Cientista político diz que eleitor optou pelo conservadorismo mais cordato

Para Pedro Célio, as eleições de agora sinalizaram que a população se cansou de políticos bravateiros e que estão o tempo todo em conflito com as instituições e com a sociedade, como faz o presidente Jair Bolsonaro

Entrevistado no programa O Mundo em Sua Casa, das rádios Brasil Central AM e RBC FM, o professor e cientista político Pedro Célio apontou que nestas eleições o eleitor brasileiro optou por uma posição política conservadora, de centro, mas com um discurso e uma proposta mais cordata, sem bravatas, diferente do que ocorreu em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro. Disse que em 2018 a população já dava sinais de cansaço e está eleição de agora “confirma todas as expectativas que foram se criando ao longo dos meses e também o retrato do quadro de potencialidade dos que estavam concorrendo, da união de forças que os candidatos conseguiram juntar, o significado desses campos políticos, mais à direita, mais à esquerda, mais progressista, mais conservador”.

Ele se mostrou surpreso com a escolha de novos nomes para as câmaras, porque as pesquisas indicavam para os nomes já consolidados, pessoas com mandatos, o que dificultava a renovação. “Tenho que ver, mas, confirmada a renovação, é algo positivo do ponto de vista político, porque a vontade popular é dinâmica e às vezes monstra um certo cansaço com os políticos antigos”.

Abstenção

Sobre a abstenção de 30,72%, com mais de 298 mil eleitores não comparecendo às urnas em Goiânia, ele enumerou alguns fatores: a Covid e o cansaço do eleitor. Disse que quando viu um vazio nas seções, observou que a abstenção seria maior. Em 2012, a abstenção foi de 12% e em 2016, de 20%. “A população já dava sinais antes desse cansaço”, afirmou, acrescentando que o processo mais antigo é o do desgaste do político, de distanciamento da população e que causa estafa na população. “Na maioria das cidades grandes, pelo menos, os resultados confirmaram as pesquisas, que estão dizendo que há uma leve tendência para um comportamento, talvez não conservador, mas pragmático, para candidatos com mais experiência, mais cordatos, especialmente para prefeito”, assinalou.

Segundo Pedro Célio, ficou uma pequena semelhança com o cenário de 2018, onde o eleitor assume um conteúdo conservador, só que de maneira diferente. “Em 2018, isso veio radicalizado, até com uma certa raiva do sistema político. Agora, não. Agora já vem mais comedido, disposto a dialogar e a negociar. As siglas de centro e centro-direita foram as mais beneficiadas, DEM, MDB, PSD. O centro da política se assentou mais nesse campo conservador e isso vai refletir na eleição de 2022. Postura e discursos como os do presidente Bolsonaro vão ter poucas chances, embora os conteúdos sejam quase os mesmos, mas vão ser políticos mais educados e civilizados”.

Eleição atualizada

Para ele, a eleição é um momento que atualiza um processo que vinha acontecendo antes no cenário político, preparando o passo seguinte e que essas eleições apontaram para um relativo isolamento do presidente Bolsonaro, “devido à forma como ele conduz o seu cargo de presidente, com intolerância, ódio, conflito com as instituições, maldizendo a democracia e isso o leva ao isolamento”.

Aqui em Goiânia, por exemplo, ele observou que Vanderlan escondeu o nome do Bolsonaro. “É um político afinadíssimo com o Bolsonaro, mas escondeu o nome dele. Eleição em segundo turno é uma outra eleição. Precisamos saber se os candidatos manterão suas estratégias, as linhas de comportamento que mantiveram no primeiro turno. De Maguito, é mais difícil dizer, porque ele ficou prejudicado pelo seu estado de saúde. Agora, Vanderlan manteve o discurso frio, excessivamente cordato, muito tecnicista e evitando se colocar como liderança política, que tem a capacidade de agrupar”, assinalou, acrescentando que é preciso ver se ele vai mudar esse estilo. “Vanderlan já deu um sinal de que não vai agrupar”, afirmou, querendo agora saber se ele vai ter disposição de debater com a população, com o mundo da política, “coisa que no primeiro turno ele não fez, ele fugiu. Vamos esperar também para onde vão sinalizar os que perderam, porque os candidatos são parecidos, de centro, conservadores”.

Confira a entrevista na íntegra

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