Pesquisa fomentada pela Fapeg analisa qualidade de vida e indicadores de saúde de pessoas vivendo com HIV

Através do PPSUS, o estudo recebeu R$70 mil que estão sendo aplicados na investigação da qualidade de vida e da saúde de pessoas vivendo com HIV, por meio da aquisição de equipamentos de avaliação da gordura corporal e da força de preensão manual, bem como de bolsas de iniciação científica e de mestrado para incentivo do conhecimento científico

Larissa Andrade, da Assessoria de Comunicação da Fapeg

 

Foto: Arquivo do pesquisador

Falar de pessoas vivendo com HIV é lembrar que existem muitas barreiras a serem superadas. O estigma social que elas enfrentam por preconceito e por falta de informação generalizada afeta a qualidade de vida e o acesso a serviços de saúde para essas pessoas. Uma cartilha informativa elaborada pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/ AIDS (UNAIDS) para jovens vivendo com HIV afirma que é preciso extinguir as desigualdades para chegar ao fim da AIDS enquanto ameaça de saúde pública. Para isso, é necessário garantir o acesso a serviços de HIV, como a prevenção, a testagem e o tratamento, e que esses serviços sejam de qualidade e de fácil acesso.  O informativo pontua ainda que é preciso trazer as pessoas vivendo e ou afetadas pelo HIV ao centro da resposta para acelerar a concretização do objetivo de acabar com a AIDS.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) é responsável por fomentar, induzir e apoiar  pesquisas científicas em todas as áreas do conhecimento para melhoria do desenvolvimento social e econômico, principalmente em Goiás, além de investir em recursos humanos para reter pesquisadores no Estado. Para alcançar esse propósito, a Fapeg viabiliza chamadas públicas como o Programa de Pesquisas para o Sistema Único de Saúde (SUS), o PPSUS.

PPSUS

O Programa nacional tem como objetivo apoiar e fortalecer o desenvolvimento de projetos de pesquisa que busquem soluções para as prioridades de saúde e atendam às peculiaridades e especificidades de cada Estado. A aproximação entre os sistemas estaduais de saúde e de ciência e tecnologia e a comunidade científica, promovida pelo PPSUS, permite maior interação entre os atores locais para o fortalecimento da Política Estadual de Saúde (PES). O PPSUS é estruturado pelo Ministério da Saúde (MS), por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde (Decit/SCTIE/MS) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e executado, em Goiás, em parceria com a Fapeg e Secretaria de Estado da Saúde.

Foi através da Chamada Pública 05/2020 – 7ª edição do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada que um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Jataí (UFJ), da Universidade Federal de Catalão e do Centro de Testagem e Aconselhamento/Serviço de Assistência Especializada (CTA/SAE) de Jataí, coordenado pelo professor Dr. Luiz Fernando Gouvêa e Silva, recebeu apoio para uma pesquisa intitulada “Análise da Qualidade de Vida e de Indicadores de Saúde de Pessoas Vivendo com HIV na região do Sudoeste Goiano”. Através da Fapeg, o estudo recebeu mais de R$ 70 mil em recursos que estão investidos na compra de materiais necessários para a avaliação da gordura corporal e da força de preensão manual. Além disso, viabilizou-se o pagamento de bolsa para uma discente de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde e uma de graduação (iniciação científica) da UFJ.

 

Foto: Arquivo do pesquisador

A pesquisa

Dados do Boletim Epidemiológico Nacional do ano de 2021, feito pelo Ministério da Saúde, apontam que o Brasil possui 381.793 casos de HIV notificados de 2007 a 2021, sendo 29.545 na região Centro-Oeste e 11.893 casos no estado de Goiás, ocupando o 1º lugar na região Centro-Oeste. Foi observando essa população que o coordenador da pesquisa pontuou que, “ante a carência ou distorções das informações que a maioria das pessoas vivendo com HIV possuíam sobre atividade física e hábitos saudáveis veio a idealização do projeto que apresentamos junto à Fapeg, que visa não somente a busca de dados, mas também um acompanhamento com feedback constante ao paciente. Acredito que a pesquisa não deva ser somente a busca de dados junto ao participante, mas que ele tenha um retorno com linguagem acessível e que possa usar essa informação da melhor forma possível.”

O estudo coordenado pelo professor Dr. Luiz Fernando Gouvêa e Silva conta até o momento com 64 pessoas vivendo com HIV do Centro de Testagem e Aconselhamento/Serviço de Assistência Especializada (CTA/SAE) no Hospital Estadual de Jataí. Uma primeira avaliação com os participantes envolve informações sociodemográficas, clínicas sobre a doença, laboratoriais (exames imunológicos, bioquímicos e hemograma), sobre o nível de atividade física, o comportamento sedentário, sobre as barreiras à prática de atividade física, qualidade de vida, ocorrência e intensidade de dor, avaliação da composição corporal, lipodistrofia (variação de gordura corporal por região), força de preensão manual, traços de ansiedade e depressão, síndrome metabólica e risco cardiovascular.

Após a avaliação inicial, o paciente é orientado pelos pesquisadores quanto a comportamentos saudáveis, em especial a prática de atividade física. O participante do estudo recebe orientações sobre como realizar atividade física de acordo com sua realidade, bem como um retorno sobre os principais resultados observados nas avaliações. Após um intervalo de 5 a 8 meses, ele será reavaliado para verificar o que conseguiu realizar das orientações dadas e novamente orientado no que for necessário. “Nossa intenção é verificar o quanto esse momento, junto ao paciente, é capaz de modificar seu comportamento, por meio das orientações e dos resultados das avaliações que podem ser positivas ou negativas de acordo com suas atitudes” ressalta o professor.

 

Coordenador da pesquisa, Prof.Dr. Luiz Fernando Gouvêa e Silva / Foto: Arquivo do pesquisador

Principais resultados encontrados

Com os dados levantados até o presente momento, os pesquisadores traçaram um perfil sociodemográfico que apresentou predominância de homens, com a preferência sexual para heterossexual, solteiros, com cor de pele parda, com escolaridade até o ensino médio, com vínculo empregatício, com renda de até dois salários, residentes em Jataí, etilistas, não tabagistas e não usuários de drogas ilícitas. Clinicamente, a relação sexual foi a principal forma de contaminação para a infecção pelo HIV.

Também foi verificado um aumento das doenças crônicas, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e doença renal crônica, após o diagnóstico para a infecção do HIV. Além disso, em torno de um terço dos pacientes apresentaram alterações nos valores de glicose, dos triglicerídeos e do colesterol total, bem como metade dos pacientes não atendem às necessidades mínimas de atividade física, estão com sobrepeso/obesidade e com a quantidade de gordura corporal elevada, o que reflete em um alto risco cardiovascular nestes pacientes.

Sobre as informações avaliadas pela percepção subjetiva, o que mais preocupa os pacientes, quanto aos fatores observados na qualidade de vida, é a parte financeira e o sigilo da doença perante a sociedade. Estes fatores, entre outros, podem estar impactando no desenvolvimento da ansiedade e da depressão, que também estão presentes, conforme avaliações realizadas.

Aplicação

Para o coordenador da pesquisa, o desenvolvimento do projeto irá produzir dados que vão possibilitar o planejamento de intervenções e de políticas em saúde mais efetivas, por conhecer melhor o perfil e as características do público atendido. Além disso, ressalta-se que o público em questão não é somente de Jataí, mas de toda a região Sudoeste II de saúde.

Outro ponto destacado pelo professor é que a análise das informações vai permitir saber se as avaliações e orientações serão capazes ou o quanto serão capazes de modificar comportamentos inadequados em relação à saúde e qualidade de vida, como serem pessoas ativas ou que se movimentam mais. “Essa mudança de atitude é importante para minimizar efeitos deletérios na saúde das pessoas vivendo com HIV e, consequentemente, da sobrecarga no sistema de saúde, visto que esses pacientes estão mais predispostos a alterações metabólicas, ansiedade, depressão, diminuição da qualidade de vida, aumento da gordura corporal e do risco cardiovascular, bem como da instalação de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão, diabetes e doença renal”, conclui o pesquisador.

Equipe

A pesquisa é coordenada pelo professor Luiz Fernando Gouvêa e Silva, do Laboratório de Anatomia Humana e Comparativa da Universidade Federal de Jataí, que defendeu sua tese envolvendo pessoas vivendo com HIV e a equipe de trabalho é composta pelos professores(as) Ludimila Paula Vaz Cardoso (UFJ), Eduardo Vignoto Fernandes (UFJ), David Michel de Oliveira, Carla Silva Siqueira Miranda (UFJ), Hélio Ranes de Menezes Filho (UFJ e CTA/SAE), Hanstter Hallison Alves Rezende (UFJ), Edismair Carvalho Garcia, (UFJ), Caroline Gomes Martins Forte (UFJ), Lamartine Lemos de Melo (UFCAT), Regyane Ferreira Guimarães Dias (CTA/SAE), bem como as bolsistas Adrielly Katrine Tozetto Morais Muto (Mestrado – Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde/UFJ) e Camila Ferreira Silva (Iniciação científica, curso de Fisioterapia/UFJ). Os pesquisadores também contaram com a parceria e o apoio da equipe de saúde e da gestão do CTA/SAE de Jataí para a realização do projeto.

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