Goiás entra no mapa mundial dos dinossauros com descoberta publicada em artigo científico

Dinossauros
Ilustração: Barry Croucher/The Art Agency

Fruto de pesquisa que contou com apoio da Fapeg em parceria com o Fundo Newton, o artigo traz uma síntese atualizada dos registros de plantas, gastrópodes, tartarugas, crocodiliformes, titanossauros e dinossauros terópodes (carnívoros) que viveram em Goiás no Período Cretáceo.

Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação da Fapeg

 

Pincéis vão desenhando e revelando a História Geológica. Uma história que aconteceu há muito tempo, entre aproximadamente 93 milhões a 66 milhões de anos. Uma história fantástica, contada por paleontólogos, biólogos, geógrafos e geólogos de Goiás, do Rio de Janeiro e do Reino Unido (Escócia) que, juntando pedacinhos estão montando um quebra-cabeças e comprovando que os dinossauros também viveram onde é hoje o estado de Goiás.

As inferências começaram em 1970, mas no início de 2021, os pesquisadores publicaram na revista Earth Sciences Research Journal (Impact Factor: 0.541 – Qualis nova B1), da Universidade Nacional da Colômbia, o artigo “Late Cretaceous Bauru Group biota from Southern Goiás state, Brazil: history and fossil content“, sobre a biota do Período Cretáceo (época dos dinossauros) do estado de Goiás. Nos últimos cinco anos houve um grande aumento nas descobertas de fósseis, o que permitiu um maior conhecimento da fauna e da flora. O artigo foi escrito pelos pesquisadores do Curso de Geologia/Campus Aparecida de Goiânia/UFG Carlos Roberto A. Candeiro (também professor Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal/PPGBAN/UFG) e Tamires do Carmo Dias (mestranda do PPGBAN/UFG) juntamente com pesquisadores do Curso de Geologia/UFG Glayce Kelly de Queiroz Souza, Débora Santos Maia, Musa Maria Nogueira Gomes e Lucas Marques Barros; do Museu Antropológico da UFG, Adelino A. Carvalho;  da University of Edinburgh, Stephen Brusatte; e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luciano Vidal.

Biota período cretáceo
Arte: Luciano Vidal (UFRJ)

Caça aos dinossauros
Há bem pouco tempo não tínhamos a comprovação da existência de dinossauros no estado de Goiás. “No final da década de 1970 tínhamos especulações sem comprovações. Em alguns dos nossos trabalhos de campo quando conversávamos com moradores, alguns (os mais antigos) diziam que encontraram ossos de homens gigantes. A partir disto sabíamos que eram pistas da existência de materiais na região, então, tínhamos que encontrá-los. Muito trabalho, muito trabalho, enfim encontramos os primeiros registros e é onde concentramos nosso trabalho, na região sul do Estado”, revela o professor Carlos Roberto dos Anjos Candeiro.

A Era Mesozoica é chamada a Era dos Dinossauros e é dividida nos períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo. No final deste último período ocorre a extinção dos grandes dinossauros e são os fósseis desses répteis que estão sendo encontrados em Goiás e representam, possivelmente, registros dos grandes dinossauros na América do Sul. Segundo Candeiro, materiais desta mesma idade, entre 93 milhões a 66 milhões de anos – no Cretáceo Superior – também são encontrados em outros locais do nosso continente. Foi no Cretáceo que se deu o apogeu dos dinossauros e foi quando a fauna e a flora do planeta se desenvolveram ainda mais, apresentando maior variedade de espécies.

dinossauros laboratório
Preparação de fósseis no Laboratório de Paleontologia e Evolução/Curso de Geologia/UFG – Débora Santos Maia

O pesquisador revela que os materiais já encontrados são do grupo dos saurópodes – os herbívoros titanossauros, aqueles gigantes pescoçudos e com longas caudas e cabeça pequena, quadrúpedes, considerados um dos maiores animais da Terra, e também dos terópodes (parecidos com os tiranossauros), bípedes e considerados um dos maiores carnívoros do planeta. “O tamanho é complicado estimar, mas extrapolando, talvez, algo aproximado a sete metros do focinho à ponta da cauda”, arrisca o pesquisador. No artigo é apresentada uma síntese atualizada dos registros de plantas, gastrópodes (semelhantes a caramujos), tartarugas, crocodilos, titanossauros e dinossauros terópodes e marcas de raízes de plantas deste importante período, até pouco tempo desconhecidos em Goiás.

Goiás no mapa dos dinossauros
O artigo científico contribuiu para colocar o Estado de Goiás no mapa mundial de pesquisas de dinossauros e de outras áreas da paleontologia do Período Cretáceo. No Brasil já foram encontrados vestígios de dinossauros especialmente no Triássico gaúcho, no Jurássico de São Paulo (pistas), no Cretáceo do Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Paraíba, São Paulo e Triângulo Mineiro.

“O artigo reúne, pela primeira vez, todo o conhecimento sobre os animais e vestígios de plantas da Era dos Dinossauros do estado de Goiás, e assim ele dá visibilidade em nível mundial ao que fazemos e que outros cientistas já fizeram de conhecimento paleontológico para nosso estado para o Cretáceo,” explica o professor doutor Carlos Roberto A. Candeiro.

A pesquisa
A pesquisa é resultado contínuo de um apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) em parceria com o Fundo Newton/British Council – (Confap/Academias Britânicas) que por meio de chamada pública de 2016, viabilizou a vinda do pesquisador do Reino Unido ao Brasil para desenvolver estudos com parceiros brasileiros. No caso, foi contemplado o projeto da área da Paleontologia – Dinosaurs and other fossil vertebrates from the Bauru Group of southern Goiás State, Central Brazil – e trouxe a Goiás o pesquisador Stephen Louis Brusatte, da School of GeoSciences, da University of Edinburgh, para empreender estudos em conjunto com o professor Carlos Roberto dos Anjos Candeiro, sobre fósseis de dinossauros localizados na região Sul do Estado.

O projeto foi aprovado em 2016, mas ainda é desenvolvido a partir dos materiais de dinossauros e outros animais, que são guardados e estudados no Laboratório de Paleontologia e Evolução/Curso de Geologia, Faculdade de Ciências e Tecnologia do Campus Aparecida de Goiânia da UFG. “Essa cooperação representa uma possibilidade inédita de realizar parcerias de natureza paleontológica com um dos grupos consolidados mais importantes de paleontologia de vertebrados do mundo. Uma incrível parceria contínua com o professor Stephen Brusatte, da University of Edimburgh que a partir de então tem possibilitado a capacitação de alto nível do nosso grupo aqui em Goiás e que tem gerado artigos, livros e estudos de graduação, mestrados e doutorados. Algo importante é a troca de experiências e a possibilidade de capacitação científica dos recursos humanos, nossos alunos, pela primeira vez, no estado de Goiás na área de paleontologia de vertebrados”, comemora o pesquisador.

A proposta da pesquisa consiste na realização de trabalhos de campo sistemáticos na busca de dinossauros e outras formas de vida que viveram no sul do estado. “Nós denominamos sul do estado de Goiás, mas os trabalhos se encontram focados nos municípios de Paraúna, Quirinópolis e Rio Verde. Estes municípios estão sendo pesquisados porque eles foram os primeiros que fizemos encontros de fósseis no estado,” ressalta Candeiro. Ele explica que materiais ósseos, dentes e possivelmente fezes foram encontrados nas rochas sedimentares em taludes (barrancos).

Etapas da pesquisa
Na primeira fase dos trabalhos foram realizadas pesquisas na literatura científica, análises de mapas, organizações e efetivações de trabalhos de campos. Em seguida, os materiais encontrados foram levados para o Laboratório de Paleontologia e Evolução/Curso de Geologia/Campus Aparecida de Goiânia/UFG. Limpamos minuciosamente os materiais com o auxílio de pincéis, ponteiros, um tipo de cola especial, água, às vezes ácidos, fotos, lupas ou microscópios especiais. Uma descrição paleontológica foi realizada e publicada em revistas científicas. “A última fase é onde realizamos as exposições, principalmente nas áreas que encontramos os dinossauros de Goiás. Elas já foram realizadas em Goiânia (Museu Antropológico), Aparecida de Goiânia (Campus UEG/UFG), Quirinópolis (Campus UEG), Rio Verde (UniRV) e logo faremos em outros lugares”, revela o professor.

Inferências necessárias
O artigo se preocupou em apresentar a história da paleontologia do Grupo Bauru (Cretáceo Superior) em um resumo estratigráfico e com registros fósseis da biota local. Grupo Bauru é um nome que se dá para um conjunto de rochas onde se encontram dinossauros e outros materiais paleontológicos localizadas no sul de Goiás, Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro e oeste de São Paulo. Sempre fazendo inferências, o professor destaca que a fauna fóssil do sul do estado de Goiás é semelhante à de depósitos com idades semelhantes na região do Triângulo Mineiro, oeste do estado de São Paulo e até mesmo na Argentina.

Para o pesquisador, o sul do estado de Goiás é uma área promissora para futuras descobertas de fósseis do Cretáceo, que podem ser cruciais para a avaliação da biodiversidade e dos padrões biogeográficos de tetrápodes como dinossauros e crocodilomorfos durante a parte final do Cretáceo, antes da extinção em massa do final do Cretáceo. “Resumindo, apenas algumas temporadas de trabalho de campo entre os anos de 2013 a 2018 no Estado de Goiás resultaram em uma adição significativa de novos registros de vertebrados do Cretáceo Superior do Grupo Bauru, sugerindo que mais descobertas estão esperando para serem realizadas. Nossas novas descobertas aumentam os dados comparativos necessários para entender a composição faunística do Brasil Central e a distribuição dos vertebrados nesta área durante o Cretáceo”, diz Candeiro.

E qual o fim da história? “Não existe conclusão, pois sabemos que só iniciamos nesta grande e vasta área de pesquisa no nosso Estado. Os dinossauros não nos deixam limites”, conta Candeiro.

A equipe

Dinossauros
Trabalho de campo em áreas de coletas de fósseis em Rio Verde – aluna Musa Gomes

O grupo da pesquisa é composto pelos pesquisadores paleontólogos Carlos Roberto dos Anjos Candeiro e Felipe Medeiros Simbras, do curso de Geologia/Campus Aparecida de Goiânia/UFG e alunos pesquisadores colaboradores André Luis de Souza Júnior (atualmente Universidade Federal de Rondonópolis), Camila dos Santos Pereira (atualmente Universidade Federal de Ouro Preto), Daniel Carelli (Curso de Geologia/UFG); Débora Santos Maia (Curso de Geologia /UFG); Glayce Kelly de Queiroz (Curso de Geologia/Goiânia/UFG); Lívia Motta Gil (Mestra em Biodiversidade Animal/UFG – Doutoranda em Ecologia e Evolução/UFG); Michael Ulian (Curso de Geologia/UFG); Musa Maria Nogueira Gomes (Curso de Geologia/UFG); Nathalia Melo Oliveira (Curso de Geologia/UFG); Raylon da Frota Lopes (Doutorado em Geografia/UFG); Tamires do Carmo Dias (Mestranda em Biodiversidade Animal UFG), e Ramon Cavalcanti (Curso de Ciências Biológicas/UFG).

Da Universidade de Edinburgo, o paleontólogo Prof. Dr. Stephen Brusatte; do Programa de Pós-Graduação em Geologia/Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Dr. Paulo Victor Luiz Gomes da Costa Pereira; do curso de Ciências Biológicas/Campus Quirinópolis/Universidade Estadual de Goiás, a Dra. Isa Lúcia de Morais, Dr. Raoni Ribeiro Guedes Fonseca Costa, Dr. Reile Ferreira Rossi e Dr. Wellington Hannibal.

Governo na palma da mão

Pular para o conteúdo