Especial PPSUS: Pesquisa avalia nível de crescimento e desenvolvimento de crianças em creches municipais

projeto ppsus creche
Foto: Arquivo pessoal.

Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg

Os seis primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento integral das crianças. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), está comprovado cientificamente que é na primeira infância que a criança desenvolve grande parte do potencial mental que terá quando adulto. A atenção integral nessa faixa etária, além de influenciar no sucesso escolar também é responsável pelo desenvolvimento de fatores de resiliência e autoestima para continuar a aprendizagem, na formação das relações e da autoproteção necessárias para independência econômica e no preparo para a vida familiar.

Segundo o Unicef, até o sexto ano de vida, o desenvolvimento do cérebro é muito rápido e pode ser afetado por fatores biológicos, psicossociais, herança genética e pela qualidade do ambiente em que se vive e se convive. Esse processo pode, a longo prazo, afetar a capacidade estrutural e funcional, influenciando negativamente o desenvolvimento cognitivo e socioemocional do ser humano.

Diante do número crescente de crianças atendidas em creches em Goiânia, as fisioterapeutas e professoras Dra. Cibelle Kayenne M. R. Formiga e Dra. Martina Estevam Brom Vieira, da Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia do Estado de Goiás (Eseffego), da Universidade Estadual de Goiás (UEG), apresentaram um projeto de pesquisa que foi um dos 29 selecionados pela Chamada Pública nº 12/2013 no âmbito do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS): Gestão Compartilhada. O PPSUS tem por objetivo apoiar atividades de pesquisa científica, tecnológica ou de inovação que promovam a formação de recursos humanos qualificados e a melhoria da qualidade de atenção à saúde no contexto do SUS. A chamada é uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) com o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto também foi contemplado ainda por meio do edital do Proext-2013, do Ministério da Educação.

coordenadora do projeto
Coordenadora do projeto, professora Cibelle Kayenne Formiga. Foto: Arquivo pessoal.

Risco social
Coordenadora do projeto, a professora Cibelle explica que, normalmente as crianças que frequentam os Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) de Goiânia-GO são provenientes de famílias com menor poder aquisitivo, em classes sociais menos favorecidas e expostas a diversos riscos psicossociais. Segundo ela, “fatores sociais, ambientais e econômicos podem influenciar o crescimento e desenvolvimento infantil e se estes fatores extrínsecos não forem estimulantes e adequados, essas crianças poderão apresentar atrasos em seu desenvolvimento”.

Cibelle Formiga explica que a proposta da pesquisa foi atuar junto com essas crianças de maior risco social para atrasos e desvios em seu desenvolvimento, no sentido de avaliá-las e orientar os seus cuidadores sobre os conceitos que envolvem o crescimento e desenvolvimento infantil e em como manter um ambiente e atividades adequados e estimulantes.

A pesquisa
A proposta do estudo avaliou o nível de crescimento e desenvolvimento de uma amostra de 177 crianças pré-escolares na faixa etária de 10 meses a seis anos, frequentadoras de nove Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) de Goiânia; identificou os possíveis riscos e atrasos e realizou um programa de promoção e educação em saúde junto aos profissionais e pais das crianças nas creches avaliadas. Segundo Cibelle Formiga, conhecendo a situação destes indicadores a proposta era oferecer subsídios para a implementação de ações de prevenção e promoção da saúde. Os responsáveis pelas crianças assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UEG.

Dividido em duas etapas, inicialmente, as pesquisadoras fizeram uma avaliação do crescimento das crianças a partir do peso e altura e o desenvolvimento neuropsicomotor foi avaliado pelo Teste de Triagem de Denver II. Em uma segunda fase, as cuidadoras/professoras das crianças receberam orientações a respeito do estado de saúde das crianças e foram instruídas sobre as formas de promoção do crescimento e desenvolvimento saudável.

Guia de orientação
guia de orientação ao desenvolvimento de criançasPara realizar esta etapa, foi desenvolvido um Guia de Orientação ao Desenvolvimento de crianças de zero a seis anos, que foi publicado e distribuído gratuitamente nas creches. O material informativo foi construído com a participação das professoras, pais e fisioterapeutas participantes do estudo.

O guia é uma medida prática de prevenção e promoção em saúde com boa relação custo-benefício, pois se mostra como um método efetivo na orientação de pais, professores e outros cuidadores das crianças de zero a seis anos. Foi construído em forma de tópicos, contendo diversas ilustrações e uma linguagem bastante simples com o intuito de tornar a sua leitura prática e acessível a todos.

O material expõe informações acerca das condutas esperadas das crianças de acordo com cada faixa etária e apresenta maneiras de estimular o desenvolvimento infantil, com instruções e exemplos que contemplam as quatro grandes áreas, sendo elas: relacionamento pessoal-social (capacidade da criança de interagir com outras pessoas e atividades de autocuidado), linguagem (produção e reação aos sons, reconhecimento e uso da linguagem), motricidade fina-adaptativa (atividades manipulativas que envolvem coordenação de músculos pequenos e coordenação entre olhos e mãos) e motricidade ampla (mobilização de grandes grupos musculares para controle postural).

creches recebendo guias
Foto: Arquivo pessoal.

O Guia está disponível gratuitamente na internet no site do Mestrado em Ciências Aplicadas a Produtos para saúde: http://www.caps.ueg.br/conteudo/10419_livros

Pesquisa em dados
Os dados da pesquisa revelaram que a média de idade das crianças foi de 5,5 anos e 51% eram do sexo masculino. Quanto aos dados coletados com os pais das crianças, verificou-se que 94% das crianças tiveram o aleitamento materno; 45% dos pais e 45% das mães tinham o ensino médio completo; 92% dos pais e 86% das mães estavam empregados, com uma média de renda familiar de 3,3 salários mínimos; e 64% das famílias pertenciam às classes sociais C e D.

Quanto ao crescimento, 75% das crianças estavam com peso saudável, 18% com sobrepeso e obesidade e 7% abaixo do peso. Quanto ao desenvolvimento, 81% das crianças apresentavam algum risco para desenvolver problemas no desenvolvimento nas áreas motora, linguagem e social.

Aplicabilidade da pesquisa no SUS
A pesquisa tomou como base os conceitos de atenção básica em saúde que abrange a prevenção primária e promoção de saúde aplicáveis ao sistema único de saúde do Brasil, e os resultados deste estudo poderão auxiliar o setor produtivo na elaboração de estratégias de prevenção primária com foco no crescimento e desenvolvimento de crianças em nível escolar.

A professora acredita que a pesquisa pode ser incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS), que pode levar os profissionais da saúde para dentro da pré-escola promovendo avaliações nutricionais, acompanhamento da curva pondero-estatural das crianças, avaliação das diferentes áreas do desenvolvimento a fim de identificar possíveis problemas ou desvios precocemente. “Caso os problemas sejam identificados, a estimulação e orientação de pais e cuidadores pode ser o mecanismo para minimizar futuras dificuldades escolares e de aprendizagem que essas crianças poderão ter”, comenta.

Como as creches são ambientes educativos caracterizados por uma assistência à criança em tempo integral, oferecendo também serviços de cuidados de atendimento nutricional, de saúde e de segurança voltados para crianças do nascimento até os seis anos de idade, elas podem proporcionar intervenções coletivas de educação e prevenção de saúde, minimizando o número de procura do serviço de saúde devido a doenças e problemas que podem ser prevenidos, avalia Cibelle Formiga.

trabalho de fisioterapeuta sendo apresentado
Foto: Arquivo pessoal.

Impactos do projeto de pesquisa na formação acadêmica da equipe
Participação de 12 alunos de graduação em Fisioterapia;
Participação de quatro alunos de Iniciação Científica;
Participação de uma aluna de especialização Lato Sensu na UFSCar (São Carlos, SP);
Participação de uma aluna de Doutorado na USS, em Ribeirão Preto (SP) (Profa Dra. Martina Estevam Brom Vieira).

Publicações e Divulgação do Projeto
O projeto produziu mais de 10 trabalhos apresentados em eventos;
Publicação de três artigos em revistas científicas (internacional e nacionais);
Publicação de trabalhos em Anais de Eventos Científicos;
Publicação do Guia de Orientação ao Desenvolvimento;
Disponibilização de download gratuito do Guia de Orientação no Site da Universidade Estadual de Goiás (UEG).

Conheça outros projetos contemplados no PPSUS aqui.

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