ENTRE O EXCESSO E A FALTA
Programa de Compliance Público da Secretaria de Estado da Segurança Pública
A ética foca na conduta das pessoas, em suas escolhas e modos de vida, e em como essas escolhas individuais influenciam a boa vida de todos em sociedade. Para nos orientarmos moralmente em nosso cotidiano, dispomos de valores morais e princípios éticos. Contudo, apesar de os usarmos diariamente, não paramos para pensar neles a todo momento, seja por meio de uma reflexão crítica ou mesmo casuística. Eles simplesmente nos ocorrem, a maior parte das vezes, subconscientemente.
Esses valores e princípios compõem uma espécie de pano de fundo, criando sentido, norte para nossas vidas. Desse modo, quando determinada escolha precisa ser tomada e ela não se harmoniza com nossos valores morais ou princípios éticos, essa automaticamente nos parece como algo sem sentido ou de baixo valor, sem que precisemos empreender uma análise sistemática da relação entre a escolha e o comprometimento moral em jogo.
Ora, em tempos de excesso de informação em rede, cabe a cada um se perguntar o que realmente importa, no interior de nossos valores morais e princípios éticos. Essa questão perpassa, outrossim, a ética procedimental nas demandas de natureza pública. O excesso de informações e de falas, qualquer que seja o meio, tem, como um de seus resultados, a indiferença da maioria e alguns movimentos febris de outros. Se nos processos administrativos internos, bem como nos procedimentos demandados ao público externo, essa lógica for seguida, o resultado não será tão diferente: os servidores públicos, em boa parte, acabarão atuando com indiferença em meio aos amontoados de processos, e colherão retornos febris do público externo (isso já não ocorre?).
A principal explicação para isso seria que, dentro de nossos sistemas de valores morais e de nossos princípios éticos, a burocratização, o excesso de procedimentos e as informações hiperbólicas não atendem nossas necessidades cotidianas, não cooperam para uma melhor convivência em sociedade, já que possuem baixo valor. Para trilharmos outra via, é preciso escolher trabalhar entre o excesso e a falta. E isso pode ser alcançado com comprometimento ético e reflexão crítica. Por exemplo: ao iniciar um novo processo, ao implantar um novo procedimento, estes bem poderiam ser sempre testados pelas questões: isso realmente importa? E a quem importa?
Eder David de Freitas Melo
Gerência de Planejamento Institucional
Superintendência de Gestão Integrada
Secretaria de Segurança Pública