Aberta 14ª exposição de artesanato no Palácio Pedro Ludovico Teixeira
João Gomes da Silva, de Novo Gama, mostra 25 peças feitas com fibras vegetais, folhas, flores, frutos e sementes do Cerrado
A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação (SED) abriu, nesta segunda-feira (18/05), a 14ª edição do programa Goiás Mostra Artesanato, no hall de entrada do Palácio Pedro Ludovico Teixeira (PPLT), na Praça Cívica, em Goiânia. A exposição, que estará aberta à visitação pública de segunda a sexta-feira em horário comercial até o dia 29 deste mês, reúne 25 peças artesanais de João Gomes da Silva, o “Juão de Fibra”, da cidade de Novo Gama, no Entorno do Distrito Federal.
Os visitantes vão encontrar nesta mostra desde objetos de uso pessoal, como colares, bolsas e carteiras, a utilitários como tapetes, cestas, vasos e fruteiras, e objetos de decoração, como as mandalas e emas, cobras, jacarés, burros e tartarugas. Todas as peças têm como base as tramas feitas em capim e outras fibras vegetais. Entre os capins utilizados por João Gomes da Silva estão o colonião, capim dourado, capim de brejo, capim prata e capim jauzida, mas ele usa também fibras de bananeira, de açaí, de cisal e de diferentes palmeiras.
A abertura contou com a presença do superintendente executivo de Micro e Pequenas Empresas da SED, Thiago de Souza Peixoto Falbo, e do gerente de Artesanato da SED, André Franco, responsável pelo Goiás Mostra Artesanato e coordenador estadual do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB-GO). De acordo com o gerente, as exposições no PPLT têm por objetivo valorizar o artesanato goiano, destacando o melhor da produção no estado de forma individual. Essa curadoria resultará na publicação do trabalho de 50 artesãos goianos.
Na abertura da mostra, o superintendente executivo de Micro e Pequenas Empresas, Thiago Falbo, falou da importância do programa Goiás Mostra Artesanato para os artesãos goianos. Segundo ele, o programa valoriza o artesanato goiano que é de alta qualidade e cria condições para que muitos possam viver de sua arte. “Antes, o artesão não encontrava espaços para comercializar seus produtos nem as oportunidades que o Governo de Goiás vem propiciando”, disse ele, destacando as exposições no Palácio e na Casa do Artesão e também a participação nos eventos nacionais.
Segundo destacou Thiago Falbo, há atualmente 2.900 artesãos cadastrados na SED e, graças aos estímulos do Governo do Estado, mais de 100 já fizeram seus cadastros no programa Microempresas Individuais (MEI), do governo federal. “Nossos esforços são no sentido de ampliar ainda mais esse cadastro, para que os artesãos, com o CNPJ, possam alcançar maior autonomia e se projetarem no mercado”, afirmou o superintendente.
Juão de Fibra
Pela primeira vez expondo seu trabalho em Goiânia, João Gomes da Silva, 45 anos, é natural de Varjota, no Ceará. Aos 3 anos de idade, chegou em Brasília com a família e, aos seis anos, foi morar em Novo Gama, na região do Entorno do Distrito Federal. “Já naquele tempo, a natureza me chamava a atenção, eu via o Cerrado como possibilidade, eu punha o olho em uma pedra e já enxergava uma tartaruga, via uma folha e enxergava uma flor”, afirmou “Juão de Fibra”, justificando que não consegue ver a natureza sem a arte.
Antes de se especializar nas mais de 50 tramas de diferentes capins, João passou por sucessivos experimentos e técnicas. Mas foi com a mestra Antônia, da Vila Paranoá, em Brasília, que ele encontrou sua identidade como artesão. Ela fazia emas usando tramas de fibras e pinhas como complemento. “Eu aprendi com ela a fazer as emas, mas, fui incorporando outros elementos, como as penas de galinhas, por exemplo”, disse João, que no teste de novas fibras também foi criando as ferramentas para trabalhar com cada uma delas.
Daquele período em diante, João não parou mais. Experimentou de tudo e desenvolveu habilidades no trançado de buriti, babaçu, cisal e tantas outras fibras. “Eu utilizo todas, mas consegui aprimorar muito a trama de colonião que é o meu foco, que me projetou”, disse. O colonião, que, segundo ele, veio da África, ainda no período do Brasil colônia, para alimentar o gado, é autossustentável. Mesmo quando queimado ou cortado, fica a raiz que renasce. Além disso, está presente em praticamente todo o território brasileiro.
A colheita se dá no mês de janeiro, quando surgem os primeiros pendões que são mais fortes. “Eu colho o suficiente para cinco dias, pois preciso trançá-los ainda verdes. Depois de trançados, coloco no sol para secar e, só então, vou montar as peças que podem ser desde brincos e colares até paredes, cortinas, cestas, ou um teto”, afirmou. Quando João quer incorporar a tintura às peças ou a parte delas, utiliza como base o breu, que não deixa resíduos para a natureza. As sementes do colonião, ele põe para secar e, em seguida, faz o plantio em áreas onde ele não ocorre.
Os trançados de João têm de três a 35 fios, dependendo da largura da malha que ele deseja ou do tamanho dos objetos. Grande parte deles é feita em módulos. São pequenas lâminas ou bastões que são costurados com fio encerado ou com o próprio capim, para formar os objetos que o artesão planejou. Em alguns cestos, vasos e mandalas, ele utiliza os feixes de capim de diferentes tonalidades e pendões de açaí, entre outros, sem tramas, costurados em espiral.
Ensinar a arte
O artesão João Gomes da Silva tem tido o seu trabalho reconhecido em Brasília, Mato Grosso do Sul, Tocantins e em Goiás. Depois de fundar uma empresa, a Juão de Fibra, que atende a fundações culturais e a representações estaduais de cultura e artesanato, o artesão vem se dedicando a ensinar o seu ofício. Recentemente, ele participou de uma oficina promovida pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em Rio Verde, atendendo também a artesãos de Mineiros e Lagoa do Bauzinho.
“Eu agora quero repassar para outros artesãos todo o conhecimento que adquiri até hoje”, acentuou João Gomes, ao falar do que mais o envolve neste momento. Ele comprou uma pequena chácara em Novo Gama e pretende plantar ali o que precisa para o seu trabalho. “Foi fazer ali o meu shopping Center”,brincou. Para ele, o Cerrado é tudo. “É meu pai, minha mãe, é o meu chão, é de onde eu tiro o meu sustento”, acentuou.
Sonhos? João tem, e muitos. Um deles é levar a sua arte aos quatro cantos do Brasil. “Quando a gente faz alguma coisa tem que fazer o melhor que pode, e eu faço o melhor que posso, por isso quero reconhecido como o melhor no que eu faço, não só no país, mas no mundo”, disse. Outro sonho é o de ampliar o seu viveiro de orquídeas. “Quero envelhecer cuidando delas; eu amo as flores”, justificou.
Fotos: Jota Eurípedes
Comunicação Setorial
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