Bolsista de Doutorado da Fapeg é selecionado para participar de atividades no Laboratório da Luz Síncrotron
Letícia Santana, da Assessoria de Comunicação Social da Fapeg
Imagine o seguinte cenário: de repente, você começa a sentir calafrios, febre, dor no peito e vai ao médico. O profissional pede uma radiografia, faz algumas perguntas e suspeita de pneumonia causada por bactéria. Após confirmação, o profissional receita um antibiótico, faz algumas recomendações e logo você está novamente com a saúde em perfeitas condições. E, agora, iniciando esta leitura, você pode até imaginar se esta reportagem é sobre alguma doença. Apesar da importância de se falar sobre o assunto, nesse caso a resposta é não. O objetivo é ir além. Tornar perceptível o que está por trás desses medicamentos e exames para a descoberta e cura da enfermidade – e que muitas vezes pode ser surpreendente.
Já parou para pensar como é desenvolvido aquele antibiótico eficaz para combater certa bactéria e a importância da criação daquele aparelho de raio-x para diagnóstico? Quantos pesquisadores trabalharam dia e noite para trazer novos olhares sobre os diferentes fenômenos? Sabia que no Brasil, além de contarmos com cientistas altamente qualificados, temos desenvolvido equipamentos de ponta que auxiliam no trabalho de pesquisadores nas mais variadas áreas, como na descoberta de novos fármacos e no estudo da porosidade das rochas para extração de petróleo, por exemplo? Já ouviu falar da Luz Síncrotron?
Num primeiro momento este nome pode soar estranho e meio complicado de se pronunciar, mas a ideia se torna ainda mais atrativa quando fica mais claro o que é a Luz Síncrotron e o que ela proporciona para a ciência. Para começar, é preciso dizer que o Brasil é o único País da América Latina que tem um Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), localizado em Campinas (SP), o que já é um grande motivo de orgulho. Mas, afinal, o que é essa Luz?
A Luz Síncroton é produzida em uma máquina de grande porte no LNLS e tem altíssimo brilho, o que gera imagens em alta resolução. De uma maneira mais simples, é como se fosse um grande microscópio. Porém, ela vai muito mais além. Por meio dela, os cientistas conseguem captar os detalhes das matérias e observar como os átomos se reorganizam, abrindo possibilidades de se desvendar importantes questões para a produção de medicamentos, estudo dos solos, variações climáticas e suas consequências, entre tantos outros assuntos.
Para se obter a Luz Síncrotron é preciso acelerar os elétrons, que ficam circulando em uma tubulação fechada de aço, no vácuo, quase na velocidade da luz. Cada vez que há uma curva nesta tubulação, é como se o elétron sofresse um impacto – falando de forma simplista – e, então libera uma radiação, que é justamente a Luz Síncrotron, e que então é direcionada à matéria em estudo.
Assista ao vídeo disponível no site do LNLS para entender melhor:
O LNLS
A primeira fonte de Luz Síncrotron brasileira e do hemisfério sul começou a ser projetada em 1987 e foi inaugurada 10 anos depois, em 1997. O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) faz parte do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), uma Organização Social qualificada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Goiás na Escola Brasileira de Síncrotron
O LNLS oferece uma infraestrutura de ponta para pesquisadores acadêmicos e industriais, brasileiros e estrangeiros e também é aberto ao público em geral por meio de eventos como o Ciência Aberta. Recentemente, no mês de julho deste ano, foi realizada a primeira edição da Escola Brasileira de Síncrotron: “Fundamentos e Aplicações” (EBS).
O bolsista de doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), Marco Aurélio Pessoa de Souza, contemplado na Chamada Pública 03/2016, de Bolsas de Formação de Mestrado e Doutorado, participou do evento EBS, após aprovado em um processo seletivo com análise de currículo e carta de motivação. Durante as duas semanas, foram realizadas aulas teóricas e práticas. Ele comenta ter se sentido surpreso com a grandiosidade do Laboratório e contente por ter sido selecionado para conhecer de perto toda a estrutura.
Projeto
O bolsista da Fapeg selecionado no evento, Marco Aurélio de Souza é professor assistente em Zootecnia na Pontifícia Universidade Católica (PUC Goiás) e doutorando em Agronomia pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Ele desenvolve o projeto intitulado Diversidade microbiana de solos de Cerrado submetidos a sucessivas aplicações de herbicidas, em que analisa os efeitos dos herbicidas no solo e nos micro-organismos presentes nele, inclusive em relação ao DNA.
Segundo a orientadora de Marco, a professora Virginia Damin, o principal objetivo da pesquisa é avaliar o impacto de herbicidas em diferentes solos na comunidade microbiana utilizando a técnica da metagenômica. “Este projeto conta com auxílio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com a concessão de bolsas pela Fapeg, sendo uma de Iniciação Científica (IC) ao estudante de agronomia da UFG, Miguel Tiago da Silva Junior, e a outra que é a de doutorado ao professor Marco Aurélio Pessoa de Souza”.
Virginia destaca que o bioma Cerrado tem características peculiares e é preciso entendê-lo.”Isso é importante para Goiás e para o Brasil”, afirma. Este projeto desenvolvido atualmente é uma continuação de outro iniciado, também coordenado pela professora Virginia, da tese de Doutorado de Laura Pacheco. O objetivo deste primeiro projeto era avaliar como os atributos do solo e a adição de resíduos orgânicos afetam as doses necessárias de herbicidas que são aplicados no solo para controle de plantas daninhas e, ainda, os impactos ambientais decorrentes da utilização de herbicidas. “A partir desse projeto, percebeu-se a necessidade de utilização de técnicas mais avançadas para determinação do impacto de herbicidas aos micro-organismos do solo”, explica Virginia.
Projeto na Luz Síncrotron
Marco comenta que a Luz Síncrotron auxiliaria muito na realização de uma análise mais detalhada do seu projeto de pesquisa e na confirmação das hipóteses dos estudos. E para ter acesso a isso, o professor enviou uma proposta ao Laboratório para o uso do equipamento de ponta. Ele informa que a proposta foi considerada relevante, mas agora é necessário aguardar a posição de outra comissão para quem deve apresentar um relatório. A resposta definitiva sairá ainda neste ano, segundo Marco.
O LNLS funciona 24 horas por dia de segunda a sábado, e, segundo informações do site do Laboratório, todos os anos as instalações do LNLS beneficiam cerca de 1200 pesquisadores brasileiros e estrangeiros comprometidos com mais de 400 estudos que resultam em aproximadamente 200 artigos publicados em periódicos científicos.
Mais tecnologia vindo por aí
Ainda, segundo informações do site, neste momento o LNLS está construindo o Sirius, uma fonte de Luz Síncrotron de quarta geração, planejada para ser uma das mais avançadas do mundo. A nova fonte de luz é projetada para ter o maior brilho dentre todos os equipamentos na sua classe de energia e comportar até 40 linhas de luz. Sirius abrirá novas perspectivas de pesquisa em áreas como ciência dos materiais, nanotecnologia, biotecnologia, ciências ambientais e muitas outras.