Pesquisa fomentada pela Fapeg sobre sementes do Cerrado recebe destaque internacional
A revista científica Agronomy Journal, sediada em Madison, Wisconsin, nos Estados Unidos, trouxe na sua edição de fevereiro deste ano, o artigo da pesquisadora Érica Fernandes Leão Araújo, agrônoma, professora efetiva do Instituto Federal Goiano (IF Goiano), campus Urutaí. A revista tem alcance internacional e recebe a melhor qualificação da Capes para revistas científicas mundiais – Qualis Capes – A1, o que permite uma boa visibilidade internacional para o artigo, para a região do Cerrado e, consequentemente, para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), que fomenta a pesquisa que deu origem ao artigo, dentro do Doutorado em Agronomia, na linha de pesquisa em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia. O projeto de pesquisa de Érica conta com orientação da professora Dra. Eli Regina Barboza de Souza (UFG).
Intitulado “Evaluation of the desiccation of Campomanesia adamantium seed using radiographic analysis and the relation with physiological potential“, o artigo traz contribuições importantes para a ciência no que se refere às sementes de plantas do Cerrado. A pesquisadora revela que o artigo servirá de base científica para o armazenamento de sementes de Campomanesia adamantium (gabiroba) e de outras espécies do Cerrado com a mesma característica de sementes com sensibilidade à desidratação, como a cagaita, mangaba e guanandi. Ela explica que muitas sementes de espécies do Cerrado apresentam esta sensibilidade e isso prejudica o armazenamento, uma vez que ele é normalmente realizado a partir de sementes com baixo teor de água. “A perda de água pelas sementes é um fenômeno necessário para armazenamento convencional. As sementes precisam estar secas para serem armazenadas com eficiência. Se armazenadas úmidas elas vão deteriorar rapidamente e podem ser atacadas por patógenos”, esclarece a pesquisadora.
Ferramenta inovadora na pesquisa
Segundo Érica, o armazenamento de sementes permite a manutenção da biodiversidade vegetal do nosso bioma e ainda viabiliza a produção de mudas destas espécies. A pesquisa usa uma ferramenta inovadora e automatizada para identificar o potencial fisiológico das sementes e a relação com a perda de água, que são as imagens de raio-x, correlacionando a morfologia interna com germinação e vigor, buscando aperfeiçoar a reprodução para garantir a sobrevivência da espécie.
A Campomanesia adamantium (gabiroba) é nativa da região do Cerrado brasileiro. Sua propagação mais comum e usual é por sementes, e essa forma de reprodução tem como principal vantagem a possibilidade de armazenamento por períodos mais longos que as estruturas vegetativas. Érica explica que não há informações exatas sobre a extinção desta espécie, porém a ameaça ao bioma Cerrado justifica trabalhos com espécies nativas. Atividades antrópicas têm ameaçado a biodiversidade dos biomas brasileiros. Estima-se que o Cerrado já apresenta mais de 40% de sua área ocupada por pastagens plantadas e agricultura. Para a pesquisadora, a manutenção de recursos genéticos vegetais visa principalmente garantir uma representatividade da biodiversidade e possibilitar a produção de mudas em períodos e locais distintos.
No caso da gabiroba, a importância de seu estudo se justifica também por ser uma espécie que apresenta frutos muito apreciados pela população dos locais de ocorrência. Além de serem consumidos in natura, também são utilizados na forma de doces, sorvetes, refrescos e, muitas vezes, como flavorizantes em destilados alcoólicos. O uso medicinal de diversas partes da planta também já foi relatado na literatura, conta a pesquisadora.
Os experimentos da pesquisa referente ao artigo publicado foram desenvolvidos no Instituto Federal Goiano (IF Goiano) – campus Urutaí e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP (Esalq/USP) – Piracicaba. As sementes foram coletadas das plantas da coleção de espécies nativas da UEG- Ipameri e teve também a parceria da UFG, Goiânia.
O artigo
Para o artigo foi realizada uma coleta de frutos e extração das sementes. As sementes foram secas em estufa até atingirem seis níveis diferentes de teor de água, a partir daí foram obtidas imagens radiografadas das sementes, nos diferentes níveis de teor de água. As imagens foram analisadas por meio de software automatizado e foi identificada a ocorrência de injúrias físicas e o espaço interno livre das sementes em cada nível de água. As conclusões foram que:
– A desidratação das sementes de Campomanesia adamantium é acompanhada pelo decréscimo na viabilidade e vigor;
– As injúrias físicas e o espaço interno livre nas sementes, decorrentes da secagem, aumentam à medida que são desidratadas;
– As imagens de Raios-x podem ser utilizadas para avaliar a morfologia interna das sementes; e
– A morfologia interna está relacionada com a germinação e o vigor das sementes.
Pesquisa fomentada pela Fapeg
O projeto de pesquisa de doutorado de Érica conta com fomento da Fapeg, por meio da chamada pública 03/2016, de Bolsas de Formação de Mestrado e Doutorado e visa elucidar vários aspectos relacionados à fenologia e à reprodução de Campomanesia adamantium e já proporcionou a publicação de quatro artigos científicos. Segundo Érica, a fenologia ajuda a entender o comportamento reprodutivo e vegetativo da planta, como por exemplo quando são emitidas folhas novas, flores e frutos. O estudo publicado na revista Agronomy Journal foi um desdobramento da pesquisa da fenologia. Ela conta que a fase de experimentos já foi encerrada e que os trabalhos estão na fase final de redação da tese.
Os principais resultados obtidos com a tese foram o estabelecimento de padrões vegetativos e reprodutivos para a espécie na região do Cerrado, como a época e os fatores climáticos que interferem na emissão de folhas, flores e frutos na espécie. Isso possibilitará o planejamento para coleta de frutos e sementes para extrativismo responsável, armazenamento de sementes em bancos de sementes e produção de mudas. Além disso, a tese possibilitou a geração de informações que viabilizem o armazenamento e a identificação do potencial fisiológico das sementes, como o potencial de germinação e vigor da espécie.
Érica é formada em Agronomia pela UEG, em Ipameri, e desde a graduação, em 2010, desenvolve pesquisas com sementes. Fez mestrado na Unesp em Jaboticabal e agora cursa o doutorado. Professora efetiva do IF Goiano, campus Urutaí, onde atua desde 2015 ministrando disciplinas na área de sementes e coordenando o laboratório de sementes do campus. Ela conta que, desde a graduação se identificou com a pesquisa científica e que sempre trabalha com temas relacionados a sementes: desde estudos de dormência, maturação e qualidade fisiológica de sementes. “Sou apaixonada pela Agronomia, principalmente por trabalhar com a base do desenvolvimento das plantas que são as sementes”.
Texto: Helenice Ferreira, da Assessoria de Comunicação social da Fapeg
Fotos: Leão Araújo