Marconi acredita que Temer retomará privatização da Celg

Ao ser entrevistado pelo presidente da Associação Goiana de Municípios, Cleudes Baré Bernardes, durante o Programa Sala de Visitas levado ao ar pela Rádio AGM, o governador Marconi Perillo fez duras críticas aos opositores da privatização da Celg. O processo está paralisado por determinação da presidente afastada, Dilma Rousseff. Embora não tenha conversado sobre o assunto com Michel Temer, o governador acredita que a privatização será finalmente concluída. “Seria absolutamente insensato se houvesse qualquer interrupção nesse curso”, comentou. Ele lamentou que Dilma tenha tomado a decisão de frear um processo que estava próximo de ser concluído por pressão de alguns movimentos sociais. E aproveitou para criticar aqueles que tentam tirar proveito político da privatização. “Quem é contra a privatização tem dois objetivos: primeiro é o de fazer demagogia, tentando tapear os funcionários para ganhar o voto deles. Segundo, é o desconhecimento de causa ou interesse em mamar nas tetas das empresas estatais”, sinalizou.

Pergunta – O senhor, que embora ainda jovem tem uma vivência madura na política brasileira, como vê este momento que o Brasil atravessa?
Marconi Perillo – Na verdade, o Brasil está passando por um momento de afirmação das nossas instituições e da nossa democracia. Este último teste foi decisivo para comprovar o valor das instituições fortalecidas – do judiciário e do Ministério Público – agindo como devem agir, cumprindo a legislação, punindo os responsáveis por desvios e corrupção. O Congresso Nacional também fazendo a sua parte, agindo institucionalmente, cumprindo a constituição e o Poder Executivo tendo que se vergar aos outros poderes e se comportar como uma instituição que está também submetida à repartição de poderes. Eu percebi nesse episódio que o Brasil está, a cada dia que passa, evoluindo no sentido de aprimorar-se democraticamente. Os políticos devem se ater aos atos públicos com transparência, com lisura e probidade porque a legislação está cada vez mais forte para punir todos aqueles que se desviam de suas finalidades, das suas funções e de seus objetivos. O que nós percebemos nos últimos 24 meses é que temos a maior crise econômica e política da história do Brasil. Temos uma inflação alta, os juros mais altos do mundo e dificuldades de toda ordem. Os estados e os municípios estão passando por uma penúria enorme. A população está perdendo o seu emprego, tem seus salários achatados, não pode consumir, não tem poupança. Quando ela deixa de consumir  a consequência é que os estados e os municípios também deixam de ter receitas. Como as demandas por serviços públicos crescem, os Estados e municípios não têm como fechar a conta. Então nós temos menos receita e mais despesas. Aí é preciso fazer cortes que muitas vezes prejudicam a população.

P – O governo está deixando mais de R$ 35 bilhões em restos a pagar. Qual foi o erro da política econômica do governo da presidente Dilma?
MP – Eu acho que sempre houve uma euforia artificial ou mesmo forjada nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Lula teve dois méritos, um deles foi levar Henrique Meirelles para o Banco Central, onde ele foi muito competente na medida em que conseguiu manter os pressupostos e os grandes legados do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em relação à estabilidade da economia, a consolidação do Plano Real e o fim da inflação. O governo do ex-presidente Lula também aproveitou-se da boa maré da economia internacional com preços altos das commodities. Isso tudo acabou sendo desperdiçado porque o Lula podia ter feito as reformas estruturantes e não fez. Os programas que já vinham dos governos de Fernando Henrique – dos quais alguns foram com sucesso também criados em Goiás – foram copiados, os nomes mudados e aí criou-se uma panaceia social. Muita gente acabou se inebriando por conta de uma propaganda que era um tanto utópica, mas que acabou pegando. As pessoas não perceberam que nós estávamos vivendo num País de faz de conta. De repente, tivemos que pagar a conta. Hoje nós estamos pagando a conta de governos que exageraram na dose em relação à má gestão, às benesses que foram oferecidas em troca de votos e vitórias eleitorais.

P – Qual a expectativa do sr. em relação ao governo Temer e sua equipe econômica?
MP – Eu acho que a escolha do Meirelles é muito boa. Acredito até que não haja melhor escolha do que essa no momento. O fato é que o Henrique Meirelles assumiu o governo Lula num momento em que ele estava substituindo o Fernando Henrique, que tinha deixado todos os pressupostos econômicos em andamento, havia criado o Plano Real e implementado várias mudanças estruturantes. A situação agora é diferente. A crise é muito forte. Tivemos um PIB negativo de 3,8% no ano passado. Caminhamos para ter um PIB negativo superior a 4% – e agora vai depender muito das ações de Henrique Meirelles para tentar reverter esse quadro. Nós não tínhamos os problemas que temos hoje na Petrobras, que está quebrada. Temos hoje situações temerárias na Eletrobrás, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal. A situação, como se vê, é muito mais difícil. Mas eu tenho confiança no presidente Temer, acho que ele vai montar uma equipe muito boa, o que poderá nos levar a um porto seguro. O começo do fim da crise econômica representará o fim da crise política. O que levou ao agravamento da crise econômica foi a crise política. O fato de a Câmara Federal estar batendo de frente com o Executivo, o fato de o Judiciário estar tomando medidas muitas vezes de competência do Legislativo, expõe uma situação delicada politicamente falando e que precisa ser resolvida.

P – A falta de habilidade da presidente Dilma Rousseff no trato com o Congresso Nacional evidenciou as pedaladas fiscais que acabaram no impeachment?
MP – Eu acho que muitas benesses foram lançadas, muitas medidas deixaram de ser tomadas com um único objetivo, o eleitoral. Esse foi um erro estratégico. Eu sempre digo que o estadista ou o bom gestor é aquele que sabe combinar gestão administrativa com gestão política. Eu já vi muitos exímios gestores políticos se dando mal porque não eram bons gestores administrativos. Da mesma forma que também já vi muitos bons gestores administrativos não se darem bem porque deixaram de ter habilidade política. Muitas vezes têm aqueles que não são nem bons gestores administrativos e nem bons gestores políticos.

P – O sr. tomou uma série de medidas para melhor a segurança pública no Estado, inclusive colocando o seu vice para comandar a pasta da Segurança Pública. Está colhendo bons resultados?
MP – O vice-governador está demonstrando um fôlego enorme, um foco total. Montou uma boa equipe operacional. Nós já anunciamos várias medidas para melhorar a segurança, como a incorporação de mais policiais através de concurso. Eu sei que a presença da polícia nas ruas, o vice-governador como secretário, atuando, estimulando, fortalecendo, ampliando a rede de tecnologia de informação, a rede de inteligência, nós felizmente conseguimos nesses últimos três meses, reduzir todos os indicadores, principalmente de homicídios. Essa sensação já começa a ser sentida pela sociedade. Agora surgiu o Novo Cangaço. Nós estamos agora investindo para combatê-lo em cidades do interior. Eu estou muito animado e percebo que o vice-governador está tendo fôlego e está muito animado para desenvolver essa tarefa.

P – O presidente Michel Temer anunciou cortes de ministérios. O sr. já fez isso em Goiás no início do atual governo. Acredita que essa atitude passa mais confiança ao investidor estrangeiro?
MP – Isso pode não trazer uma economia muito expressiva, embora traga também economia financeira, mas passa uma mensagem de austeridade, de responsabilidade. E isso granjeia credibilidade. Eu acho que para fora do Brasil, essa mensagem do presidente será recebida de forma positiva. Estive com o presidente Michel Temer, mostrei-lhe a minha reforma – disse que só temos dez secretarias em Goiás –, depois falei com Eliseu Padilha, que inclusive anotou as secretarias que nós temos em Goiás. O fato é que eu disse ao presidente que achava muito importante que reduzisse o número de ministérios e também a máquina administrativa, reduzindo o número de cargos comissionados. Eu percebo que ele está nessa direção e acho que assim sendo ele está no rumo certo.

P – O bom relacionamento que o sr. tem com o presidente Michel Temer sinaliza que a privatização da Celg seguirá o curso desejado pelo governo de Goiás?
MP – Eu não conversei com ele sobre a Celg. Mas, seria absolutamente insensato se houvesse qualquer interrupção nesse curso. Infelizmente a presidente Dilma mandou parar o processo de privatização por pressão de movimentos sociais. Eu diria que quem é contra a privatização tem dois objetivos: primeiro, é o de fazer demagogia, tentando tapear os funcionários para ganhar o voto deles; segundo, é o desconhecimento de causa ou interesse em mamar nas tetas das empresas estatais. Imagine se o presidente Fernando Henrique Cardoso não tivesse privatizado a Vale do Rio Doce, a Embraer, a companhia Siderúrgica Nacional, as Teles? O que teria acontecido no Brasil de hoje? Será que essas empresas todas não estariam na situação da Petrobras? Eu defendo um estado enxuto. No princípio era natural que o Estado ajudasse na criação dessas empresas para estimular o desenvolvimento nacional. Agora, não. Agora é preciso que o Estado cuide dos serviços que são essenciais para a população e não fique transformando essas empresas em cabides de emprego para apaniguados políticos. Na verdade, se as pessoas soubessem o que acontece nas estatais, ou o que tentam fazer nas estatais, não defenderiam nunca que elas continuassem nas mãos do governo. Defenderiam as privatizações para que elas possam oferecer bons serviços à população.

Governo na palma da mão

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