Janeiro 2013


 

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Especial – 14/01/2013 – 15:49:53

Mulheres para toda a obra


Capacidade das mulheres para a construção civil é valorizada pela Agehab nos canteiros de obras da empresa, em especial na Fábrica de Casas do Real Conquista, maior bairro construído pelo Governo do Estado em Goiânia


A presença feminina vem mudando a cara dos canteiros de obras. Na Fábrica de Casas do Residencial Real Conquista, em Goiânia, a presença de mulheres surpreende e está bem acima das estatísticas do mercado goiano. Dos 52 trabalhadores da Agência Goiana de Habitação (Agehab) que atuam na Fábrica, 28 são mulheres. O presidente da Agehab, Marcos Abrão Roriz, acredita que as inovações tecnológicas e a evolução dos processos construtivos têm facilitado ainda mais a contratação das mulheres na construção civil. Com o serviço pesado automatizado, as construtoras deixaram de avaliar somente a força física na hora da contratação.

 Lílian Braudes

A presença feminina vem mudando a cara dos canteiros de obras. Na avaliação do coordenador de Desenvolvimento Humano do Sindicato da Indústria da Construção no Estado de Goiás (Sinduscon-GO), Fabiano Santiago, o crescimento da mão de obra feminina na construção civil é evidente, mas ainda tímido em Goiás, em comparação com outros Estados, a exemplo de São Paulo. Já na Fábrica de Casas do Residencial Real Conquista, em Goiânia, a presença de mulheres surpreende e está bem acima das estatísticas do mercado goiano. Dos 52 trabalhadores da Agência Goiana de Habitação (Agehab) que atuam na Fábrica, 28 são mulheres, como a servente Luciene de Oliveira Cirino, 33 anos(foto), que não dispensa no batente as tranças, brincos e batom. 
Ela conta que a troca do trabalho de doméstica pela construção civil foi a melhor coisa que aconteceu na vida dela. Com o novo salário, em apenas três meses já trocou o fogão e está reformando sua casa no Real Conquista. “Estou conseguindo dar para meus dois filhos algo melhor e para mim e meu marido uma vida mais tranquila”. Luciene sonha alto e pensa em um dia trocar o capacete de servente pelo de engenheira. Atualmente, ela frequenta dois dos cursos oferecidos pela Unidade Descentralizada de Educação Profissional (Udep), da Secretaria de Ciência e Tecnologia (Sectec), instalada no Real Conquista em parceria com a Agehab.

O presidente da Agehab, Marcos Abrão Roriz, acredita que as inovações tecnológicas e a evolução dos processos construtivos têm facilitado ainda mais a contratação das mulheres na construção civil. Com o serviço pesado automatizado, as construtoras deixaram de avaliar somente a força física na hora da contratação. “Quesitos como organização, capacidade de trabalho em equipe e capricho ganharam espaço, por isso as mulheres conquistaram condições mais igualitárias no processo seletivo”. Ele cita ainda outro fator: as mulheres estudam mais, por isso alcançam melhor desempenho na prova escrita do processo seletivo simplificado aplicado pela Agência.
Engenheiro responsável pelos canteiros de obras da Agehab em Goiânia, Himerson Pereira Farias aponta razões práticas para a contratação de mão de obra feminina, como o aumento da produtividade. “A mulher é muito mais atenciosa, mais focada no serviço. Por isso, elas são tão valorizadas. Elas evitam desperdício de tempo e de material. Desde que trouxemos mulheres para a Fábrica de Casas da Agehab no Real Conquista, tivemos um aumento de cerca 25% da produtividade”. Ele salienta que prefere direcioná-las para os serviços de acabamento, a exemplo de assento de pisos e reboco. “Elas também são muito eficientes no assentamento de tijolos, na alvenaria. Mas a gente não tem distinção em relação a trabalho pesado para elas não. As mulheres também fazem serviço de carregamento de massa, entulhos e qualquer outro trabalho de pedreiro ou servente”, destaca.

Por causa desse trabalho aparentemente tão rude, Luciene capricha ainda mais no visual. “Se a gente deixar, o marido acaba nos vendo como um dos seus colegas. Por isso, tento ficar em casa o mais feminina possível”. Aliás, entre os benefícios de trabalhar na obra, Luciene cita outro, muito desejado pela maioria das mulheres, que é emagrecer. Em apenas três meses, ela já perdeu seis quilos.
No caso da também servente Celian da Conceição Ramos, 53 anos(foto), o emprego na Fábrica de Casas representou uma mudança total de vida, tanto financeira quanto pessoal. Depois de muito bater de porta em porta e ser recusada em vários empregos por causa da idade ou do peso, foi lá que ela encontrou a grande oportunidade de demonstrar sua capacidade. “Nos primeiros dias, o corpo dói muito e a gente pensa que não vai aguentar, mas abracei essa oportunidade que a Agehab me deu com todas as forças e já são quatro anos de trabalho na obra”.

Sistema Automatizado

Experiência e sexo não são requisitos da Agehab na contratação para a Fábrica de Casas, porque a Agehab faz o treinamento no próprio canteiro de obra, ensinando o serviço na prática. Isso porque a linha de produção do sistema utilizado, chamado Jet Casa, não exige mão de obra especializada, o que permite empregar os próprios moradores do residencial. De acordo com pesquisa pós-ocupação realizada pela equipe de trabalho social da Agehab, o impacto proporcionado pela empregabilidade dessa mão de obra das famílias atendidas pelos programas habitacionais do Governo de Goiás é altamente positivo, não só pela retirada da situação de risco social, mas pelo sentimento de responsabilidade despertado nesses trabalhadores em relação ao benefício da moradia adquirida.
O Jet Casa consiste na fabricação prévia de blocos em painéis estruturados em concreto com enchimento de tijolos cerâmicos de oito furos. Depois de coberto um dos lados dos tijolos, para economizar concreto e produzir uma parede mais leve, eles são colocados em formas pré-moldadas já com toda a tubulação elétrica e hidráulica embutida e espaços para instalar portas e janelas. Fica faltando a montagem e aplicação dos acabamentos no terreno da casa.

Valorização profissional

Foi de olho na valorização profissional e bom salário que a servente Vera Lúcia Alves Nogueira, 40 anos, deixou o emprego de doméstica. “Nunca mais volto a trabalhar em casa de família. Hoje me sinto reconhecida, com autoestima renovada. Tenho muito mais tempo para cuidar da minha casa e da minha família”. Ela deixou para trás a rotina de chegar ao ponto de ônibus de madrugada para estar no emprego às 7h30 e só retornar para casa às 20 horas.
Hoje, como vive no próprio residencial que ajuda a construir, ela gasta dez minutos no trajeto e tem mais qualidade de vida. Almoça em casa, dá banho no neto e o coloca na van que o leva para a escola. À noite, quando o marido chega, o jantar está pronto e a casa toda limpa. “Vida de mulher não é fácil, mas a gente é capaz. Eu me sinto realizada em todos os sentidos”.

Qualificação eleva chances de contratação feminina
Apesar do Sistema Jet Casa, utilizado na construção das moradias no Residencial Real Conquista, não exigir experiência ou qualificação prévia para contratação da mão de obra, a formação profissional ainda é a melhor forma de conquistar um lugar na construção civil. As mulheres já perceberam que as vagas existem e estão buscando a qualificação, principalmente nas entidades que compõem o Sistema S, como forma de entrar em um mercado com melhores salários e chances de crescimento.
O diretor da Escola Senai da Vila Canaã, referência em aprendizagem na construção civil, Hélio Vilaça, afirma que a participação de mulheres nos cursos da área é bem mais significativa hoje. Das 1.830 matrículas na construção civil em 2012, 255 são de mulheres, o que representa participação de 14%. Os cursos mais procurados por elas são de instalação hidráulica e elétrica e pedreiro em acabamento como assentamento de azulejo, cerâmica e pedra.
De acordo com ele, a empregabilidade de quem faz curso no Senai está em torno de 85% tanto entre homens quanto mulheres. Em sua opinião, o volume é bem alto e só não consegue colocação quem por algum motivo não demonstra interesse ou muda de área. “Vejo uma grande mobilização por parte das construtoras no incentivo à participação das mulheres na construção civil, o que tem mudado até mesmo o perfil desses canteiros de obras”. Em sua opinião, o próprio trabalhador altera o comportamento quando a mulher está por perto e já há menos preconceito.

Ex-vendedora, a técnica em Segurança do Trabalho Maria da Conceição Avelino do Nascimento, 44 anos, viu na construção civil a oportunidade de maiores rendimentos e de trabalhar com o que gosta. Uma das futuras moradoras do Residencial João Paulo II, em Goiânia, Maria da Conceição resolveu fazer o curso no Senac depois que participou de alguns mutirões que iniciaram a construção do residencial. “Vi que o mercado da construção civil estava aberto e procurei logo o curso, que tem duração de dois anos. Hoje, trabalho na construção da minha própria casa e dos futuros vizinhos”.

A nova oportunidade profissional foi conquistada ao ser aprovada em primeiro lugar no processo seletivo realizado assim que a Agehab assumiu as obras do João Paulo II. “Melhorei o rendimento da família e posso fazer compromisso com o dinheiro, coisa que é difícil quando não se tem salário fixo”. 

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