Educação decolonial é tema do penúltimo encontro do webinário Caminhos para Educação 4.0

webinárioO webinário Caminhos para Educação 4.0: Desafios e Oportunidades teve como convidados desta terça-feira, 25, Fabio Oliveira, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), que falou sobre A educação do campo como laboratório de pensamento: caminhos para descolonização do saber, e a professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Barbra Sabota, que abordou o tema EducAção e Distância: reflexões sobre processos didáticos em tempo de ensino remoto emergencial. O tema da mesa virtual foi Educação decolonial. O debate foi mediado pelo chefe de Gabinete da Fapeg e organizador do webinário, Diogo Mochcovitch, que é doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

As atividades do evento estão sendo realizadas desde o dia 11 de agosto, todas as terças-feiras e sextas-feiras, das 16 às 18 horas, com transmissão pelo canal oficial da Fapeg no Youtube, onde estão disponíveis os vídeos anteriores. O webinário busca discutir novos caminhos para a educação reunindo especialistas de Goiás e de outros Estados para uma troca de experiências com a finalidade de mapear ações estratégicas no âmbito da educação e tecnologia e apontar novas direções metodológicas tanto para a formação dos professores quanto para o ensino dos estudantes.

O resultado deste ciclo de debates vai compor subsídios estratégicos para a elaboração de um edital para pesquisa que a Fapeg pretende lançar em 2021 sobre a educação 4.0. Ao final, ainda neste ano, será publicado um dossiê especial em parceria com a revista Plurais, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), vinculado à linha de pesquisa “Educação, Escola e Tecnologias”, do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias (PPG-IELT).

webinário educação decolonialA proposta apresentada pela professora Barbra Sabota para o debate partiu da ideia de questionar distância, educação e ação em tempos de ensino remoto emergencial, evidenciando que “para que haja educação é importante um engajamento ativo do aprendiz e do docente e que é preciso pensar numa ação contextual, seja social, política, econômica que acaba interferindo no modo de ensinar”. Segundo ela, a “construção colonial de tempo passa muito rápido e nem sempre a gente tem tempo para parar e refletir sobre o que nós estamos fazendo dentro da escola, pela escola, para a escola, com a escola, e de repente veio a pandemia e fez isso tudo parar”.

Ela aponta que, com a pandemia os professores, que já enfrentavam alguns desafios na educação tiveram que acrescentar novos desafios, incluindo o de ensinar de modo remoto. “Isso tudo nos pegou de surpresa e não tivemos tempo para assimilar o que acontecia e nem para pensar sobre a viabilidade de manter ou não as aulas. E tudo foi sendo definido por outras pessoas que nem sempre participam do contexto escolar”, comenta.

Barbra Sabota destaca que para recuperar o verdadeiro sentido da educação é preciso favorecer processos de mudanças capazes de fomentar a justiça social. “Nesse momento de pandemia, ainda que eu tenha resistência ao ensino remoto, eu penso que ele pode ser uma alternativa para promover a justiça social. Tenho buscado agir nas minhas aulas e projetos favorecendo o debate, explorando as tecnologias para a problematização daquilo que a gente tem passado no cotidiano. Tenho atuado para promover o letramento digital dos meus alunos sem perder de vista a discussão sobre as nossas vivências, as nossas responsabilidades para que a gente possa manter a nossa presença, ainda que a gente esteja conversando por meio de uma tela”.

As mesmas ferramentas que são utilizadas para produzir fake news pode ser usada para uma educação crítico transformadora, ressalta a professora. “Com as tecnologias digitais a gente pode optar por disseminar as notícias falsas, as antinotícias, a gente optar por replicar comportamentos do opressor, ou a gente pode problematizar as práticas desses usos dessas tecnologias no cotidiano e favorecer espaços de falas e horizontalização das hierarquias que são duas questões muito importantes de modo a capitalizar o alcance das agendas dos grupos minorizados, ressalta.

A professora aponta que é necessário colocar em foco os caminhos que são invisibilizados e que as pessoas que têm estado silenciadas façam parte também dessa construção de uma educação diferente. “Que nossas praxiologias atuem para fazer girar a episteme do ser e do saber e para que a gente busque se conectar um pouco mais com a nossa essência. Eu acredito que há sempre espaço para mudança quando se busca caminhos e não receitas,” conclui.

Educação do Campo
webinário aFábio Oliveira é professor de Filosofia da Educação no curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo em Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro. Segundo ele, um curso que nasce a partir da demanda de movimentos sociais, da luta pelo direito à educação e pela terra e da necessidade da educação pública e gratuita de avançar no que se refere ao seu projeto de expansão da cidadania no Brasil.

Diante desse panorama, o professor afirma que o curso de Educação do Campo cumpre o desafio de questionar as bases da produção do saber com uma característica crítica e com a necessidade de se pensar a educação à luz da decolonialidade. “A pedagogia que inspira a educação do campo é a pedagogia da alternância, ou seja, uma proposta que interrompe com uma concepção de produção de saber elitizada, inacessível para boa parte da população brasileira. A educação do campo tem a proposta de investir no debate como forma de pluridiversificar a sociedade viciada em padrões de conhecimento que ainda são fundados pelo regime colonial,” destaca.

Para Fábio Oliveira, a maneira de naturalizar as ideias do colonizador europeu como superiores às dos povos nativos, que faz com que o modo de vida, o saber, a cultura nativos sejam vistos sempre como inferior é a mesma dinâmica que se estabeleceu nos novos modelos de organização social quando se refere à relação cidade e campo. Nesta relação, ele explica que a cidade aparece sempre como esse “locus” do desenvolvimento, do progresso da cultura, da manifestação cultural, porque de certa maneira ela expressa de modo muito mais evidente os padrões de um colonizador europeu, quando o campo continua sendo descrito como esse lugar do atraso.

“O colonizador destrói o imaginário do outro, invisibiliza, subalterniza enquanto impõe o seu próprio imaginário no outro, que passa a manifestar então o desejo de se tornar, um dia, o colonizador ou pelo menos semelhante a ele. É dentro desse aporte teórico que o movimento decolonial que passa a brotar na América Latina permite pensar uma educação crítica no sentido de projetar uma educação intercultural capaz de enfrentar as raízes coloniais que ainda operam de modo a manter um regime epistemicida,” acredita. Por isso, o professor aponta para a importância de se trazer os saberes marginalizados, periféricos para o epicentro da discussão como crítica ao processo de colonização que também se deu dentro das estruturas das instituições de ensino.

“Nesse contexto eu entendo a potência de um curso como a educação do campo como um laboratório de pensamento. Agora não é mais o campo aguardando o que os grandes centros vão criar para que tardiamente chegue de forma obsoleta, mas o campo vai pensar e não vai precisar mais que alguém da cidade o descreva de forma caricata. Ele vai falar em nome próprio’, comenta o professor.

Para o professor, as relações de poder nunca desaparecem, pois fazem parte da história e “negá-las não seria um caminho, mas elas podem ser reconstruídas e transformadas, dando visibilidade para outras formas de pensamento, outras cosmovisões, outras cosmologias, outras histórias para construção de um outro modo de estar no mundo, de se perceber e de interagir com esse mundo”, comenta o professor.

“Para que esse espaço ou fronteira possa ser alcançada eu acredito que seja fundamental a dimensão utópica que nos permite um encontro não somente através da dor que nos une enquanto povo, enquanto nação, comunidade, mas também num encontro pela alegria de quem cria e quem expande a possibilidade de viver de forma mais harmônica. Não se trata de uma educação que apenas interrompa os fluxos de violência e opressão, mas uma educação que viva e faça viver outras formas de estar no mundo. É preciso criar novas epistemologias nos espaços de ensino para que a gente possa efetivamente imaginar e construir um outro mundo”, analisa Fábio Oliveira.

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