Pesquisa fomentada pela Fapeg registra fragmento de Bagre em rochas da Era dos Dinossauros em Goiás

Você conhece ou já ouviu falar de um peixe chamado Bagre? Mais da metade das espécies conhecidas atualmente são nativas da América do Sul, e uma pesquisa recente que recebe fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), revelou que parentes dele já habitavam o estado de Goiás há cerca de 72 milhões a 66 milhões de anos, época da extinção dos grandes dinossauros, no estágio Maastrichtiano, o último momento do Período Cretáceo. A Fapeg financia o projeto de pesquisa intitulado “Do Cretáceo de Goiás para o mundo: exploração, prospecção, coleta, preparação e curadoria dos dinossauros e outros fósseis de rochas do Grupo Bauru” por meio da Chamada Pública nº 03/2022 – Programa de Auxílio à Pesquisa Científica e Tecnológica.

O artigo científico “Primeiro registro de Siluriformes da porção mais setentrional do Grupo Bauru (Cretáceo Superior) na região Centro-Oeste do Brasil”, resultado da pesquisa, foi publicado em uma das melhores revistas da área das Geociências do mundo: Journal of South American Earth Sciences (da Holanda). O estudo descreve o primeiro registro de peixes ósseos da ordem siluriformes (bagres) da Era dos dinossauros no Estado de Goiás e está revolucionando a história deste grupo para a América do Sul”. A afirmação é do professor Carlos Roberto dos Anjos Candeiro, do Curso de Geologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), do Programa em Pós-Graduação em Biodiversidade Animal/UFG e do futuro Programa de Pós-Graduação em Geociências/Campus Aparecida de Goiânia/UFG que foi aprovado recentemente pela CAPES.

Roberto Candeiro coordena uma equipe multidisciplinar e internacional/nacional, com colaborações de paleontólogos da Suíça e Uruguai, além de pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade de São Paulo (USP/Ribeirão Preto) e Universidade Federal do Tocantins (UFT). Ele explica, ainda, que os achados da pesquisa colaboraram para atualizações de paleogeográficos e paleoambientes do Cretáceo Superior do bagre sul-americano.

A Fapeg investiu um total de R$ 80.000,00 no projeto. Segundo Roberto Candeiro, o edital é de grande importância, pois, “além de valorizar as pesquisas realizadas dentro do estado de Goiás, ele colabora para a formação de alunos de graduações e pós-graduações do estado; proporciona e estimula a produção científica com dados dos dinossauros e outras formas de vidas que viveram em nosso estado; e divulga de forma ampla a pesquisa paleontológica em alto nível internacional”.

Do espinho à descoberta

Paleoarte do bagre feita pelo paleontólogo Luciano Vidal – doutorando da UFRJ

“Um fragmento da extremidade de espinho peitoral do que foi a nadadeira do peixe foi recuperado a partir da lavagem de tela (peneira) de sedimentos, espécime esse que representa claramente um importante registro de bagres (Siluriformes) do Neocretáceo da América do Sul. O material, que pertenceu a um peixe de pequenas proporções foi encontrado em depósitos sedimentares no Sul de Goiás, no município de Rio Verde (Formação Marília, Grupo Bauru) e possui semelhanças com formas encontradas em rochas mais antigas no oeste do estado de São Paulo e do Triângulo Mineiro. Os mesmos registros foram reportados para rochas da Argentina, Bolívia e Peru,” relata o professor, acrescentando que o registro de Goiás vem provar que as terras do nosso estado abrigaram no final do Período Cretáceo uma grande riqueza da paleodiversidade da América do Sul. “O material goiano vem expandir geograficamente mais ao norte o registro de bagres para esse período no nosso continente”. A Formação Marília é uma formação geológica que ocorre nos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo e é a mais prolífica em termos de restos de vertebrados do Cretáceo no estado de Goiás.

Professor Roberto Candeiro e fragmento do peixe

Segundo Roberto, a inclusão do novo material de Goiás no conjunto de dados para as áreas mencionadas dentro de um cenário paleoambiental fornece evidências de que o bagre do Neocretáceo tinha uma distribuição mais ampla do que se conhecia anteriormente. Os pesquisadores descrevem no artigo o primeiro registro de um siluriforme da Formação Marília, recentemente recuperado e estudado pelo Laboratório de Paleontologia e Evolução do Curso de Geologia da Universidade Federal de Goiás. Também discutem seu significado paleogeográfico e biocronológico para a compreensão do registro siluriforme da América do Sul. Segundo o artigo, “nossos resultados lançam luz sobre a composição faunística dos vertebrados terrestres e de água doce na região, particularmente durante o Cretáceo Superior”.

Equipe

A equipe é formada por Carlos Roberto A. Candeiro, Fernanda Canile, Gleicy Kelly Queiroz, Danillo Santos (Universidade Federal de Goiás); Paulo Marques Brito (Universidade do Estado do Rio de Janeiro); Lionel Cavin (Muséum d´histoire naturelle de Genève, Suiça); Yuri Modesto Alves (Universidade Federal do Tocantins); Fellipe Muniz (Universidade de São Paulo/Ribeirão Preto); e Pablo Toriño (Universidad de la República, Uruguay). A paleoarte do bagre foi feita pelo paleontólogo Luciano Vidal (atualmente doutorando da UFRJ).

O professor Roberto Candeiro é membro de importantes sociedades paleontológicas do Brasil e do exterior. Possui inúmeros artigos científicos em revistas internacionais e nacionais, cerca de uma centena de contribuições em eventos científicos nacionais e internacionais e desenvolve pesquisas contínuas e trabalhos paleontológicos de campo sistemáticos em Goiás. Em 2021, ele e uma equipe de pesquisadores publicaram outro artigo científico, cuja pesquisa também contou com fomento da Fapeg por meio de um outro edital, em parceria com o Fundo Newton/British Council – (Confap/Academias Britânicas) que por meio de chamada pública de 2016, viabilizou a vinda do pesquisador do Reino Unido ao Brasil para desenvolver estudos com parceiros brasileiros. No caso, foi contemplado o projeto da área da Paleontologia – Dinosaurs and other fossil vertebrates from the Bauru Group of southern Goiás State, Central Brazil – e trouxe a Goiás o pesquisador Stephen Louis Brusatte, da School of GeoSciences, da University of Edinburgh, para empreender estudos em conjunto com o professor Carlos, que contribuíram para colocar o Estado de Goiás no mapa mundial de pesquisas de dinossauros e de outras áreas da paleontologia do Período Cretáceo. Leia matéria sobre este outro artigo aqui.

Helenice Ferreira, Comunicação Setorial Fapeg
Fotos: Arquivo do pesquisador

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