contexto social do respondente. Algumas das atitudes sobre ciência e tecnologia são muito mais influenciadas pelo seu contexto de engajamento na sociedade.

“A experiência de poder botar a mão na massa, em atividades de discussões públicas, normalmente tem mais efeito do que somente a informação por si só, como ler um jornal sobre ciência e tecnologia ou ter a escolaridade alta”, afirma o professor da Universidade Federal de Minas Gerais e consultor da pesquisa, Yurij Castelfranti.

Durante a sua apresentação, ele destacou a importância de desmistificar a crença de que há uma hostilidade contra a ciência gerada pela ignorância. A pesquisa demonstra que todas as camadas, de todos os graus de escolaridade, têm um grau de confiança na capacidade da C&T. Ao mesmo tempo, parte dos respondentes demonstra preocupação com o setor. “Ao analisar os dados, é possível ver como as pessoas se apropriam dessa cidadania científica”, lembra.

Os respondentes que têm uma interação social maior tendem a ter visões que não são nem extremamente otimistas, ou seja, que a ciência traz apenas benefícios, nem pessimistas. São pessoas que apresentam uma visão mais equilibrada, privilegiando o aspecto positivo da ciência, mas sem deixar de ver as questões políticas associadas que precisam ser discutidas.

“O que influencia mais esse tipo de opinião é o contexto social de cada indivíduo. Pessoas que dizem viver em um lugar onde a qualidade do ar é muito baixa, por exemplo, tendem a ter uma visão menos eufórica, ou totalmente positiva, sobre o desenvolvimento científico e tecnológico”, ressalta.

Se o indivíduo habita um local com alta infraestrutura, mas com problemas sócio-técnicos, por exemplo, como os ambientais, começa a pensar que a ciência e tecnologia é importante, mas, por si só, não resolve todos os problemas. No entanto, se ele está em um contexto em que demanda mais o sistema de CT&I, tende a ver o lado positivo.

“Acho que esse é o resultado mais importante. Isso permite pensar em políticas mais direcionadas. Temos públicos cujo obstáculo principal para o exercício da cidadania científica é o tipo de infraestrutura que eles possuam e outros que dizem respeito ao capital social. Nós vimos que muitas pessoas dizem ter interesse, mas não se informam nem um pouco. Isso não é uma incoerência. Isso responde ao tipo de oportunidade que as pessoas têm de poder acessar essa dimensão da cidadania”, afirma.

A coordenadora da pesquisa, Adriana Badaró, destacou que os dados da iniciativa estão disponíveis para download no site do projeto e que ainda no segundo semestre será publicado um livro com outras análises sobre a pesquisa.

Durante o debate, a representante do Museu da Vida da Fundação Oswaldo Cruz, (Fiocruz), Luisa Massarani, divulgou uma pesquisa sobre a relação entre cientistas e imprensa. Um dos coordenadores da reunião da SBPC, Ildeu Moreira de Castro, apresentou os dados da Enquete Iberoamericana de Nível Médio, que analisou como os jovens da região da América Latina veem o setor.

A pesquisa pode ser acessada no site percepcaocti.cgee.org.br.

Fonte: CGEE e MCTI.

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