Indústrias são maiores consumidoras de energia no Brasil

O Brasil é o oitavo maior consumidor de energia elétrica no mundo. Com o aumento da demanda no país nas últimas décadas, a saída foi investir na construção de novas usinas hidrelétricas. Atualmente, a matriz hidráulica é a maior fonte de energia do país, com 68,6% da capacidade instalada. Entretanto, esses empreendimentos não buscam atender prioritariamente as necessidades da população. Pesquisa desenvolvida por professor do Laboratório de Estudos e Pesquisas das Dinâmicas Territoriais (Laboter) da Universidade Federal de Goiás (UFG) confirmou que maior parte da energia produzida no Brasil e em Goiás é consumida pelas indústrias.

Para isso, foi feito o mapeamento das redes de transmissão, distribuição e de consumo de energia elétrica no país e no estado com o intuito de traçar uma relação com a dinâmica socioeconômica. O estudo foi feito com base nos dados de 2013 da Empresa de Pesquisa Energética. De acordo com o pesquisador e coordenador do Laboter, Denis Castilho, houve um aumento na produção de energia nos últimos anos. No entanto, esse crescimento está relacionado principalmente ao consumo industrial: 39,8% da energia produzida em todo o país é destinada ao setor, enquanto que em Goiás esse percentual é de 35,9%.

Segundo o pesquisador, em Goiás, é possível observar que os principais municípios consumidores de energia, onde há maior concentração de subestações de grande porte, são os que possuem atividades industriais, sobretudo voltadas para a produção de alimentos, mineração e agroindústria. São cidades como Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis, no centro goiano, Rio Verde, Itumbiara e Catalão, na porção sul, Niquelândia e Minaçu, na região norte, e Luziânia, no entorno de Brasília. Há também uma relação entre o aumento da produção em grandes hidrelétricas e o consumo pelas indústrias. “Uma pequena central hidrelétrica consegue atender a demanda de municípios, o que, obviamente, vai depender do tamanho e do consumo. Só que essa mesma central hidrelétrica não consegue fornecer energia suficiente para uma grande mineradora”, justifica Denis Castilho sobre as usinas de grande porte construídas nas últimas décadas no Brasil.

No entanto, atualmente é observada uma realidade contraditória em relação à demanda: dentre a quantidade de consumidores, a indústria representa apenas 0,8%, enquanto 85,4% são consumidores residenciais. “Se, por um lado, observa-se o privilégio de algumas áreas pela oferta de energia elétrica, e, por consequência, de alguns grupos, por outro, há a ausência desse insumo para outros grupos. Essa característica da rede de energia elétrica em Goiás possui estreita relação com a divisão territorial do trabalho”, explica o pesquisador.

A pesquisa demonstrou ainda que a expansão de alguns dos grandes empreendimentos de geração de energia em Goiás se estrutura para fornecimento a outras regiões do país, em especial ao Sudeste. Isso porque, as redes de transmissão e subestações que cortam o território goiano estão configuradas para abastecer o Sistema Interligado Nacional. De acordo com Denis Castilho, atualmente Goiás é um exportador de energia elétrica para outras regiões do país, uma vez que produz mais do que consome.

Tarifa

Outra questão verificada pela pesquisa é a relação da produção com o preço repassado ao consumidor. O pesquisador alerta que, com a reforma no setor elétrico nos últimos anos, a regulação dos preços é feita de acordo com a média internacional, o que encarece a tarifa, junto com as tributações, já que a maior fonte de energia mundial são as termoelétricas e não as hidrelétricas, como no Brasil. Ele também enfatiza que, apesar dos altos custos para a construção de usinas hidrelétricas, o custo operacional para a produção de energia nesse modelo é barato, o que atrai o investimento de empresas. “Hoje a energia elétrica se tornou um grande negócio no Brasil. Grandes empresas estão entrando no ramo da produção, porque a concessão de uma hidrelétrica garante a taxa de lucratividade para a empresa geradora”, argumenta.

Fonte : Ascom UFG – Texto: Serena Veloso

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