Internações por diabetes e complicações custam mais que outras doenças

pesquisa internações por diabetesEstudo recentemente publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health, por pesquisadores do INCT para Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS), revela que internações por diabetes e complicações dela decorrentes são mais caras que internações não relacionadas à doença e suas comorbidades. Intitulado Disease and Economic Burden of Hospitalizations Attributable to Diabetes Mellitus (DM) and Its Complications: A Nationwide Study in Brazil, o artigo aponta que o custo médio para hospitalização de um indivíduo adulto custou R$ 1.240,75 no SUS, enquanto o custo médio de uma hospitalização por diabetes e doenças relacionadas custou aproximadamente 19% a mais, atingindo o valor de R$ 1.478,75.

O estudo Disease and Economic Burden of Hospitalizations Attributable to Diabetes Mellitus (DM) and Its Complications: A Nationwide Study in Brazil, recentemente publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health, revela que internações por diabetes e complicações dela decorrentes custam mais caro que internações não relacionadas à doença e suas comorbidades. Enquanto o custo médio para hospitalização de um indivíduo adulto custou R$ 1.240,75, o custo médio de uma hospitalização por diabetes e doenças relacionadas custou aproximadamente 19% mais, atingindo o valor de R$ 1.478,75. Os resultados apontam, ainda, que entre as internações atribuíveis ao DM, as que decorrem de doenças renais (R$ 2.803,00) e das doenças cardiovasculares (R$ 2.675,00) foram as que apresentaram maior custo médio.

A pesquisa foi desenvolvida em uma colaboração de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Avaliação de Tecnologias em Saúde (INCT/IATS), programa coordenado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O estudo de custos das doenças crônicas no Brasil ocorre em consonância com a implementação do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), atendendo a uma demanda do Ministério da Saúde.

Os INCTs foram criados para agregar, de forma articulada, os melhores grupos de pesquisa na fronteira da ciência e em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do país; impulsionar a pesquisa científica básica e fundamental competitiva internacionalmente; estimular o desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica de ponta associada a aplicações para promover a inovação e o espírito empreendedor. além do Ministério da Ciência Tecnologia, Inovações e Comunicações e do CNPq, participam a CAPES e as Fundações de Amparo à Pesquisa Estaduais, além de cooperações internacionais. Mais de 100 institutos funcionam atualmente, nas mais diversas áreas do conhecimento.

A pesquisa

As estimativas da pesquisa do IATS foram feitas com base na prevalência auto-referida de diabetes derivada da Pesquisa Nacional de Saúde (2013) e considerando a população maior de 18 anos e nas 27 Unidades da Federação, regiões e país como um todo. Os dados brutos de hospitalização foram obtidos dos arquivos do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS). As internações foram categorizadas em dois grupos: (a) DM propriamente dito e (b) complicações crônicas do DM e outras doenças relacionadas. A proporção de internações por DM foi estimada pelo método do risco atribuível para o segundo grupo. Esse método considera que os pacientes diabéticos utilizam mais os serviços de saúde do que os não-diabéticos e que uma parte dos cuidados associados a esses cuidados médicos pode ser atribuída ao DM. O risco de apresentar determinada condição médica, de acordo com a presença ou não de DM, e a proporção da população com a doença são combinados para calcular a fração etiológica.

Estimou-se que 17.320.339 indivíduos adultos no país seriam diabéticos. Um total de 11.3 milhões de hospitalizações foram registradas em 2014, dos quais 8.6 milhões (76,2%) foram em adultos. Destas internações, 313.273 foram por DM, correspondendo a 3,6% das internações totais e representando uma taxa de internação de 22,8/10.000 adultos. DM per se representou 41,9% das internações, seguido das doenças cardiovasculares atribuíveis ao diabetes (26,5%). As internações devido ao DM e condições relacionadas custaram R$ 463 milhões, representando 4,3% dos custos totais de hospitalizações no SUS (R$ 10,6 bilhões). A diferença entre as regiões do Brasil é bastante expressiva, variando o custo entre 18 milhões de reais para a Região Norte e 224 milhões de reais para a Região Sudeste.

As taxas de hospitalização da população adulta foram de 3,5 e 3,8/10.000 para homens e mulheres (respectivamente) entre 20-44 anos, e 146 e 133,3 para a faixa etária de 75 anos ou mais. Quando considerado o número absoluto e a taxa de hospitalização bruta, as mulheres tiveram mais internações que os homens. No entanto, ao considerar as taxas ajustadas por idade, estas são mais elevadas para os homens (23,9/10.000 habitantes) quando comparadas às mulheres (21,9/10.000). Este estudo apresentou uma visão geral detalhada das internações atribuíveis ao DM no Brasil considerando a perspectiva do SUS. Compreender os custos do diabetes e suas principais complicações é crucial para aumentar a conscientização e permitir a avaliação de estratégias para reduzir sua prevalência e seu impacto, analisam os autores.

Leia entrevista com a pesquisadora do IATS, Michelle Quarti Machado da Rosa, coautora do estudo e Bolsista de Desenvolvimento Tecnológico Industrial do CNPq, Nível B:

O estudo revela quanto custa a internação hospitalar de pacientes por diabetes e suas complicações no Brasil. Também informa que este tipo de internação é mais onerosa que a média das internações. O que isso representa para a saúde pública do país?

Michelle – Para entendermos o impacto desta diferença, podemos começar com os números do diabetes mellitus (DM) no Brasil. Nós somos o 4º país no ranking no número de indivíduos com diabetes no mundo. Em 2013, o IBGE divulgou dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) (este inquérito visa produzir dados nacionais sobre a situação de saúde e os estilos de vida da população brasileira) revelando que 6,2% da população de 18 anos ou mais de idade referiram diagnóstico médico de diabetes. Julgamos que este seja um número subestimado, uma vez existem estudos brasileiros que demonstram que 50% de indivíduos com diabetes desconhecem a doença.

Nesse sentido, isso pode resultar em pacientes buscando cuidados quando já estão com complicações pelo diabetes, consequentemente, um tratamento ainda mais oneroso para o sistema e para o paciente. Além disso, em função das complicações, pacientes diabéticos estão em maior risco de desenvolver outras doenças em comparação a não diabéticos. O DM está classificado entre as principais causas de cegueira, insuficiência renal e amputação de membros inferiores em muitos países, ao passo que cerca de 50% das pessoas com diabetes morrem de doença cardiovascular [3]. Portanto, uma parcela de utilização de cuidados de saúde associado a essas condições médicas é atribuível ao diabetes. Portanto, pacientes com diabetes vão precisar mais do sistema de saúde. Nossos dados demonstram o impacto do custo das hospitalizações por diabetes sob a perspectiva do sistema de saúde pública, mas também colocam em evidência a carga pelo desconhecimento da doença, reforçando a importância de ações preventivas no combate ao diabetes.

Como a senhora qualifica a carga econômica e social provocada pela doença? De que forma os achados podem contribuir com a gestão dos recursos da Saúde? Quais outros aspectos da pesquisa a senhora destacaria como úteis a gestão do SUS?

Michelle – O diabetes impõe uma grande carga econômica nos indivíduos, uma vez que a doença aumenta o uso de serviços de saúde, a perda de produtividade e a incapacidade. O aumento da prevalência do diabetes em países de baixa e média renda tem causado relevante impacto econômico e social, tanto no que diz respeito aos encargos da doença, quanto as causas de incapacidade, redução da qualidade de vida e morte, resultantes das complicações da doença. Segundo o Global Burden of Disease Study de 2015, o diabetes está entre as 10 principais causas de anos vividos com incapacidade (AVI) no Brasil. Estamos preparando o artigo que vai divulgar nossos dados relacionados aos custos indiretos do diabetes no Brasil.

Neste estudo, estimamos que os custos das internações por diabetes e condições relacionadas chegaram a R$ 463 milhões em 2014, representando 4,3% dos custos totais de hospitalizações no SUS (R$ 10.6 bilhões). A diferença entre as regiões do Brasil é bastante expressiva, variando o custo entre 18 milhões de reais para a Região Norte e 224 milhões de reais para a Região Sudeste. Nesse mesmo ano, o total de gastos com saúde no Brasil foi de 8% do Produto Interno Bruto, dos quais 46% estavam associados a despesas com saúde pública (R$ 1,060 per capita). Esse gasto equivale a R$ 3,36 por adulto pelo governo federal somente com hospitalizações por DM e suas complicações.

O valor médio de internação de um adulto por diabetes foi 19% maior que uma internação sem diabetes, e as internações por doenças renais e cardiovasculares foram as que tiveram maior custo médio. A documentação do impacto econômico nacional do diabetes, sem utilização de dados internacionais, pode orientar o estabelecimento de prioridades na pesquisa e na prestação de cuidados de saúde, incluindo a prevenção, o diagnóstico e o tratamento do diabetes.

Em sua visão, qual melhor caminho para o enfrentamento do diabetes? Medidas preventivas podem ser adotadas como uma atitude individual? Devem pautar políticas públicas?

Michelle – Nos últimos anos, através da qualificação do atendimento no SUS, o Brasil tem elaborado diferentes políticas públicas, na tentativa de promover melhor acesso aos serviços de saúde, reduzindo desigualdade social e incentivando estratégias de prevenção à Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). O Ministério da Saúde, em 2001, estabeleceu as diretrizes e metas para a Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus no Sistema Único de Saúde. Como parte das metas, foi realizado um programa nacional de triagem de diabetes. O custo por caso diagnosticado foi estimado em R$ 45,00 (ano 2001). Campanhas como esta podem mobilizar a população e o sistema de saúde, sugerindo seu potencial uso na prevenção do diabetes em ambientes específicos.

Em julho de 2011 o Ministério da Saúde publicou o “Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DNCT) no Brasil” onde considera a atenção básica fundamental na prevenção de doenças crônicas. Baseado em dados da PNS, um estudo demonstrou que mais da metade da população brasileira refere estar cadastrada nas unidades de saúde da família, sendo maior na área rural, além de ter havido crescimento na cobertura nos últimos cinco anos. No ano de 2012, o Ministério da Saúde implementou o programa da Farmácia Popular, aumentando o subsidio para compra de medicamentos básicos para doenças como diabetes e hipertensão.

Aqui foram citados (brevemente) políticas públicas e ações governamentais que geraram impacto no atendimento aos pacientes que utilizam o SUS. Ainda que novas estratégias e tecnologias tenham sido incorporadas nos sistemas de saúde do Brasil, muitas pessoas com DM ainda têm acesso limitado aos cuidados de saúde devido aos altos custos associados e porque os serviços de saúde pública não estão disponíveis para todos, fazendo com que os custos indiretos permaneçam excedendo os custos diretos. Nesse sentido, políticas de prevenção como a Academia da Saúde e o próprio programa e saúde da família precisam ser mantidos e ampliados.

Outra estratégia que poderia entrar na criação de políticas públicas, é o subsídio para compra de alimentos saudáveis. Pacientes com diabetes precisam fazer uma dieta balanceada para manter o controle glicêmico, alimentos como frutas e verduras e produtos de baixo teor calórico, são caros e dificultam o acesso à população mais necessitada.

Fonte: Coordenação de Comunicação Social do CNPq

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