SED abre 13ª mostra de artesanato no Palácio Pedro Ludovico Teixeira
Obras são do artesão Carlos Antônio da Silva; evento é aberto ao público até 10 de abril
No tempo em que o tempo sobrava, para o descanso e para a prosa com os amigos, ou se enchia com a lida serena e prazerosa, sem correria, no campo, Carlos Antônio da Silva extraía daquilo que via, ainda menino, o que viria a ser, no futuro, o motivo do seu trabalho. Nos semblantes e nos cenários que cria para os seus personagens, o artesão de Aparecida de Goiânia traz a essência desse cotidiano de simplicidade e sossego. Suas cerâmicas, retratando o trabalho e o modo de viver na roça, com riqueza de detalhes e acabamento primoroso, estão expostas no hall de entrada do Palácio Pedro Ludovico Teixeira, na Praça Cívica, até o próximo dia 10 de abril.
Trata-se da 13ª edição do programa Goiás Mostra Artesanato, da Gerência de Artesanato da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação (SED), aberta na manhã desta segunda-feira, 30 de março, pelo superintendente executivo de Indústria e Comércio, Vítor Hugo Queiroz, pelo superintendente de Micro e Pequenas Empresas, Thiago de Souza Peixoto Falbo, e pelo gerente André Franco. Segundo André, esta é uma exposição muito esperada, em função da dificuldade em reunir as 20 cerâmicas de Carlos Antônio que, pelo nível de detalhamento, exige tempo para serem feitas. “Queríamos que fosse uma das primeiras, pela alta qualidade e pelo valor cultural, mas só agora foi possível”, comentou.
As exposições no Palácio Pedro Ludovico Teixeira têm como principal objetivo mostrar a produção artesanal do estado de Goiás, dando o destaque que cada artesão merece. Em breve, o espaço disponível para as mostras será ampliado, o que permitirá o redimensionamento das exposições, favorecendo inclusive um maior contato dos artesãos com o público.
O trabalho
Quem visita a exposição de Carlos Antônio faz uma viagem ao campo, ao passado. Encontra lá fiandeiras na roda de fiar; cardando, ao pé do rádio; ou descaroçando algodão, sentada com recato em frente ao esposo; outras no preparo do milho para a pamonha, descascando pequi ou catando milho, ou ainda lavando roupa na bica d’água; o homem simples cortando a unha do pé com canivete, proseando com o amigo. Os cenários, com galinhas, cães e gatos, bancos, cabaças, batedores de roupa, jacás, peneiras, rodas de fiar e outros elementos cheios de significação, despertam a memória afetiva dos visitantes. Detalhes como o de um gato à espreita de uma lagartixa na parede mostram a observação apurada do artista.
“Muito importante pra mim esta exposição”, disse Carlos Antônio, durante a solenidade de abertura da mostra. Segundo destacou o artesão, o seu trabalho mostra a vida simples do campo, mas, apresenta muito mais que isso. “Essa é a minha vida, aquilo que eu vivo e acredito, a simplicidade, eu sou assim, é assim que eu quero viver, aprendi isso com meus pais, meus avós”, salientou. De tudo o que faz, o que mais gosta é das fiandeiras. “Minha avó Maria Machado de Melo Teles fiava, e eu, quando terminava minhas obrigações, a ajudava . Então, quando faço uma fiandeira, eu reproduzo o que eu vivi, a minha realidade”, completou.
Para a diretora do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (UFG), Dilamar Candida Martins, que participou da abertura da mostra, ao retratar o trabalho, as festas e a vida no campo, Carlos Antônio o faz com uma capacidade extraordinária de percepção da nossa cultura, das nossas raízes. Dilamar apresentou ao artesão o espaço do museu para possível exposição em setembro, quando será realizada a Primavera dos Museus com mostras e oficinas dirigidas aos estudantes da UFG.
Desafios
Para Carlos Antônio, que pela primeira vez expõe individualmente seus trabalhos, o maior desafio que tem pela frente é o de conciliar o que faz com a sobrevivência da família. Ele se descobriu artesão em 1999, ao auxiliar um amigo a fazer vasos e outros objetos. De lá pra cá, deixou de vez os desenhos e pinturas, iniciados ainda na infância, para se dedicar ao artesanato.
Mas, embora queira se dedicar inteiramente ao ofício que é sua paixão, a vida tem exigido dele muito mais que o artesanato ainda pôde lhe dar. “É preciso fazer uns ‘bicos’ para garantir escola, comida e transporte para a família”, afirmou Carlos. Segundo ele, no ano passado, teve que trabalhar um bom tempo como pedreiro para manter a casa. O artesão também faz peças em isopor e resina para festas de aniversário e decorações.
Sua oficina é nos fundos do quintal e quase sempre o seu trabalho interfere na rotina e no espaço da casa. “Meu grande sonho é ter um espaço para montar a oficina e viver do que gosto de fazer”, disse o ceramista, que expõe suas peças na Central de Artesanato Goiano, onde vende cerca de três obras por mês, em média. Pelas características do seu trabalho e pelo tempo que demanda cada peça, é também vontade do artesão ensinar o ofício a outras pessoas e ampliar a sua produção.
Fotos: Jayr Inácio
Comunicação Setorial
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação (SED)
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