Mais de 63% dos atendimentos no Hugo são de motociclistas

No primeiro semestre deste ano o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) realizou 4.888 atendimentos a vítimas de acidente de trânsito, sendo 3.106 deles para motociclistas, o equivalente a 63% do total. Além disso, das 131 mortes registradas no período, 55 foram de condutores de motos. O diretor-técnico do Hugo, Ricardo Furtado Mendonça, atribui o alto índice a pouca proteção do veículo.“Esses números refletem a vulnerabilidade desse tipo de veículo. Os pacientes chegam ao hospital quase sempre com mais de uma fratura, além de traumatismos cranianos e torácicos. A maioria precisa passar por mais de uma cirurgia”, relatou.

O número de amputações dos condutores de motos também é alto. Dos 49 procedimentos realizados nos seis primeiros meses deste ano, 26 foram de motociclistas. Em 2014, foram 74 amputações de motociclistas. Para Ricardo Mendonça, a retirada de um membro causa prejuízos incalculáveis. “Essas vítimas, a maioria homens, que geralmente estão na faixa etária entre 19 e 50 anos, ficam fora do mercado de trabalho por algum tempo até se readequarem. Muitos, inclusive, acabam se aposentando. É prejuízo para o Estado que arca com a internação e para muitas famílias, que perdem o provedor da casa”, informou.

Causas

Os dados mais recentes do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) mostram que em 2013 mais de 21 mil acidentes foram registrados e em 70% deles (15.235) os motociclistas estavam envolvidos. Desse total, 118 condutores que conduziram o veículo sobre duas rodas morreram.  Conforme o diretor-técnico do Detran, João Balestra, as causas desses acidentes estão ligadas à imprudência dos condutores. “Diariamente os órgãos fiscalizadores se deparam com motoristas sem habilitação, passageiros sem capacete, ou muitas vezes o equipamento está solto na cabeça. Além disso, há o excesso de velocidade, ultrapassagens perigosas, entre outras infrações”, detalhou Balestra.

O perito Antenor Pinheiro, especialista em trânsito, afirma que o problema de acidentes envolvendo motociclistas é consequência de uma série de fatores, entre eles antropológicos e de fiscalização. “Somos uma sociedade violenta e que acredita na impunidade. Hoje, se mata no trânsito e a pena é pagar cestas básicas. Há muitas leis, que não são cumpridas. É necessário uma fiscalização maior, mais rigor. Estamos numa guerra urbana e as autoridades não se dão conta”, reclamou.

Outro ponto levantado por ele é o processo para obtenção da CNH, categoria A. “A prova não acrescenta em nada para o candidato. Não forma condutores cidadãos. Todo esse processo tem mais a ver com cidadania do que com habilidade, mas não é o que se aprende lá”, disse. O Detran-GO lidera o movimento nacional para modificar a resolução de execução dos testes para a categoria A. A demanda está nas mãos do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) há 3 anos e, segundo o órgão, isso deve ser resolvido este ano. “Se a resolução for modificada, será o primeiro passo para um caminho longo”, finalizou o especialista.

Governo na palma da mão

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