História das Artes em Goiás


Artes Plásticas

 

As artes plásticas são um dos setores mais movimentados da cultura goiana. Na raiz das artes, em Goiás, a maior referência, no século 19, foi José Joaquim da Veiga Valle (Pirenópolis, 1806 – Cidade de Goiás, 1874). De família importante, possuía grande fascínio pela escultura sacra. O artista produziu mais de 200 peças em estilo barroco, que esculpiu principalmente em madeira. Sua obra impressiona sobretudo pelos detalhes e filetes dourados. Boa parte do que criou pode ser vista na Cidade de Goiás, antiga capital do Estado, como São João Batista, no Museu de Arte Sacra da Boa Morte. Algumas de suas peças integraram a mostra Brasil 500 Anos, em São Paulo.

Um dos nomes de maior expressão das artes, no início do século 20, foi Octo Marques (1915-1988), nascido na Cidade de Goiás. Autodidata, ele atuou como pintor, gravador, escritor e desenhista. Chegou a trabalhar como ilustrador no jornal O Estado de São Paulo. Sua pintura tinha como principal traço a ingenuidade, imagens de gente simples, como ex-votos.
Boa parte do movimento artístico da Cidade de Goiás transferiu-se para a nova capital, a partir de 1937. Um marco da vida artística no Estado foi o Batismo Cultural, como ficou conhecida a festa de inauguração de Goiânia, em 5 de julho de 1942.

Na época, o arquiteto, músico, escultor e pintor José Amaral Neddermeyer reuniu artistas plásticos com o objetivo de movimentar o setor de artes da cidade que brotava, no cerrado. Com isso, criou a Sociedade Pró-Arte de Goiaz, estabelecida oficialmente três anos depois. Inaugurou-se, assim, a primeira mostra de artes, reunindo trabalhos de artistas de diversas cidades goianas.

As artes ganhariam força com a criação da Escola Goiana de Belas Artes, em 1º de dezembro de 1952. Entre os professores estavam: Luiz Curado, Frei Nazareno Confaloni, Henning Gustav Ritter e Antônio Henrique Peclat. Desse núcleo, formaram-se gerações de artistas, com nomes expressivos nacional e internacionalmente, como Siron Franco, Antônio Poteiro e Ana Maria Pacheco, entre outros.

O circuito das artes, em Goiânia, inclui diferentes espaços, de galerias a museus. Entre os mais notáveis estão o Museu de Arte Contemporânea (Mac), o Museu de Arte de Goiânia (Mag), a Galeria Frei Confaloni e a Galeria Sebastião dos Reis. A Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico (Agepel) aposta no crescimento das artes plásticas, no Estado, investindo na formação e no aperfeiçoamento de artistas. Por isso, mantém sua Escola de Artes Visuais, com oficinas e cursos, durante todo o ano.

 

 

Cinema

 

A primeira tentativa de produzir um filme goiano de ficção foi feita pela teatróloga Cici Pinheiro, nos anos 60. Com base em texto de Bernardo Guimarães ela pretendia levar para o cinema a história da Romaria de Muquém (tradicional festa de Niquelândia). O filme seria o Ermitão de Muquém (baseado em obra homônima de Bernardo Guimarães), que no entanto, não foi finalizado por falta de recursos. Apresentado ao meio artístico por Cici Pinheiro, João Bennio, na verdade, acabou sendo o pioneiro do cinema goiano. Produziu O Diabo Mora no Sangue, que teve como cenário as areias e as águas do Rio Araguaia, na Ilha do Bananal. Bennio produziu ainda Tempo de Violência (1968), filmado no Rio de Janeiro e Simeão, o Boêmio (1969), rodado em Pirenópolis, entre outros. Sua última produção foi o Azarento, Um Homem de Sorte (1973), rodado em Goiânia e Piracanjuba.

              Mas a primeira produção cinematográfica de ficção de Goiânia foi A Fraude, com direção de Jacerlan de Jesus, em 1968. Um marco do cinema goiano foi Cavalhadas de Pirenópolis (1978), documentário dirigido por José Petrillo, que obteve o prêmio Candango do Festival de Brasília, na categoria de curta (35 mm). Entre curtas e longas-metragens, rodados em Goiás, destacam-se as produções: O Dia Marcado (1970), de Iberê Cavalcanti; Caminho dos Gerais (1976), documentário de Carlos Del Pino, sobre a vida e obra de Bernardo Élis; O Leão Norte (1973), de Carlos Del Pino, com cenas de Goiânia e Pirenópolis, e Mulher que Comeu o Amante, rodado em Corumbá de Goiás, igualmente com direção de Carlos Del Pino, ainda incompleto (aguarda finalização). O primeiro longa-metragem totalmente goiano foi A Igrejinha da Serra, com direção de Alberto Rocco e Henrique Borges, feito em Rio Verde, em 1979. Pirenópolis tem se tornado uma espécie de palco de grandes produções cinematográficas.

              Na cidade cenográfica ali instalada foi rodada boa parte de O Tronco, de João Batista de Andrade. A República dos Anjos (uma referência à Santa Dica do cerrado), foi filmado em 1989/1990, com direção de Carlos Del Pino. A obra de Bernardo Élis inspirou, entre outros, os filmes André Louco (1988), de Rosa Berardo; Índia, a Filha do Sol (baseado em contos do escritor), de Fábio Barreto (1982), e Terra de Deus, de Iberê Cavalcanti (2000, baseada no conto A Enxada). O eixo Cidade de Goiás-Pirenópolis abrigou as filmagens de As Tranças de Maria, de Pedro Carlos Rovai, baseado no conto-poema homônimo de Cora Coralina (1995). André Luiz Oliveira dirigiu, em 1975, o seu A Lenda de Ubirajara, com base no romance Ubirajara, o Senhor da Lança, de José de Alencar.

               O cinema goiano ganhou fôlego no início dos anos 80, quando surgiram novos cineastas, buscando inspiração no Nouvelle Vague, no neo-realismo italiano e no cinema novo brasileiro. Essa geração começou a fazer filmes em super 8 e 16mm, todos produzidos no Estado. Daí surgiram nomes como Eudaldo Guimarães, Lourival Belém Júnior, Divino José, Pedro Augusto Brito, Ricardo Musse e Noemi Araújo, entre outros. Desse período, despontaram as produções Os Ventos de Lisarda, de Pedro Algusto Brito (1982); Nosso Cinema, Aspecto e sua Gente, Eudaldo Guimarães (1981); Quinta Essência, de Lourival Belém Júnior (1984) e Lúcidos ou Neoróticos, de Divino José (1981), entre outros.

               O cineasta Wolf Jesco von Puttkamer Filho (1919-1994) foi o precursor do cinema antropológico em Goiás. Durante oito anos produziu filmes e documentários sobre os índios do Xingu para a BBC de Londres. Foi professor da Universidade Católica de Goiás (no Instituto Goiano de Pré-História e Andropologia – IGPA) e deixou um enorme acervo de fotografias e filmes em película. As obras foram feitas a partir de 1948, quando Jesco foi pela primeira vez ao Xingu. Os filmes cobrem o período 1960/1970. Sete dessas produções abordam o cotidiano dos índios do Xingu. Outras três obras resultaram de viagens do fotógrafo ao Nordeste. Falam de jangada, ligas camponesas. Um dos mais importantes é o registro, inédito, do contato de Jesco com os índios Suruí (1969). O acervo pertence ao IGPA.

                Na década de 90, emergiram nomes como PX Silveira, Débora Torres e José Lino Curado. Uma das mais significativas obras filmadas em Goiânia foi Pedro Fundamental (1992), sobre a vida de Pedro Ludovico, um dos grandes marcos da história goiana. Tem a assinatura de PX Silveira. Outros personagens do contexto literário que também chegaram às telas foram Pai Norato (2000), de José Lino Curado, baseado no conto de Bernardo Élis, e o Wataú (2000), de Débora Torres, inspirado no conto homônimo de Miguel Jorge.

                Depois de produzir O Tronco, que foi exibido no interior do Estado (via projeto Agepel), João Batista de Andrade acabou de produzir, em Pirenópolis, Uma Vida em Segredo, com direção de Suzana Amaral, e adaptação de livro de Autran Dourado, com lançamento previsto para março. Com roteiro pronto, há o filme Rua 6 Sem Número, uma história goiana que tem como palco o Entorno de Brasília. Veias e Vinhos, baseado em livro homônimo de Miguel Jorge, está em fase de captação de recursos.

                A Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico (Agepel) juntamente com a Agência Ambiental decidiu movimentar a área de cinema em Goiás. Em 1999 lançou a primeira edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica). O evento, que acontece na primeira semana de junho, na Cidade de Goiás, chega neste 2001, ao seu terceiro ano com notável expectativa. O festival tem reunido produtores de cinema voltado para o meio ambiente de diversos países. Entre os destaques do Fica estão Bubula, o Cara Vermelha, de Luiz Eduardo Jorge, e O Pescador de Cinema, documentário com direção de Ângelo Lima.

                 A Agepel mantém projetos que visam a popularização do cinema, como o Cinema Itinerante, que leva filmes educativos-culturais a escolas públicas do interior do Estado. Em parceria com os diretores João Batista de Andrade e Iberê Cavalcanti, a Agência Goiana de Cultura levou ao interior de Goiás os filmes O Tronco e Terra de Deus. A Agepel possui o Cine Cultura, o único cinema de arte do Estado. Além de duas sessões normais diárias, há sessões extras para escolas carentes de Goiânia.

 

 

Dança

 

A história da dança em Goiás é tão antiga como a da música, com a qual mantém uma relação de sobrevivência. Essa simbiose remete a tempos remotos, quando se pensa, por exemplo, na chamada “dança dos tapuias”, que surgiu na zona de mineração e que ainda resiste tenuamente na Festa do Divino Espírito Santo, em Pirenópolis. A dança tem raízes profundas que levam à presença do índio, do português e do africano. Parceira da música, a dança tem encontro com o folclore, em certos momentos. A contradança (música de caráter rústico), por exemplo, é de origem francesa e resiste há 138 anos, como manifestação folclórica de Santa Cruz de Goiás. Já a catira ou cateretê é uma dança rural, cantada e disposta em fileiras opostas.

          O nome teria origem tupi, mas a coreografia é um legado da cultura africana. Essa manifestação ainda hoje é atração em Goiás. A catira sobrevive, por exemplo, com o Grupo de Catira Marreco Mazequinho, de Itaberaí, que tem se apresentado em diversas festas pelo país. Outra manifestação que sintetiza folclore e religiosidade é a congada ou congo, que teria vindo de Moçambique (África). Essa é uma das atrações da Festa de Nossa Senhora do Rosário, que acontece há 125 anos em Catalão.

         A história da dança em Goiás é tão antiga como a da música, com a qual mantém uma relação de sobrevivência. Essa simbiose remete a tempos remotos, quando se pensa, por exemplo, na chamada “dança dos tapuias”, que surgiu na zona de mineração e que ainda resiste tenuamente na Festa do Divino Espírito Santo, em Pirenópolis. A dança tem raízes profundas que levam à presença do índio, do português e do africano. Parceira da música, a dança tem encontro com o folclore, em certos momentos. A contradança (música de caráter rústico), por exemplo, é de origem francesa e resiste há 138 anos, como manifestação folclórica de Santa Cruz de Goiás.

          Já a catira ou cateretê é uma dança rural, cantada e disposta em fileiras opostas. O nome teria origem tupi, mas a coreografia é um legado da cultura africana. Essa manifestação ainda hoje é atração em Goiás. A catira sobrevive, por exemplo, com o Grupo de Catira Marreco Mazequinho, de Itaberaí, que tem se apresentado em diversas festas pelo país. Outra manifestação que sintetiza folclore e religiosidade é a congada ou congo, que teria vindo de Moçambique (África). Essa é uma das atrações da Festa de Nossa Senhora do Rosário, que acontece há 125 anos em Catalão.

           O balé chega a Goiânia no início da década de 50, com a professora Silene de Andrade. Algum tempo depois, vieram a russa Nádia e a alemã Karen, esposas de engenheiros que aqui se instalaram para trabalhar. Elas começaram a dar aulas de balé para moças da sociedade da época, em suas próprias residências. As referidas professoras mudaram-se de Goiânia, mas seu trabalho frutificou. Surge o Mvsika Centro de Estudos, em 1973, um projeto dos professores Estércio Marquez Cunha, Delmari Brito Rossi, Glacy Antunes de Olveira e Elizabeth Carramashi.

            O Mvsika formou parceria com a bailarina Dalal Achcar, que, por sua vez, mantinha convênio com a Royal Academy de Londres. Com isso, a escola trouxe para Goiânia a professora inglesa Heulwen Price, que ensinou o balé pelo método inglês. Paralelamente, o Mvsika mantinha como professora de balé a goiana Ana Maria Alencastro Veiga Consort (Sinhá). Essas professoras formaram gerações de alunas que, por sua vez, criaram escolas de balé em Goiânia. Como a Academia Sinhá, Studio Dançarte, Studio Ballet e Cia, Allegro, Escola Energia, Academia Simone Magalhães e Dança e Cia, entre outras. Essas escolas têm como base de ensino os balés clássico e moderno. O balé contemporâneo se firmou principalmente com a Quasar Cia de Dança.

            A Quasar, que foi fundada em 1988, nas salas de aula de Julson Henrique, é uma importante companhia de dança que tem elevado o nome de Goiás. Seu espetáculo Registro, por exemplo, foi premiado com cinco Mambembes (prêmio do Ministério da Cultura). Seu mais recente trabalho é Coreografia para Ouvir, que estreou em São Paulo e que foi destaque na segunda edição do Fica, em 2000.

          O Balé do Estado é uma companhia profissional de dança ligada à Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico. O grupo apresentou-se pela primeira vez em 1992, na Cidade de Goiás. No ano seguinte realizou seleção de seu corpo de bailarinos e ofereceu cursos de aperfeiçoamento para a equipe. Assim, o Balé do Estado se destaca como a companhia goiana que oficialmente representa a dança de Goiás. E tem buscado esse objetivo com profissionalismo e talento. Entre os seus principais espetáculos estão: Cerrado Descerrado, Fragmentos, Hipólita, Chuang-Kuo e Insano.

           A Agepel abriga no seu Centro Cultural Gustav Ritter, a Escola de Dança, com relevante função social, por ser uma das poucas escolas públicas de arte do Centro-Oeste. A unidade de ensino oferece cursos de balé clássico, moderno e contemporâneo. A Escola de Dança possui o Balé Jovem, que se apresenta em escolas públicas, praças e creches, entre outros espaços. Há ainda uma turma especial, formada por meninas de 8 a 12 anos, portadoras de Síndrome de Down.

 

 

Literatura

 

Com uma vigorosa raiz, a literatura produzida em Goiás é um dos setores que mais experimentam ebulição e um vento renovador. No cerne das letras estão nomes como Hugo de Carvalho Ramos (1895-1911) e seu Tropas e Boiadas . O poeta Léo Lynce, que estreou na literatura com apenas 16 anos, em 1900. Ele escreveu crônicas, poesias e artigos para jornais goianos e mineiros. Bernardo Élis (1915-1997), único goiano a ingressar na Academia Brasileira de Letras (concorreu com Juscelino Kubitschek), produziu Ermos e Gerais (1944, Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro); O Tronco (1956); Caminhos e Descaminhos (1965), e Veranico de Janeiro (1966), entre outros. José J. Veiga (1915-1999), que tem, entre as obras mais importantes, Os Cavalinhos de Platiplanto (1959); Sombras dos Reis Barbudos (1972); Aquele Mundo de Vasabarros (1981) e O Relógio Belisário (1996). Carmo Bernardes (1915-1996), que escreveu Vida Mundo (1966); Jurubatuba (1972); Nunila (1984); Quarto Crescente (1986) e Jângala — Complexo Araguaia (1994), entre outros. 

              Mas há que se enumerar ainda nomes que deram relevante contribuição. Como: Eli Brasiliense (1915-1998), que tem entre as obras mais significativas Pium (1949); Chão Vermelho (1956) e Uma Sombra no Fundo do Rio (1977). A poetisa Cora Coralina (1889-1985) escreveu obras marcadas pela beleza e simplicidade. Como Poemas dos Beco de Goiás e Estórias Mais; Meu Livro de Cordel . Encantado com riqueza da experiência humana de seu texto, Carlos Drummond de Andrade, referiu-se a Cora como “a mulher mais importante de Goiás”.  
         
              Notável também nas letras goianas foi Félix de Bulhões, que se engajou na luta pelo abolicionismo. Além de promover festas para arrecadar dinheiro e libertar escravos, o poeta fundou o jornal O Libertador , que tinha o objetivo de integrar o negro na sociedade. Infelizmente, não pôde assistir à edição da Lei Áurea, morreu um ano antes (em 1887).  

              Além desses autores e obras fundamentais, a literatura goiana tem contado com novas gerações de escritores, da poesia ao conto, do romance à crônica.

              Na escrita goiana, há que se ressaltar a relevante função dos historiadores, que ao debruçar-se sobre a pesquisa, acabaram montando o remoto perfil da vida goiana. O primeiro intelectual a escrever sobre a história do Estado foi Luiz Antônio Silva e Souza, padre natural de Minas Gerais, que viveu aqui durante 50 anos. Produziu livros e documentos sobre o modo de vida do povo goiano. Morreu na Cidade de Goiás, em 1840. Entre os nomes de maior destaque estão ainda o professor espanhol Luís Palacín, com O Século do Ouro em Goiás , e Visconde de Taunay (o carioca Alfredo Maria Adriano DEscragnolle Taunay), que escreveu, entre outras obras, A Província de Goyaz.

              Como forma de incentivar a criação literária em Goiás, a Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico mantém concursos e projetos, por meio do seu Instituto Goiano do Livro (IGL). Uma das mais importantes ações, nesse rumo, é a Bolsa de Publicações Cora Coralina, que prevê a publicação de livros nos gêneros poesia e prosa. Há ainda as coleções Supernova (literatura infantil e juvenil), Aldebarã (dramaturgia), Pali Palã (livro de bolso) e Karajá (obras clássicas).

 

 

Música

 

A música goiana é muito rica e apresenta uma trajetória densa que tem revelado talentos, inclusive com reconhecimento internacional. Como a música brasileira de maneira geral, a criação musical goiana teve importante contribuição de índios, portugueses e africanos. Essa herança se expressa, por exemplo, na “Dança dos Tapuias”, um dos quadros da Festa do Divino Espírito Santo, em Pirenópolis. O tradicional auto As Pastorinhas (encenado desde 1922 e que compõe também a Festa do Divino Espírito Santo) foi inicialmente um ritual de catequização de índios. Esse caráter cedeu lugar à pregação religiosa, que marcou o perfil da música goiana durante muito tempo.

             A musicista Belkiss S. Carneiro de Mendonça revela que a música verdadeiramente artística era a das igrejas, produzida para as funções religiosas. Mais tarde esse gênero chegou aos lares, levado pelas moças que tocavam e cantavam. Modinhas e romances despontavam com elaboração e muito sentimento. Os primeiros trabalhos musicais que surgiram em Pirenópolis tinham a assinatura do vigário José Joaquim Pereira da Veiga.

            Entre os nomes mais importantes da música goiana, no século 19, destacaram-se José do Patrocínio Marques Tocantins, Tonico do Padre, Baltazar Ribeiro de Freitas, Braz Luiz de Pina, Sebastião Pompeu de Pina Júnior, José Pirahy, Mestre Quilú e Antônio Marcos de Araújo, entre outros.

            As bandas tiveram um papel relevante no caminho da música. Sua função era divulgar as composições regionais e animar as festas populares, os dramas, as comédias. Mas apresentavam-se também nas igrejas com pompa e circunstância. Em Corumbá de Goiás destacou-se a Corporação Musical 13 de Maio (fundada em 1890), ainda hoje atuante  e, em Pirenópolis, a Banda Phoenix, fundada em 1899 por Mestre Propício. A Phoenix também ainda resiste e, atualmente, conta com 45 integrantes e 70 instrumentos. Saraus e serenatas tornavam-se atração, sobretudo na Cidade de Goiás, na primeira metade do século 20. Nesse período proliferaram conjunto musicais, cantores e solistas. Esses grupos chegaram a fazer fundo musical para os cinemas mudos da época. Nesse contexto, surge uma personagem fundamental na história da música goiana. É Maria Angélica da Costa Brandão (conhecida como Nhanhá do Couto), que foi pianista, cantora lírica, professora e incentivadora da música erudita. Na antiga capital do Estado, ela tornou-se uma espécie de líder dos movimentos culturais e influenciou o ensino da música de piano.          

              Nhanhá do Couto realizou recitais também em Goiânia. Muito dos seus conhecimentos a artista transmitiu à neta Belkiss S. Carneiro de Mendonça, que tem contribuído de forma relevante com as artes goianas. Nos primeiros tempos da vida cultural em Goiânia, as irmãs Heloísa e Honorina Barra brilharam com suas modinhas, no Cine Teatro Goiânia. Na época, a pianista Nair de Morais, juntamente com Edméa Camargo, fundou o Coral da Escola Técnica Federal (hoje Centro Federal de Educação Tecnológica). A música crescia em Goiás. O professor Crundwald Costa (Costinha) criou um curso particular de violino, fundou (com seus alunos) uma orquestra. Formou gerações de músicos. Amélia Brandão (chamada Tia Amélia) também ensinava música. Dava aulas de piano. Paralelamente interpretava em rádio e televisão, na época. A pianista Heloísa Barra somou forças com Costinha para criar a Orquestra Sinfônica de Goiânia.           

             O ensino fundamental de música se consolidou com a instalação, pelo professor Luiz Augusto do Carmo Curado, em 1955, do Departamento de Música da Escola Goiana de Belas Artes. Entre os notáveis professores estavam o maestro, instrumentista e compositor belga Jean François Douliez e as pianistas e professoras Maria Lucy Veiga, Maria Luiza Póvoa da Cruz (Tânia Cruz) e Dalva Maria Pires Machado. Os professores decidem separar-se, em 1956, e fundam o Conservatório Goiano de Música, com o apoio da professora Maria das Dores Ferreira de Aquino.            

             Começam os anos 60. O conservatório é integrado à Universidade Federal de Goiás. A unidade se destaca por organizar concursos e festivais nacionais de música erudita, com a presença de gente de renome. Como Camargo Guarniéri e Maria Luiza Priolli. Algum tempo depois a Faculdade de Artes e o Conservatório de Música se fundem e dão lugar ao Instituto de Artes (Faculdade de Artes Visuais da UFG). A música folclórica goiana tem em Ely Camargo sua maior expressão. A artista chegou a comandar durante anos um programa de rádio chamado “Canções de Minha Terra”. Ely nasceu na Cidade de Goiás (antiga capital) e gravou 12 LPs e vários compactos. A  maioria com temas folclóricos. Outro pioneiro da música em Goiás é Estércio Marquez Cunha. Ele nasceu em Goiatuba, fez doutorado em artes musicais nos Estados Unidos. É autor de várias peças, já apresentadas no Brasil e no Exterior. Ele lançou, em maio de 2000, o seu primeiro CD, Lento Acalanto, que reúne canções feitas a partir de 1970 e que são interpretadas por músicos goianos.

              Um dos personagens que têm trazido notável contribuição para o crescimento da música, em Goiás, é o maestro Joaquim Jayme. Nascido na antiga capital do Estado, ele criou o Coral do Estado, em 1987. No mesmo ano pôs em cena a Escola de Música (unidade da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico, Agepel). A Orquestra Filarmônica de Goiás é outra iniciativa de Joaquim Jayme, projeto para a Secretaria Estadual da Cultura (hoje Agepel), em 1988. A Filarmônica, com a nova política da Agepel para a música erudita no Estado, originou a atual Orquestra de Câmara Goyazes. Jayme fundou também a Orquestra Sinfônica de Goiânia, que dirigiu até o final de 2000.

               As sucessivas gerações de alunos do Instituto de Artes levaram ao surgimento de várias escolas de música em Goiânia. Uma delas é o Mvsika Centro de Estudos, da pianista Glacy Antunes de Oliveira. Outra das mais notáveis é o Centro Cultural Gustav Ritter, pertencente à Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico (Agepel). Aí são oferecidos cursos de teoria musical, canto coral e dos mais diversos instrumentos. O Ritter ganha relevante função social como uma das poucas escolas públicas de arte do Estado, com ensino de indiscutível qualidade. 

               A Agepel possui a Escola de Música com vários grupos musicais, a Orquestra de Câmara Goyazes, e a Orquestra de Violeiros. A Escola de Múscia oferece ensino da música popular e erudita nos mais diversos instrumentos para pessoas diferentes faixas etárias; a Escola também organiza orquestras e outros conjuntos instrumentais como a Orquestra Jovem formada por crianças e adolescentes (idade que varia dos 9 aos 20 anos). O objetivo do grupo é preparar músicos para orquestra profissional e apresentando em diferentes espaços e ocasiões.

              Já a Orquestra de Violeiros de Goiás se destaca pela interpretação de um vasto repertório que vai da música de raiz ao sertanejo-romântico.  A Orquestra de Câmara Goyazes, por sua vez,  é uma orquestra reduzida e apresenta repertório especificamente erudito composto, sobretudo, de obras dos grandes compositores do século 20.

              Goiânia conta também com outra expressiva corporação musical, a Orquestra Sinfônica Municipal. 

              A música erudita goiana é reconhecida internacionalmente, apesar de, em termos regionais ainda possuir uma divulgação (e movimentação) tímida. Goiás possui cantores e duplas conhecidos nacionalmente no gênero sertanejo-pop. Como Zezé di Camargo & Luciano; Leonardo (que fazia dupla com o irmão Leandro); Christian & Ralf (ex-dupla); Bruno e Marrone, e Matão e Monteiro, entre outros. Há dezenas de cantores e compositores que movimentam o gênero MPB, com destaque para as canções regionais.

 

 

Teatro

 

No início do século 18 já se tinha notícia da paixão dos goianos pelo teatro. Nessa época, as apresentações teatrais eram atração em Traíras, na divisa de Goiás com a Bahia. Na Cidade de Goiás (antiga capital do Estado), conforme relato do professor Domingos Félix, em artigo de 1957 (Jornal Para Todos, Rio de Janeiro), havia dois grupos teatrais. Um deles era composto por negros alforriados e dirigidos por “Mestre Daniel”, vindo de Salvador. O outro era formado por brancos. Os grupos se revezavam no palco do Teatro São Joaquim. Com a decadência da cidade, devido ao encerramento da mineração, os grupos mudaram-se para cidades como Pirenópolis e Jaraguá. Nesta última, as famílias Freitas, Ferreira de Amorim e Gonçalves, principalmente, deram vida à atividade cênica. Em Pirenópolis também o teatro viveu grande ebulição.

                Os pioneiros da arte teatral apresentaram-se no Cine-Teatro Goiânia, na festa de inauguração da nova capital, que ficou conhecida como Batismo Cultural, em 5 de julho de 1942. Aos poucos novos nomes e grupos foram surgindo. O teatro ganha força com a criação do Grêmio Literato-Teatral Pedro Ludovico, dirigido por Sebastião Costa. Esse grupo era integrado por verdadeiros batalhadores pelo crescimento da atividade teatral no Estado, como Otávio Arantes e João Gonçalves. Esses pioneiros criaram, em 1946, a Agremiação Goiana de Teatro (AGT), que encenou peças importantes, como Édipo Rei e Antígona. Da escola de Otávio Arantes (AGT), surgiram Cici Pinheiro e sua irmã Florami Pinheiro. Cici Pinheiro, com um trabalho já amadurecido (com companhia teatral própria), lança João Bennio no meio teatral goiano.

               Devido à sua ação de pioneiro, Otávio Zaldiva Arantes é considerado o “pai do teatro em Goiás”. Sua AGT nasceu com a apresentação da peça Pertinho do Céu, de Mário Lago, no Cine-Teatro Goiânia. No entanto, fez mais sucesso, o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.
Idealista e apaixonado pelas artes cênicas, o grande objetivo de Otávio Arantes era criar um espaço próprio para abrigar e estimular a atividade teatral. Assim, construiu o seu Teatro Inacabado, nas imediações do Lago das Rosas. Mesmo sem estar pronta a obra (daí o nome), a nova casa de espetáculos estreou, em 1957, com O Pagador de Promessas, de Dias Gomes. Otávio Arantes sempre lutou com muita dificuldade para manter o seu teatro em funcionamento. Em 1985, num rasgo de indignação, ele decidiu fechar as portas da casa de espetáculos em protesto. Alegava que as melhores peças só iam para o Teatro Goiânia. Com isso, o seu Teatro Inacabado ficou por longos períodos fechado. Quando morreu (atropelado, em Brasília), em 11 de julho de 1991, aos 69 anos, Otávio Arantes tentava preparar um grupo de atores para apresentar a peça Cenas de Shakespeare. O seu Teatro Inacabado transformou-se em Teatro Otávio Arantes, mas continua desativado.

              Cici Pinheiro (na verdade, Floracy Alves Pinheiro) contribuiu de forma significativa para o crescimento do teatro em Goiás. Interpretou sua primeira peça, Vila Rica, de R. Magalhães Júnior, aos 14 anos, sob a direção de Otávio Arantes. Atuou, juntamente com Aquino Porto e Mari Baiocchi, na peça Carlota Joaquina. A atriz fez também radionovela, telenovela, produziu e dirigiu peças teatrais. Sua grande produção foi Gimba, em 1990, no Teatro Goiânia. João Bennio também atuou no teatro. Estreou com As Mãos de Eurídice, de Pedro Bloch, em 17 de julho de 1955, no Cine-Teatro Goiânia. Um dos seus feitos foi a construção do Teatro de Emergência, em 1962. Para isso, contou com a ajuda de amigos como Carmo Bernardes, Geraldo de Pina e Elder Rocha Lima. João Bennio foi preso, acusado de subversivo, pelo regime militar e o seu teatro acabou fechado.

              O teatro em Goiás viveu grande impulso com a criação, em 1988, do Centro Cultural Martim Cererê, administrado pela Agência de Cultura Pedro Ludovico (Agepel). Na abertura, em 20 de outubro daquele ano, o público pôde assistir à peça Lições de Anonimato, de Hugo Zorzetti. O Martim Cererê possui dois teatros cobertos, o Pyguá e o Yguá, e um de arena, o Ytakuá, além do Bar Karuhá. O diretor Marcos Fayad criou o grupo Martim Cererê, que começou no centro cultural. A companhia apresentou, entre outros espetáculos, Cabaré Goiano, Danhorê e Martim Cererê. Com base em obra homônima de Cassiano Ricardo, Martim Cererê teve estréia nacional em fevereiro de 1999 e apresentou-se em importantes eventos, como o Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, o Festival Nacional de Artes de Campina Grande (PB) e na primeira edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica, na Cidade de Goiás). Esteve ainda em Brasília, São José dos Campos e no Rio de Janeiro, entre outros locais.

              A Agepel também desenvolve cursos de formação teatral através da sua Escola de Teatro. Oferece cursos de iniciação e aperfeiçoamento nas artes cênicas para pessoas de diferentes idades, durante todo o período letivo. Outro espaço importante para o teatro, em Goiás, é o Teatro Goiânia, a mais tradicional casa de espetáculos goianiense. Tendo aberto as suas portas em 14 de julho de 1942, durante o Batismo Cultural (assim ficou conhecida a festa de inauguração da nova capital de Goiás), o Teatro Goiânia integra o conjunto de prédios que marcaram os primeiros tempos da cidade. Esse espaço tem abrigado grandes espetáculos, principalmente na área de teatro.

              A Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico possui projetos de valorização e estímulo à atividade teatral no Estado.

Governo na palma da mão

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