Pesquisadores da Embrapa produzem mapas de áreas suscetíveis e vulneráveis à erosão

Mapas já estão disponíveis para consulta na plataforma do PronaSolos. Trata-se do mais abrangente mapeamento do gênero já realizado no País

Por MundoGEO

04/01/21 14h23

Um estudo inédito da Embrapa identificou e mapeou as áreas suscetíveis e vulneráveis à erosão hídrica em todo o território brasileiro, gerando mapas que foram disponibilizados à sociedade na plataforma tecnológica do Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos no Brasil (PronaSolos).

Os mapas nacionais de erodibilidade, suscetibilidade e vulnerabilidade dos solos à erosão hídrica são acessados facilmente por meio de um sistema de informações geográficas (SigWeb), e podem subsidiar o setor produtivo e o poder público na priorização e seleção de áreas para programas ou ações de conservação, recuperação ou reinserção de áreas com potencial produtivo. 

O método foi desenvolvido por uma equipe de pesquisadores e analistas da Embrapa Solos (RJ), formada por especialistas em ciência do solo, agrometeorologia, planejamento regional e agricultura digital. O trabalho contou com apoio de bolsistas do programa de doutorado em meio ambiente da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ/PPGMA). 

Além da plataforma do PronaSolos, os mapas e as respectivas informações técnicas também estarão disponíveis para consulta pública na Infraestrutura de Dados Espaciais da Embrapa (GeoInfo).  

Subsídios aos tomadores de decisão

De acordo com a especialista em geomática e agricultura digital da Embrapa Margareth Simões, que coordenou o processamento computacional do estudo, caracterizar a erosão do solo e avaliar custos e benefícios de práticas que promovam a sua prevenção são fundamentais para informar e subsidiar os tomadores de decisão, e também para apoiar políticas públicas orientadas à mitigação desse problema, que causa muitos prejuízos para a agropecuária nacional. “É o que preconiza a FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura] e é esse o objetivo principal desse trabalho de caracterização da erosão hídrica do solo nos estados brasileiros”, ressalta.

“O mapa de avaliação da vulnerabilidade dos solos à erosão hídrica é um modelo espacial importante, capaz de identificar áreas que demandam ações para mitigar processos erosivos em escala regional. Quando acessado na plataforma do PronaSolos, pode ser confrontado com algumas unidades de planejamento, como bacias hidrográficas”, explica o pesquisador da Embrapa Silvio Bhering, coordenador do portfólio de projetos de Solos do Brasil. 

Mapas

O mapa da suscetibilidade dos solos à erosão hídrica do Brasil expressa a sensibilidade dos solos à erosão provocada pela água em sua ambiência, ou seja, considerando a situação topográfica, ou relevo da paisagem, e as condições climáticas às quais estão submetidos. Os níveis de suscetibilidade são representados em cinco classes nominais de intensidade: muito baixa; baixa; média; alta e muito alta.

 

Já o mapa da vulnerabilidade dos solos à erosão hídrica do Brasil mostra o grau de vulnerabilidade dos solos aos processos erosivos considerando o nível de exposição em função da cobertura vegetal natural ou do uso agropecuário. Os níveis de vulnerabilidade são representados pelas mesmas cinco classes de intensidade. Dois mapas estão disponíveis, um com informações de 1986 e outro de 2019, permitindo a comparação nesse intervalo de quase quatro décadas. 

 

O mapa de erodibilidade dos solos do Brasil, também disponível na plataforma, expressa a capacidade do solo de resistir à erosão provocada pela água a partir de características intrínsecas, como a composição granulométrica, estrutura, conteúdo de carbono orgânico na camada superficial, permeabilidade, profundidade efetiva do solo e a presença ou ausência de camada compactada e pedregosidade. Esse modelo, ressaltam os pesquisadores, não considera fatores extrínsecos aos solos, como condições climáticas, relevo e cobertura vegetal.

 

Metodologias utilizadas  

As metodologias para os cálculos da suscetibilidade e da vulnerabilidade dos solos à erosão hídrica do Brasil utilizaram uma modelagem conceitual de integração temática, baseadas em conhecimento especialista.

Para o mapeamento da suscetibilidade, foram utilizados como modelos de entrada o mapa de erodibilidade dos solos do Brasil, carta temática gerada pela Embrapa Solos a partir da interpretação pedológica, considerando componentes do Mapa de Solos do Brasil, escala 1:250.000, lançado pelo IBGE em 2018; e o mapa de erosividade das chuvas do Brasil, desenvolvido pela Embrapa Solos com base nas estimativas de erosividade da chuva anual para todo o País, a partir dos dados mensais de precipitação da rede de Zoneamento Agrícola do Risco Climático (ZARC) e do Serviço Geológico do Brasil (CPRM(veja quadro 3).

“Também foram utilizadas para o mapa de suscetibilidade as classes de declividade geradas a partir de um modelo digital do terreno com 30 metros de resolução espacial, com base nos dados do Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), da Nasa“, acrescenta o pesquisador da Embrapa Rodrigo Demonte Ferraz.

Já a metodologia para cálculo da vulnerabilidade usou como modelos de entrada o mapa da suscetibilidade dos solos à erosão hídrica do Brasil desenvolvido neste estudo e o mapa de uso e cobertura da terra do MapBiomas. Foram produzidos dois mapas de vulnerabilidade, um com dados de 1986 e outro de 2019. Dessa forma, utilizando os recursos de visualização da plataforma do PronaSolos, pode-se comparar a evolução da vulnerabilidade à erosão hídrica dos últimos 34 anos em todo o País. 

Tanto para o mapeamento da suscetibilidade quanto para os da vulnerabilidade, foram desenvolvidos modelos baseados em conhecimento especialista, calculados em matrizes com pixels de 30 x 30 metros e, ao fim, segmentados em cinco classes de intensidade. Todo o processamento foi realizado por meio da plataforma do Google Earth Engine (GEE).

“O grande diferencial em termos computacionais desse trabalho foi o desenvolvimento de algoritmos na plataforma Google Earth Engine (GEE). No ambiente GEE podemos processar nossos algoritmos na nuvem, a qualquer tempo, em ambiente baseado em computação paralela. Sem esse recurso, não teríamos conseguido realizar todos os cálculos com a resolução espacial de 30 metros para todo o Brasil”, explica Margareth Simões.

Com informações e imagens da Embrapa Solos

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