7 de Setembro: em Goiás, conflito sobre autonomia política do Tocantins foi mais significante que Independência
Mudança de política nacional teve pouco impacto no cotidiano da província
O grito do Ipiranga figura como marco da separação política entre Brasil e Portugal, porém essa separação não foi automática. Houve conflitos em diversas partes do território, que chegaram a durar anos, como no caso da Bahia.
Goiás, que no período da independência compreendia o atual Tocantins, assim como partes do Mato Grosso e Minas Gerais, não estava no centro da cena política e militar daquele período, mas isso não significa que os acontecimentos que tiveram como palco Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Belém do Pará ou mesmo Lisboa não impactaram a província. Entretanto. o cenário político goiano era agitado mais por conta de seu afastamento do governo central e as tensões locais do que por questões do centro do poder. A política estava efervescente e nesse período aconteceu uma primeira tentativa de autonomia administrativa da região do Tocantins em relação à Goiás.
A mudança política vinda com a ação de D. Pedro I foi importante porque Goiás deixou de responder para um governo sediado em outro continente para responder à coroa sediada na costa do próprio território. Contudo, as intrigas políticas e o distanciamento entre o palácio do poder e o cotidiano das pessoas do Estado continuou o mesmo. O ato de insubordinação de D. Pedro em relação às cortes portuguesas, que gerou a independência política do Brasil, não gerou nenhuma mudança substancial no cenário geral da província de Goiás.
A Independência
Antes do “grito do Ipiranga” oficializar a separação entre Brasil e Portugal, foi convocada em Lisboa uma assembleia chamada “cortes”, com representantes do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarve, para discutir o cenário da época. A monarquia portuguesa estava sob forte pressão de liberais que fizeram uma revolução, influenciados pelos ideais da revolução francesa (a chamada Revolução do Porto) e incomodados com as “liberdades” dadas ao Brasil durante o período que a família real esteve no Rio de Janeiro.
Em Goiás, a indefinição sobre como lidar com o novo cenário português advindo das cortes causou o embate entre grupos que queriam a autonomia nacional em relação a Portugal, mas manter a “integridade territorial” da província. Grupos que desejavam autonomia administrativa do norte da província em relação a Goiás e (talvez) política em relação a Portugal e grupos que queriam essa autonomia local, mas manter-se dentro desse império transcontinental.
Um dos ícones da história tocantinense, o ouvidor Teotônio Segurado, integrava esse grupo. Ele fez a movimentação para uma efetiva autonomia administrativa da então “Comarca de São João das Duas Barras”, o norte de Goiás, hoje Tocantins. Teotônio foi eleito como representante de Goiás pelas cortes em Portugal ainda em 1821, ficando por lá depois da independência e participando da elaboração de uma constituição para o reino português.
Contudo, ele foi chamado de volta por D. Pedro I em 1823, nessa altura já como imperador do Brasil, e destituído de seus títulos de nobreza. Devido a suas ideias revolucionárias e o rompimento político entre Brasil e Portugal, Teotônio e os partidários da separação foram perseguidos pela junta de governo local instituída após o 7 de setembro, comandada pelo padre de Pirenópolis, Luís Gonzaga de Camargo Fleury. Prisões contra membros do movimento “autonomista” do norte e deserções de outras lideranças enfraqueceram o grupo, que foi extinto após a morte de Teotônio Segurado, já em 1831. O movimento autonomista do norte goiano só ressurge com força nos anos 1940-1950.
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