Advogada diz que sociedade patriarcal e machista tenta culpar a mulher que sofre estupro

Ana Carolina Fleury falou sobre as questões que envolvem o machismo, inclusive em muitas mulheres, que reproduzem os ensinamentos do patriarcado

Uma professora de um colégio adventista de Abadiânia disse, em uma aula virtual esta semana, que muitas vezes a mulher é culpada pelo estupro, porque “fica provocando os coitadinhos dos homens”. A fala dela repercutiu e causou indignação nas redes sociais. Sobre o assunto, a apresentadora do TBC 1 Eva Taucci entrevistou a advogada em direito da mulher Ana Carolina Fleury, que pontuou isso como uma questão sustentada por uma sociedade machista e constituída sob as bases do patriarcado, que tenta culpabilizar a mulher pela violência que ela sofre.

O Instituto Adventista Brasil Central, onde a professor trabalha, soltou nota afirmando que “não compactua com qualquer opinião pessoal dos seus funcionários que atribua à vítima a ação criminosa e que todo ato de violência deve ser punido pela lei”. Na nota também lamentou “profundamente o ocorrido” e afastou a professora. “Este tipo de fala é problemática, porque perpetua a violência, especialmente em nossa sociedade em que 1/3 da nossa população culpabiliza as mulheres pela violência que sofrem”, observou a advogada Ana Carolina, acrescentando que muitas mulheres são induzidas a reproduzir os ensinamentos dessa cultura patriarcal, que massacra a mulher.

Contra o machismo

Segundo ela, o patriarcado, em que nossa sociedade é fundada, é um sistema de dominação dos homens às mulheres. “Esse tipo de postura acaba sendo normalizado e ensinado não só aos meninos, aos homens, mas também a nós mulheres. Nós mulheres não podemos ser machistas e reproduzimos esse machismo com que a gente convive e é realmente ensinado a nós desde que viemos ao mundo”, acentuou.

Ela disse também que esses padrões de comportamento estão ligados à questão de gênero. “A nós é reservada a questão da docilidade, da obediência, do cuidado consigo e com o outro. A gente vê que as mulheres são as principais responsáveis pelo cuidado da família e não só dos filhos, mas de todos os parentes que estão doentes ou que precisam de alguma coisa. Tudo isso é violência. A questão é que existem vários tipos de violência. E nós somos sociabilizadas dessa maneira desde crianças, não é nenhum fator biológico, porque estamos inseridas nessa sociedade patriarcal sustentada dessa maneira”, analisou.

Afirmou ainda que esse processo de silenciamento e de violência contra a mulher é muito longo, antigo, e é um projeto para justamente sustentar a sociedade do jeito que é. Argumentou que é importante a mulher estar nesses ambientes da imprensa, falando sobre esses assuntos sempre, “porque, quando uma mulher fala, a outra ouve, outras se identificam e vamos quebrando essa cultura do silenciamento”.

Confira a íntegra da entrevista:

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