Celebração de centenário de escritores vira livro e DVD

Quatro grandes escritores da atualidade deram voz a quatro grandes escritores que projetaram Goiás para o mundo. Bariani Ortêncio falou de Eli Brasiliense, o mais metafórico e criativo dos escritores, sempre preocupado com as questões sociais. Em seguida, Lêda Selma apresentou ao público Carmo Bernardes, o escritor de tantas faces: contista, romancista, cronista e muito mais. Miguel Jorge apresentou a vida e obra de Bernardo Élis, nome singular da literatura brasileira. As apresentações foram encerradas por Gilberto Mendonça Teles, que falou sobre José J. Veiga, que renovou a literatura nacional. A celebração da literatura goiana e brasileira aconteceu no Centro Cultural Oscar Niemeyer, na noite da última sexta-feira, dia 20.

Para a titular  da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Seduce), Raquel Teixeira, foi com muito amor e orgulho que a equipe da pasta preparou essa noite de celebração do legado, regionalismo, folclore e costumes da literatura produzida em Goiás. “Esses quatro nomes mostraram Goiás para o Brasil e para o mundo de uma forma excepcional e grandiosa”, disse Raquel. Para ela, a homenagem foi engrandecida pelos palestrantes, outros quatro destaques da literatura brasileira. A secretária anunciou que os textos apresentados vão ganhar uma edição ampliada, com biografia dos autores, capa dura e DVD da celebração inclusos. Esse material será distribuído para todas as escolas públicas de Goiás.

Centenário

Antes de falar do homenageado, o escritor Bariani Ortêncio relembrou histórias curiosas sobre a formação do Estado e da capital, como o fato de Goiás ter pertencido à capitania de São Paulo e o nome Goiânia ter vindo de um poema épico de Manuel de Carvalho Ramos. Bariani levou o público a um passeio pela história, com rodas de conversa, longas amizades e o início de carreiras literárias. Para ele, Eli Brasiliense preocupava-se mais com o ser humano e com as misérias sociais. Sua linguagem trazia a fala do povo, expressões coloquiais e sugestivas tiragens, por exemplo: As velhas cardavam algodão, as línguas teciam intrigas e Meninos-lombriga comiam terra e logo a terra os cobria.

A apresentação da escritora Lêda Selma sobre Carmo Bernardes teve um tom especial com a presença das filhas do autor na plateia, Ana e Anita. O escritor foi definido como autodidata, estudioso, pesquisador e curioso. “Qualquer coisa que ele via, queria saber com profundidade, não se limitava a ficar na superficialidade”, disse Lêda. Sua escrita passava com naturalidade da linguagem coloquial, campeira, à linguagem culta, com um estilo elegante que se destacava pelo respeito às normas gramaticais. Com 18 livros publicados, sua obra tem cunho humanístico, que aborda o confronto do homem com seus conflitos, que reproduz os hábitos, falares, mitos e tradições do sertanejo, que tem raízes na infância e adolescência do escritor.

Ao falar de Bernardo Élis, Miguel Jorge disse que estamos diante de um nome singular da literatura brasileira, que preferiu trabalhar com figuras anônimas, inseridas num contexto sertanejo, muitas vezes de natureza selvagem. “Há nele, desde o início, um caráter decisivamente real, rico, no tratamento referencial de um povo, levando-se em conta o sempre misterioso aro alquímico das paixões humanas”, analisa Miguel. Para exemplificar, o escritor leu alguns trechos de obras de Bernardo Élis, como do conto Assim Como Hoje, Como Ontem, Como Amanhã, Como Depois: “A volúpia violenta e agressiva do Cabo Sulivero via em Put-Kôe o instrumento do seu prazer. Então, ele compra a indiazinha do seu pai Man-kôe, que em Craô quer dizer Ema Queimada, em troca de pinga”.

Encerrando a celebração do centenário, Gilberto Mendonça Teles falou da renovação do conto brasileiro por José J. Veiga. Considerado o maior contista da atualidade, o autor terá sua obra reeditada pela Cia das Letras, uma das mais importantes editoras do País. Segundo Teles, o escritor viveu tranquilo e silencioso, tal como a linguagem de seus livros, linguagem para ser lida e fruída em silêncio, palavra por palavra, na esfoladura da língua, sutil e tactilmente. “Ele focalizava de longe a paisagem goiana, que ali reponta esteticamente transmudada, com outras dimensões de tempo e movimento e num processo que tinha muito a ver com o surrealismo, com o processo kafkaniano e poetizante da linguagem, porquanto possui maior grau de pura criação literária.”

Governo na palma da mão

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