Conservação de solos da Reserva Legado Verdes do Cerrado é tema de pesquisa fomentada pela FAPEG
“A ideia do projeto é oferecer um legado de agricultura sustentável para o carste do cerrado goiano”, diz pesquisadora
Contribuir com a conservação dos solos e, ao mesmo tempo, possibilitar o uso agrícola de uma região de elevada fragilidade por ser um ambiente cárstico, onde existem cavernas e terrenos com cavidades superficiais, dolinas (depressões no terreno com dimensões variadas). Esta foi a proposta do projeto de pesquisa da professora doutora em Ciência do Solo, Renata Santos Momoli, do Instituto de Estudos Socioambientais (IESA) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Intitulado “Qualidade dos Solos das Regiões Cársticas”, seu trabalho está voltado especificamente para projetos de conservação dos solos e das cavernas da Reserva Legado Verdes do Cerrado (RLVC), em Niquelândia, próxima ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. A área total da reserva é de 32 mil hectares, sendo 27 mil hectares totalmente preservados e 5 mil para a produção sustentável para geração de renda e desenvolvimento local. O Legado Verdes do Cerrado é a única reserva particular de desenvolvimento sustentável da região Centro-Oeste, criada em parceria com o Governo de Goiás.
Chamada Pública
Selecionada por meio da Chamada Pública Conservação da Natureza – Legado Verdes do Cerrado, lançada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), em parceria com a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e a empresa Reservas Votorantim, a pesquisadora já levantou dados e informações sobre aspectos do meio físico – pedologia, hidrologia, relevo, geologia e vegetação da região onde se insere a Reserva. Fez a coleta de amostras e descrição morfológica dos solos e sedimentos em terrenos cársticos do entorno de cavernas. “A ideia do projeto é oferecer um legado de agricultura sustentável para o carste do cerrado goiano”, esclarece Renata Momoli.
O Projeto
Até o momento, já foram avaliados 60 pontos de observação, de onde 242 amostras de solo foram coletadas e encaminhadas para análises físicas, químicas e biológicas, que produziram dados primários como composição granulométrica, permeabilidade, pH, fertilidade e resistência à penetração de raízes, quantidade e qualidade da matéria orgânica, parâmetros microbiológicos como Biomassa Microbiana (BMS-C), Respiração Basal do Solo (RBS) e Coeficiente Metabólico (qCO2) dos solos e sedimentos coletados. O projeto contou com fomento de R$ 96.420,00, sendo 50% provenientes da CBA e 50% da Fapeg. Com a pandemia do novo coronavírus, o projeto, que estava previsto para ser concluído em novembro, foi prorrogado por seis meses, com previsão de término para abril de 2021.
Segundo Renata Momoli, está sendo feita uma análise de forma integrada dos aspectos do meio físico para inferir sobre a gênese dos solos dos terrenos cársticos e sobre a transmissibilidade de poluentes através do conjunto solo, saprólito, rocha do carste. Ela conta ainda que está em elaboração Mapas de Solos, de Classes de Capacidade de Uso dos Solos e de Relevo (Altitude, Declividade, Rotas de Fluxos Hídricos e Curvatura de Vertentes) e relatórios de zoneamento com indicadores pedológicos para as áreas frágeis da Reserva Legado Verdes do Cerrado.
A pesquisadora explica que seu trabalho também propõe a colaboração com projetos de recomposição florestal e recuperação de áreas degradadas fornecendo dados coletados e estudados sobre os solos da região. Contando com o envolvimento de colaboradores da gestão interna da Reserva Legado Verdes do Cerrado – CBA/Votorantim, seu projeto de pesquisa propõe, também, realizar trabalhos de conscientização da comunidade do entorno sobre a fragilidade dos solos, das cavernas e do carste de forma geral, diante dos impactos das atividades humanas, assim como realizar atividades voltadas para a comunidade local com modelos didáticos e experimentais feitos de materiais recicláveis e destinados às demonstrações de processos físicos como infiltração de água no solo, escoamento superficial, erosão e poluição.
Avaliação dos solos
A partir da avaliação dos solos da região, a pesquisadora relata que eles são bastante heterogêneos e sua distribuição está fortemente relacionada ao relevo e às rochas da RLVC. Nas áreas de relevo íngreme encontram-se solos rasos, frequentemente ácidos e de fertilidade baixa, denominados Neossolo Litólico e Neossolo Regolítico, onde se encontra vegetação típica do Bioma Cerrado principalmente nas fitofisionomias Savana e Campo rupestre.
Nas áreas de relevo aplainado, se encontram solos profundos ou medianamente profundos, como Latossolos e Cambissolos, ocupados com cultivo agrícola de grãos (soja e milho) e pastagem.
Um campo para a pesquisa
Em março de 2017, a Fapeg assinou um Termo de Cooperação com a Reserva Votorantim para apoio a projetos de pesquisa na área de conservação. A área é uma Reserva Privada de Desenvolvimento Sustentável (RPDS) da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), criada em parceria com o Governo de Goiás, com 32 mil hectares, protegida pela Votorantim há mais de 40 anos. Ela receberá iniciativas voltadas à proteção da biodiversidade do Cerrado, além da produção convencional de gado, plantio de soja e outras culturas, o que atualmente já acontece em 6 mil hectares da área total da reserva. De acordo com o projeto, a área será a primeira unidade de conservação de Goiás desse porte e uma das primeiras do País enquadrada como RPDS, categoria prevista no Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
Em maio de 2018, a Fapeg lançou a Chamada Pública nº 04/2018 para apoio à formulação e implantação de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento na Reserva Votorantim – Legado Verdes do Cerrado, em parceria com a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e com a empresa Reservas Votorantim Ltda, com investimento total para a realização de pesquisas básicas e aplicadas de R$ 300 mil, recursos de capital e custeio.
A chamada tinha como objetivo, apoiar propostas que contribuíssem para a conservação da natureza, no âmbito da Reserva Legado Verdes do Cerrado nas áreas de levantamento da fauna e flora; elaboração de estudo da hidrografia; e do impacto ambiental das zonas de cultivo. Foram consideradas prioritárias, conforme o edital, as propostas que representassem esforços de médio e longo prazo visando a atingir impacto duradouro para a conservação dos habitats e espécies – alvos da proposta – e que demonstrassem viabilidade no alcance dos resultados.