Projeto apoiado pela Capes faz descobertas em mar profundo
Uma descoberta associada ao “Projeto ASpECTO – Assimetria na distribuição de energia entre as correntes de contorno oeste do Atlântico Sul durante os últimos 130 ka e seu impacto sobre o clima da América do Sul”, financiado no âmbito do Programa Capes/IODP, foi abordada no programa Repórter ECO, da TV Cultura. “Nós descobrimos que, em intervalos específicos dos últimos 30 mil anos, a estrutura da porção superficial do Oceano Atlântico equatorial sofreu mudanças extremamente significativas e abruptas. Estas mudanças foram responsáveis por alterar não apenas a estrutura física da coluna de água, mas também causaram marcante modificação na biota que habita esta região”, explica um dos coordenadores do projeto Cristiano M. Chiessi, professor da Universidade de São Paulo (USP).
O coordenador explica que as mudanças ocorreram em momentos específicos nos quais a Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico (ou a “grande circulação do Atlântico”) esteve muito enfraquecida. “Como as projeções climáticas indicam que esta mesma circulação deve sofrer significativo enfraquecimento até o final deste século, conhecer as possíveis consequências deste enfraquecimento é de fundamental importância para nos prepararmos adequadamente para tal evento.” Um artigo sobre o assunto foi publicado na Revista Nature em maio deste ano.
Outros resultados
No âmbito do projeto, também foi descoberto que o dióxido de carbono lançado na atmosfera nos mesmos intervalos dos últimos 30 mil anos tiveram origem nos oceanos e chegou até a atmosfera terrestre por meio de uma intensificação da ventilação da porção profunda do Oceano Austral (o oceano que circunda a Antárctica) e também por um enfraquecimento da produtividade primária oceânica. “Esta descoberta publicada em um artigo em abril deste ano juntamente com aquela publicada no artigo de Portilho-Ramos et al. (2017) nos mostra o papel fundamental que diminuições na intensidade da Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico podem ter para o clima e a biota do planeta”, explica Chiessi.
Futuro
Segundo o coordenador, as expectativas para o projeto são excelentes em termos de avanços científicos e, principalmente, na formação de recursos humanos de alto nível. “Estamos avançando de maneira significativa em uma área de fronteira, isto é, o conhecimento dos oceanos profundos. Em função da sua extensa área oceânica, o conhecimento do comportamento dos oceanos profundos é absolutamente fundamental para o Brasil.”
Cristiano ressalta que os impactos de um projeto como este são enormes pois produzem ciência de ponta e formam recursos humanos de alto nível em uma área de interesse estratégico para o Brasil, isto é, as ciências do mar profundo. “Durante muito tempo as pesquisas nos oceanos profundos foram tímidas no país. Mais recentemente, entretanto, esta área da ciência tem ganhado atenção e os frutos desta atenção estão começando a se tornar palpáveis para o país. Neste sentido, o apoio de agências de fomento como a CAPES é absolutamente fundamental. Sem estes recursos, estas pesquisas não poderiam ser executadas.”
Dentre outras atividades, as próximas etapas de desenvolvimento do projeto envolvem a investigação detalhada dos efeitos que alterações pretéritas no aporte de águas do Oceano Índico ao Oceano Atlântico Sul tiveram sobre as chuvas no Brasil. “Nossas pesquisas e aquelas de um grande número de outros grupos também serão impulsionadas caso o navio de pesquisas JOIDES Resolution do ‘International Ocean Discovery Program’ venha, de fato, para o Atlântico Sul dentro de poucos anos”, explica o professor.
Sobre o programa
O International Ocean Discovery Program (IODP) é um programa internacional de pesquisas marinhas, que visa investigar a história e a estrutura da Terra, a partir do registro em sedimentos e rochas do fundo do mar, e monitorar ambientes de sub-superfície. O programa reúne parte significativa da comunidade científica atuante nas ciências do mar em águas profundas de diversos países.
Para alcançar seus objetivos, usa avançada tecnologia em perfuração oceânica como instrumento essencial para novas descobertas, permitindo a disseminação de dados e amostras a partir de arquivos globais, particularmente para os países membros do programa.
O sistema de perfuração é apoiado por um parque analítico a bordo do Navio de Pesquisa JOIDES Resolution, composto por equipamentos de última geração voltados a pesquisa geofísica, geoquímica, microbiológica e paleoclimática. Além da infraestrutura a bordo, o IODP conta com apoio de numerosas instituições de pesquisa e formação de recursos humanos nos diferentes países que atualmente compõem o Programa.
Desde 2013, o Brasil, por meio de financiamento viabilizado pela Capes, é membro do consórcio JOIDES Resolution e colabora com o Programa IODP.
Atualmente, a participação do Brasil prevê uma vaga em cada expedição no Navio de Pesquisa do JOIDES Resolution (até 2 vagas podem ser disponibilizadas dependendo da demanda); utilização por parte de brasileiros de amostras previamente coletadas de programas anteriores como o Deep Sea Drilling Project (DSDP) e do Ocean Drilling Program (ODP) e atualmente coletadas pelo Programa IODP, por meio da preparação da “Sample Request” com suporte do Comitê Científico do Programa no Brasil; um membro no “Facility Board” do Navio de Pesquisa JOIDES Resolution; um representante brasileiro no “Scientific Evaluation Panel” (SEP) do IODP; e um representante brasileiro no Subgrupo “Site Survey” do SEP/IODP.
Para executar as atividades previstas no Programa, a Capes conta com o apoio de um Comitê Científico e um Comitê Executivo.
Para saber mais sobre o programa em http://iodp.tamu.edu/index.html e http://iodp.org/.
Fonte: Capes