Fapeg e Fundação Grupo Boticário fomentam pesquisa para a conservação e melhoramento genético do baru

Uma solução para a cadeia produtiva do baru, fruto do baruzeiro (Dipteryx alata Vogel), espécie do Cerrado que se destaca pela diversidade de usos (medicinal, madeireiro e alimentar) está sendo proposta pela bióloga, Thannya Nascimento Soares, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás (UFG) em parceria com o Dr. Lázaro José Chaves, da Escola de Agronomia/UFG, e equipe, fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). Em Goiás, a cadeia produtiva do baru desenvolve-se a partir do extrativismo e algumas iniciativas de cultivo, mas vem enfrentando problemas relacionados à falta de articulação entre as instituições de pesquisa e a cadeia produtiva, que não trabalham em sintonia, gerando desafios como falta de uniformidade e irregularidade na produção e na qualidade dos frutos. A espécie também sofre riscos de perda de diversidade genética pelo desmatamento das áreas de ocorrência.

A doutora Thannya Soares vai coordenar uma pesquisa que foi selecionada por meio de edital lançado pela Fapeg em parceria com a Fundação Grupo Boticário. O edital propõe fomentar soluções que visem o fortalecimento das cadeias produtivas de frutos nativos do Cerrado, em Goiás, ampliando o impacto socioambiental positivo das cadeias da sociobiodiversidade no Cerrado, através do desenvolvimento de soluções práticas e inovadoras. Para este projeto a Fapeg vai destinar R$ 88.191,00.

 A ideia dos pesquisadores foi formar uma equipe multidisciplinar de instituições dos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal, além de produtores e representantes da comunidade Kalunga do Vão do Moleque, em Cavalcante, Goiás, e criar, então, a Rede CoMBaru – Rede de Conservação e Melhoramento Genético do Baru. A proposta é conectar pessoas e instituições para estruturar o primeiro programa de conservação e melhoramento genético do baru no estado de Goiás. O projeto inicia com as atividades em Goiás, porém como existem instituições participantes do MT, MS e DF, existe a possibilidade de ampliação das atividades para todo o Centro-Oeste, explica a professora Thannya.

A criação da rede, segundo ela, possibilitará estabelecer uma integração dos pesquisadores de diferentes instituições que estudam o baru, gerando impacto positivo na cadeia produtiva, “tanto impacto ambiental direto e imediato na conservação do baru quanto impactos econômicos e sociais de médio a longo prazo, com a produção de mudas de alta qualidade”, destaca.

Planta em estágio reprodutivo

O baru

Os frutos apresentam alto valor nutricional e múltiplas possibilidades de usos na indústria alimentícia, o que gera oportunidades de negócios no mercado interno e externo. A professora explica que as pesquisas revelam que o baruzeiro possui alta diversidade morfológica dos frutos, sementes e formatos da árvore, permitindo a exploração dessa variabilidade para diferentes fins.

Entre os serviços e produtos propostos no plano de trabalho deste projeto, e que serão entregues no prazo de 24 meses estão: estabelecer e consolidar a rede CoMBaru; elaborar um catálogo da diversidade morfoagronômica e genética das plantas da coleção de germoplasma do baru;  definir ideotipos do baruzeiro, ou seja plantas modelo para servir como guia para o melhoramento genético para atender as demandas de diferentes sistemas de cultivo (comerciais, sistemas agroflorestais, integração lavoura-pecuária-floresta, entre outros); instalar ensaios de avaliação de progênies (plantas filhas) das matrizes selecionadas; avaliar protocolos para a propagação vegetativa da espécie; impulsionar a conservação ex situ do baru (conservação fora do ambiente da planta), via ampliação da coleção de germoplasma da UFG com o intuito de preservar a variabilidade genética das plantas que existem na natureza.

 A coleção de germoplasma de baru da Escola de Agronomia da UFG foi implementada em 2012, pelo professor Lázaro José Chaves, com sementes de 25 procedências no Cerrado, em seis estados. A maioria das plantas está em estágio reprodutivo, iniciando um ciclo de seleção de matrizes superiores. A coleção será disponibilizada para a pesquisa colaborativa visando a conservação e melhoramento genético do baru a partir da exploração da variabilidade genética da coleção, contribuindo para o uso sustentável da espécie. Thannya ressalta que “sem a coleção de germoplasma a nossa proposta não existiria”.

Os trabalhos contarão com a participação da UFG, Embrapa Cerrados, Universidade Federal de Rondonópolis, Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Universidade Federal de Rondonópolis, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Instituto Federal Goiano, Câmpus Posse e a Fazenda Redenção na Comunidade Kalunga Vão do Moleque, Cavalcante-GO, e as ações serão desenvolvidas nas áreas experimentais da Escola de Agronomia da UFG em Goiânia-GO, do Instituto Federal Goiano no Câmpus Posse-GO e da Embrapa Cerrados em Planaltina-DF e em na propriedade rural Fazenda Redenção, da Comunidade do Vão do Moleque em Cavalcante-GO.

Os membros da comunidade do Vão do Moleque apresentarão demandas em relação às características a serem trabalhadas no programa de melhoramento participativo. A bióloga Ianara Coutinho e sua mãe Ana Aparecida são quilombolas, membros da equipe e residem na Fazenda Redenção situada na comunidade Kalunga do Vão do Moleque de Cavalcante. Nesta propriedade será instalado um ensaio de avaliação para o melhoramento participativo do baru. Elas serão um elo entre a Rede CoMBaru e a comunidade Kalunga. O envolvimento dos demais produtores rurais e agricultores familiares se dará a partir do mapeamento das propriedades e comunidades em Goiás.

A fazenda fica em uma unidade de conservação que é Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga com mais de 230 mil hectares de Cerrado protegido, abrigando cerca de quatro mil pessoas em um território que se estende pelos municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás. A área ocupada pela comunidade Kalunga é reconhecida pelo Governo de Goiás, desde 1991, como sítio histórico que abriga o Patrimônio Cultural Kalunga (Lei Estadual Nº 11.409/1991). E em fevereiro de 2021, o local foi reconhecido pela ONU como o primeiro Território e Área Conservada por Comunidades Indígenas e Locais (Ticca) do Brasil.

Estarão envolvidos nas ações, 16 pesquisadores, incluindo a coordenadora Thannya Soares. Também participarão: Dr. Alexandre Siqueira Guedes Coelho, com contribuições em Genética e Biotecnologia, da Escola de Agronomia/UFG; Dra. Camilla Marques de Lucena, com contribuições em Genética e Cadeia produtiva, do Instituto de Biociências /UFMS; Dra. Eli Regina Barboza de Souza, com testes de propagação vegetativa, da Escola de Agronomia/UFG; Me. Géssica Xavier Torres, testes de propagação vegetativa, da Escola de Agronomia/UFG; Dra. Helenice Moura Gonçalves, nutrição de plantas e ensaio de avaliação, da Embrapa Cerrados; Dr. Lázaro José Chaves, com melhoramento Genético, Conservação e coleta de germoplasma, da Escola de Agronomia/UFG; Dra. Maria Madalena Rinaldi, com contribuições em caracterização de frutos, da Embrapa Cerrados.

Plantio da segunda geração de seleção para precocidade

E ainda, Dra. Mariana Pires de Campos Telles, com contribuições em genética e biotecnologia, do Instituto de Ciências Biológicas/UFG; Dra. Miriam Suzane Vidotti, com genética e biotecnologia/avaliação, conservação e coleta de germoplasma, da Escola de Agronomia/UFG; Dra. Nicali Bleyer Ferreira dos Santos, contribuições na área de cadeia produtiva e comunidade, da Escola de Formação de Professores e Humanidades/ PUCGO; Dra. Ramilla dos Santos Braga Ferreira, genética e biotecnologia, do Instituto de Ciências Exatas e Naturais/UFR; Dr. Reinaldo Farias Paiva de Lucena, genética e cadeia, do Instituto de Biociências/UFMS;  Dra. Rejane Araújo Guimarães, ensaios de seleção e avaliação, do Instituto Federal Goiano;  e Ianara Francisco Coutinho, bióloga, Fazenda Redenção e produtora rural Ana Aparecida Francisco da Conceição, que vão contribuir com melhoramento participativo, ambas da Fazenda Redenção, da comunidade kalunga Vão do Moleque, em Cavalcante, Goiás.

Texto: Helenice Ferreira

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