Abertura da 68ª Reunião Anual da SBPC reforça luta pela CTI no Brasil
A 68ª edição da Reunião Anual da SBPC foi aberta oficialmente na noite deste domingo, 3 de julho, em uma cerimônia que reuniu mais de 1800 pessoas no campus de Porto Seguro da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). O evento foi marcado por manifestações contra a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com o das Comunicações e teve a participação do ministro da Ciência, Tecnologia, Comunicações e Inovações (MCTIC), Gilberto Kassab, o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Hernan Chaimovich, o reitor da UFSB, Naomar de Almeida Filho, entre outras autoridades.
A cerimônia, que teve transmissão direta ao vivo, teve ainda apresentações da Orquestra Jovem de Trancoso e do Coral Municipal de Porto Seguro e homenagens aos professores William Saad Hossne e Ângelo da Cunha Pinto. Com o tema “Sustentabilidade, Tecnologias e Integração Social”, a reunião, que é o maior festival de ciência e tecnologia da América Latina, acontece durante toda essa semana, de 4 a 9 julho, no campus Sosígenes Costa, da UFSB, Porto Seguro, na Bahia.
Abrindo a noite, a secretária-geral da SBPC e coordenadora geral da reunião, Claudia Masini d’Avila-Levy, destacou o caráter inovador do projeto da UFSB, uma universidade jovem que completa dois anos de atividade, e que conseguiu realizar um evento dessa magnitude, com participantes de todos os estados brasileiros. Levy anunciou ainda os primeiros números oficiais da Reunião Anual: 4238 inscritos, 487 palestrantes, mais de 400 monitores e 107 constituintes da Comissão Local, totalizando mais de 5200 participantes. A expectativa é de que, durante a semana, mais de 10 mil pessoas visitem o evento.
A presidente da SBPC, Helena B. Nader, abriu a sessão com um discurso contundente sobre a necessidade de recuperação de recursos e priorização das áreas de educação, ciência e tecnologia no País. Nader reforçou o posicionamento da SBPC contrário à fusão do MCTI com o Ministério das Comunicações.
O reitor da UFSB, Naomar de Almeida Filho, também ressaltou que a universidade é a mais jovem a realizar uma reunião anual da SBPC e falou que para muitos estudantes que estavam ali, esse era um momento o qual eles jamais esquecerão. “A primeira reunião da SBPC a gente nunca esquece e para muitos estudantes que estão aqui, essa é a primeira vez. É uma conquista realizar esse evento nesta região”, disse.
Relembrando sua primeira participação em uma RA da SBPC, em 1977, Almeida Filho comentou que aquele foi um evento realizado em pleno regime militar, que exigiu muita força política para enfrentá-lo, e essa força também é necessária na conjuntura atual do País. “Esse é um momento que exige muita força política para fazer a ciência brasileira protagonista no desenvolvimento do País”.
Segundo o reitor, receber o evento é um reconhecimento da importância do projeto da universidade: a UFSB tem a segunda mais alta taxa de territorialidade de seus alunos, mais de 90% são da região, é a segunda universidade do Brasil com maioria de doutores no quadro de professores – 98,7% – e, desde sua inauguração, já teve três cursos de mestrado e um de doutorado aprovados, entre 2015 e 2016. “O nosso desafio é construir uma universidade popular, inclusiva e de excelência. E já temos indícios de que esse desafio já está sendo tocado em frente. O fato de receber a reunião anual da SBPC é também um índice de excelência nosso”, concluiu.
“Ponte para o futuro, sem C&T, cai na primeira ressaca”
O presidente da ABC, Luiz Davidovich, comentou que o projeto da UFSB representa a realização de um projeto que a Academia propôs em 2004, de reforma do Ensino Superior no Brasil, defendendo uma universidade interdisciplinar e inclusiva. Ele também homenageou o empenho da presidente da SBPC, Helena Nader, “a guerreira da ciência”, em suas palavras, nesses tempos de cortes de orçamento que “levaram nossas instituições a um nível de insolvência”. Segundo ele, a RA é o espaço para os debates sobre o futuro da C&T no Brasil.
Davidovich criticou a fusão do MCTI com o das Comunicações, definindo como uma das estratégias equivocadas do governo atual, que compromete o desenvolvimento do Brasil. Ele ainda se disse preocupado com a contínua relegação da ciência e mencionou o documento “Uma Ponte para o Futuro”, no qual se baseiam as propostas do governo interino, e fez uma alusão ao desabamento da ciclovia Tim Maia, no Rio de Janeiro, em abril. “Uma lição que aprendemos recentemente: uma ponte para o futuro que não é baseada na ciência e na tecnologia, cai na primeira ressaca”.
Para Hernan Chaimovich, presidente do CNPq, a UFSB demonstra um Brasil inteligente, culto, diverso. Assim como é a SBPC, conforme descreveu ele, a SBPC é uma instituição altiva, criativa, aberta ao diálogo e profundamente republicana. “Temos hoje uma Sociedade para o Progresso da Ciência que realmente representa o Brasil”.
Chaimovich também se dirigiu à vencedora do Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, Luisa Massarani, que na cerimônia recebeu a homenagem na categoria de melhor pesquisador e escritor, por seu trabalho de convencer os cidadãos sobre a importância da ciência para o desenvolvimento do País. “Sem ciência, sem tecnologia e sem inovação não tem País, não se sai da crise”, afirmou.
O ministro Gilberto Kassab discursou em meio a protestos calorosos da plateia e disse que o novo ministério assumiu todas as bandeiras levantadas pela SBPC na luta pelo desenvolvimento da CT&I no País. Ele argumentou que as políticas públicas do setor precisam de apoio governamental para conseguir investimento e que ele se empenhará para recuperar os recursos perdidos nos últimos anos. “Com a realização dessa Reunião Anual, a SBPC dá exemplo do protagonismo na CT&I do Brasil. E as bandeiras quem têm sido colocadas pela SBPC nos últimos tempos contam com nosso apoio”.
SBPC Educação
O secretário estadual da Educação da Bahia, Walter Pinheiro, destacou a importância do evento científico para a Bahia e da articulação que a SBPC Educação promove entre a educação básica e o ensino superior. “Este é um fórum representativo, amplo, inovador e completamente revolucionário e espero que daqui a gente tire as diretrizes para adotar uma outra prática, a da universidade indo para a Secretaria, indo para a sala de aula e a gente fazendo da educação básica o nosso principal palco de atuação”, afirmou ele que esteve na SBPC Educação, reunião que aconteceu entre os dias 1 e 2 de junho, na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), campus Teixeira de Freitas.
Para Pinheiro o evento também é uma grande oportunidade para que os estudantes da rede estadual apresentem os projetos de iniciação científica desenvolvidos nas escolas. “É muito importante o estudante poder apresentar o seu trabalho na SBPC. Acabar com aquela história que você só recebia experiências da SBPC vindas de cima para baixo”, disse.
Para Sergio Luiz Gargioni, presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, a 68ª RA da SBPC é um lugar importante para reunir pessoas que lutam pela área de ciência, tecnologia e inovação. “Aqui é uma ótima oportunidade onde a comunidade científica e daqueles que lutam pelo setor reivindicar melhorias, principalmente nesse momento de crise”. Ele também ressaltou a importância do evento para atrair jovens.
Fonte: Daniela Klebis, Fabíola de Oliveira e Vivian Costa – Jornal da Ciência / Confap.