“Câncer de mama não é doença de mulher idosa”

Descobri que tinha câncer de mama em março de 2013, aos 35 anos, no auge da carreira e apaixonada, no início do relacionamento com meu namorado na época, hoje meu marido.

Na verdade, eu descobrira um nódulo em 2012, em uma consulta de rotina. Minha médica, além de ginecologista, também é mastologista. Entre muitos afazeres, fiquei esperando o melhor momento de fazer os exames (mamografia e ultrassonografia). Cheguei a marcar, mas desmarquei o exame quatro vezes.

Em março de 2013, voltei ao consultório, mas não havia feito os exames. A médica me deu uma bronca e fiz na mesma semana. A médica que fez me examinou me disse: ‘eu não colocaria esse exame na gaveta’. Pesquisei na internet: Birads 5, 80% de chances de ser câncer de mama. Liguei para minha médica e marquei retorno para o dia seguinte. Eu tinha um tumor grande. Levei uns 15 dias para me programar. No dia 13 de abril de 2013 fui operada. Todos os médicos que consultei me indicaram a mastectomia radical. Optei por ela, colocando expansor de pele. Da cirurgia até a expansão total da pele foi um mês. Eu tinha pressa, porque a radioterapia prejudica o crescimento do tecido e eu ainda não sabia se teria de fazer.

Há inúmeros tipos de câncer de mama. Fiz um exame chamado imuno-histoquímica, que aponta a química do tumor. O que eu tinha era hormônio dependente. Outro exame apontou que as chances de recidiva eram baixas, de 7% a 10%, o que mostrou que eu não me beneficiaria de quimioterapia. O tratamento consistiu em suprimir os hormônios estrogênio e progesterona do meu corpo, para blindá-lo. Eu me submeti a ele durante três anos.

Mas eu queria engravidar. Eu me casei no final de 2014. Em 2016, suspendi a medicação e fiz exames. ‘É agora ou nunca’, o médico me disse. E eu comecei. Demorei dois anos para conseguir engravidar.

Completei 24 semanas de gestação no sábado. Estou muito feliz.

Eu extraí muitas lições dessa doença. A que talvez seja a mais importante é que câncer de mama não é doença de mulher idosa. Eu tinha essa crença. Nunca me passou pela cabeça que eu teria. Eu não tinha o perfil para a doença. Minhas avós, tias, primas, mãe, ninguém teve câncer na família. Eu pensava: ‘sou muito jovem, isso só acontece depois dos 50’, o que é um mito. Pelo tamanho do tumor, quando eu o descobri, deve ter começado muito antes. Eram dois tumores que, juntos, somavam 8 centímetros. O câncer não escolhe idade. Durante o tratamento, vi casos de vítimas com até 22 anos, muito jovens!

Felizmente, o tumor que eu tive era de muito bom prognóstico, com evolução lenta.

A mensagem que gostaria de deixar é que depois dos 30 anos, principalmente, as mulheres devem ter como rotina a consulta ao mastologista e não apenas ao ginecologista. Dependendo do tipo de câncer, com o diagnóstico precoce, as chances de cura são muito grandes.

O câncer não é uma sentença de morte. Sou cristã, creio em Deus. Minha grande fé fez toda a diferença. Não me desesperei, não pensei que iria morrer. A cirurgia é delicada, complicada e eu tinha muito medo da quimioterapia. Agradeço a Deus por não ter passado por isso. Eu dizia a Deus: ‘esse é o prognóstico dos homens, quero saber o seu’. Também pedi para passar por tudo de cabeça erguida, feliz. Nesse processo todo, que durou três meses, só perdi o sono em duas noites. A primeira, quando descobri que estava com câncer. A segunda, quando estava para receber o resultado do exame que indicaria o tratamento. Passei a noite olhando sites de casamento. Decidi manter o foco no que me traria esperança em dias melhores.

Câncer tem cura, principalmente com diagnóstico precoce.

Sou muito privilegiada e grata por ter tido a oportunidade de buscar por recursos. Sou agradecida a meus amigos, minha família, meu marido.

Voltei a trabalhar em junho de 2013. Fiz a cirurgia reparadora das mamas em 3 de dezembro daquele ano. O resultado estético ficou bom, mas meu corpo mudou. É o meu memorial com Deus. Eu era uma outra pessoa antes. Mudei muito. Coisas que eu valorizava antes, hoje estão em segundo plano. Eu nunca gostaria de ter tido um câncer, mas ele trouxe para mim uma aproximação tão grande de Deus que não me ressinto. Sou grata a Deus por essa experiência, por ter tido câncer, por Deus me curar e me mostrar o que realmente vale a pena.

Minha gravidez é a prova de que nada é impossível. Cada um luta com as armas que tem. Para mim, a melhor arma é a fé, acreditar que vai dar certo, fazer o tratamento com um propósito, agradecer pelo remédio.

Por fim, gostaria de dizer que é preciso se cuidar, ter tempo para cuidar de si. Pertencemos a uma geração de mulheres que cuidam de todos (marido, filhos, parentes, amigos), menos de si, deixando esses cuidados sempre para depois. Isso precisa mudar.”

Aliny Nunes Terra é Procuradora do Estado de Goiás

Governo na palma da mão

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