Psicóloga diz que estupro reflete sociedade machista e elitista

Maria Aparecida Alves da Silva disse que o que aconteceu na audiência da Mariana Ferrer “é o que a gente escuta das mulheres todos os dias”

O julgamento do estupro sofrido pela jovem Mariana Ferrer, que a humilhou e praticamente absolveu o estuprador, vem causando indignação em todo o país e foi tema constante hoje do material produzido pela TV Brasil Central. Em entrevista ao TBC 1, a psicóloga Maria Aparecida Alves da Silva disse que o que ocorreu naquela audiência “é o que a gente escuta das mulheres todos os dias”. Segundo ela, os profissionais ouvem esses relatos de julgamento e de culpabilização e que é muito sofrido. “Essa reação que tivemos é de muita indignação, porque a gente cansou, basta, a gente vem lutando anos seguidos, para vir novamente em pleno ano 2020 uma situação dessa”, assinalou.

Para Maria Aparecida, o judiciário representa a nossa cultura, “que é uma cultura que, de alguma forma, admite o estupro. Quando a mulher denuncia um crime como este é ela quem fica sob o olhar de julgamento: o que ela vestiu, como ela estava e como ela se comportava. Não se julga o ato. Por quê? Porque nossa sociedade é machista, é racista e elitista”.

Ela afirmou que varia o tempo de andamento do processo, dependendo se o autor da violência é uma pessoa pobre e negra e quando é rica e branca, porque aí está inserido o racismo, o machismo e o elitismo juntos. “Nós mulheres sofremos, mesmo não passando por essa experiência, porque o medo já é suficiente para nos afetar. Somos conduzidas por um medo. Quantas coisas deixamos de fazer, porque tivemos medo de uma situação dessa!, uma viagem, um curso, uma brincadeira na rua, porque o tempo todo nós estamos sob a possibilidade de um ataque corporal. Isso para a mulher é muito sofrido”, salientou.

Traumas

Tudo isso, na opinião dela, causou essa reação brutal da sociedade ao estupro da Mariana, “porque vimos uma menina, jovem, acuada por quatro homens em que ela era a vítima”. Nas mulheres, disse, está marcado, “seja como experiência real ou como medo, de que nós podemos ser atacadas a qualquer momento” e isso provoca vários traumas, que as mulheres carregam por toda sua vida.

Entre os traumas, ela apontou a quebra de confiança, quando a mulher a todo momento se pergunta em quem pode confiar de verdade. Há também a dificuldade de se vincular, “porque significa se colocar em vulnerabilidade de novo”. Além disso, ela pode desenvolver uma baixa autoestima, porque a imagem dela é atacada e quem ataca deprecia a vítima e depois ela ouvirá isso da própria sociedade. “Pode desenvolver casos de transtorno e humor e de depressão” e ainda viver situação de violência na infância e tentativa de suicídio na adolescência. “E pode também desenvolver dificuldade na sua própria sexualidade”, assinalou.

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