“Tenho a cicatriz, mas ela não me tira a felicidade, a alegria”

 

Em setembro de 2016, fiz os exames tradicionais, que incluem mamografia e ultrassonografia. O mastologista me tranquilizou e disse para eu voltar em um ano. Toquei minha vida corrida até que, em abril de 2017, senti o endurecimento do mamilo. Foi de uma hora para outra. Procurei o mesmo mastologista. Era sexta-feira pré-semana santa. Ele se preocupou e me encaminhou imediatamente para fazer novos exames, que incluíam ressonância magnética e a biópsia.

Cinco dias depois, recebi o resultado. O diagnóstico foi muito grave, eu tinha um tumor de aproximadamente 10 centímetros. Pensei: ‘Ou ele cresceu rápido ou já existia’. Infelizmente, ele já estava lá. Embora a tecnologia já tenha avançado no que se refere ao câncer, a mamografia não consegue detectar todos os casos e o exame de ressonância magnética quase nunca é pedido pelos médicos.

Fui para São Paulo com esse diagnóstico. Na quarta-feira seguinte, o médico disse que eu deveria fazer quimioterapia com urgência. A primeira sessão de quimioterapia foi muito forte, tomei uma dose cavalar de medicamento. Outros exames foram feitos em São Paulo e o diagnóstico, desta vez, mostrava que meu problema era mais simples do que pareceu a princípio. Como eu tinha tomado uma alta dose de quimioterapia, fiquei internada durante uma semana. E, como teriam outras 16 sessões de quimioterapia de acordo com o protocolo, tive de me recuperar fisicamente para fazê-las. Fiz na verdade 17 sessões. Tudo isso até outubro do ano passado quando me submeti à primeira cirurgia com algumas complicações.

Em dezembro do ano passado fui para São Paulo para fazer a radioterapia e, conforme as prescrições médicas, esperei seis meses após as sessões de radioterapia para fazer a segunda cirurgia. Em agosto deste ano fui novamente operada, porém fiquei 15 dias internada com infecção gravíssima e risco de morte. Agora estou aqui, na PGE, trabalhando. Estou muito bem.

Uma das primeiras lições que tive foi de que o inesperado pode acontecer, ainda que você seja diligente. É preciso ter um positivismo muito grande. A doença evidenciou uma faceta da minha vida que eu já tinha, mas passei a dar mais importância: o amor da minha família, dos meus filhos,  dos amigos. Percebi o quanto sou amada. No dia a dia, muitas vezes esse afeto passa desapercebido. O primeiro momento, quando recebi o diagnóstico, foi um baque, mas depois me recuperei. Falei para Deus que não questionaria o propósito, mas pedi que Ele me desse coragem para enfrentar a situação.

Tive momentos difíceis, de dor da alma, dor do coração, mas também percebi o quanto sou querida, que faço falta para os que me amam. Vi a dor dos meus filhos nos olhos deles. Comecei a prestar atenção nas coisas menores para as quais não dedicava atenção em função da correria. Aprendi a olhar para a frente não para trás. Tenho cicatrizes no corpo. A primeira delas foi a perda do cabelo. É difícil, mas passa. O importante é o que eu adquiri por dentro. Dia a dia, passo a passo, fui adquirindo uma crescente tranquilidade. Não é uma coisa fácil, mas hoje eu só tenho uma palavra na minha vida: gratidão. Peço a Deus para abençoar minha família, meus filhos, minha coragem.

Esta é uma luta de um ano e meio. Mas eu declaro uma coisa: estou curada do câncer. Tenho a cicatriz na pele, na passagem da minha vida mas ela não me tira a felicidade, a alegria de viver.

As adversidades são tão inesperadas que só Deus para dar equilíbrio. Contei com o amor da minha família e dos amigos, isso me deu muito força. Este não é um relato para causar consternação e sim para mostrar que é possível ultrapassar as barreiras que a vida nos traz.

Eu me vejo como uma vitoriosa.”

Beatriz de Melo Martins Vieira é Procuradora do Estado de Goiás

Governo na palma da mão

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