Duas mostras celebram a reabertura do Museu de Arte Contemporânea de Goiás
“Fayga Ostrower: diálogos ativos”, da artista plástica polonesa naturalizada brasileira, abrange boa parte da vida e criação dela. “Conversas: resistência e convergência” é uma coletiva de artistas do Planalto Central. As exposições dão início à retomada da agenda do MAC
Duas exposições marcam a reabertura do Museu de Arte Contemporânea de Goiás, após dois anos fechado ao público por causa da pandemia do novo coronavírus. O MAC apresenta a partir de 31 de março próximo o acervo doado pelo Instituto Fayga Ostrower em comemoração ao centenário de nascimento da artista plástica. No mezanino do MAC, serão exibidos 45 trabalhos doados pelos filhos de Fayga, Ana Leonor (Noni) e Carl Robert, ao museu do Centro Cultural Oscar Niemeyer.
Com inauguração na mesma data, o andar térreo do MAC-GO abriga a mostra “Conversas: resistência e convergência”. Com curadoria de Paulo Henrique Silva, a exposição apresenta obras de 51 artistas contemporâneos do Planalto Central que pertencem ao Museu de Artes Plásticas de Anápolis (Mapa). Ambas ficam abertas até o dia 27 de maio de 2022, com entrada gratuita.
A solenidade de abertura das exposições está marcada para as 20 horas do dia 31 de março de 2022, no Museu de Arte Contemporânea de Goiás. O MAC-GO fica no Centro Cultural Oscar Niemeyer, equipamento administrado pela Agência Estadual de Turismo, a Goiás Turismo, à Avenida Jamel Cecílio, nº 4490, Setor Fazenda Gameleira, em Goiânia.
Fayga Ostrower: diálogos ativos
Gravadora, pintora, desenhista, ilustradora, teórica da arte e professora, Fayga Ostrower nasceu em Lodz, na Polônia, em 14 de setembro de 1920. Em 1921, a família muda-se para a Alemanha, onde mora até 1933. Neste ano, amedrontada pela condição de judeus imigrantes na Alemanha nazista, a família foge para a Bélgica, cruzando a fronteira à noite, junto com outros refugiados, onde permanece ilegalmente até conseguir visto para o Brasil.
A família de Fayga chegou ao Rio de Janeiro em 1934 e foi morar em Nilópolis, na Baixada Fluminense. A paixão pelo desenho se manifestou durante a travessia de navio da Europa, quando retratou passageiros e o capitão. Falando cinco idiomas, Fayga trabalhou como secretária, ao mesmo tempo em que fez cursos de desenho e artes. Em 1951, adotou cidadania brasileira.
Estudou Artes Gráficas na Fundação Getúlio Vargas (FGV) com grandes artistas da época e em 1955 foi para Nova York com uma Bolsa de Estudos da Fullbright. Entre 1954 e 1970, lecionou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; na década de 60, em Atlanta (EUA); na Universidade de Londres (Inglaterra); foi professora de pós-graduação em várias universidades brasileiras, rompeu com o figurativismo e abraçou o abstracionismo. Desenvolveu também cursos para operários e centros comunitários, visando divulgar a arte. Proferiu palestras em universidades e instituições culturais no Brasil e no exterior.
Fayga, que realizou exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, tem trabalhos nos principais museus brasileiros, da Europa e das Américas. Recebeu numerosos prêmios, como o de Gravura da Bienal de São Paulo (1957), o Grande Prêmio Internacional da Bienal de Veneza (1958); e ainda o Grande Prêmio nas bienais de Florença, Buenos Aires, México, Venezuela e outros. Além de tantas premiações, presidiu associações, conselhos e comissões de entidades artísticas brasileiras e internacionais. Publicou livros, artigos e ensaios. Fayga faleceu no Rio de Janeiro, em 2001.
Cinara Barbosa, curadora da mostra “Fayga Ostrower: diálogos ativos”, acredita que o primeiro benefício da doação é a participação do Museu de Arte Contemporânea de Goiás nas comemorações do centenário da artista. Ela adianta detalhes da exposição: “o que eu trago nessa curadoria é buscar sinalizar a face dessa artista, mulher, como uma intelectual preocupada em, além de criar, pensar e falar sobre arte. A proposta é apresentar um pouco tanto da produção gráfica da Fayga como criar uma sala de conversa, uma sala de estudos. E que o MAC tenha a possibilidade de estimular campos de estudo em relação à obra dela para refletir e produzir arte”.
Para a museóloga Weridyanna Marques, do MAC-Goiás, que acompanhou o processo de doação, “disponibilizar essa coleção para o público, por meio de uma exposição e de ações educativas, possibilita democratizar e ampliar o acesso à arte de Fayga Ostrower, tornando-a mais acessível a um maior número de pessoas, especialmente para as novas gerações. Além do mais, a instituição, através da história da artista e do seu trabalho, poderá suscitar diversas pesquisas e difundir conhecimento, numa perspectiva de troca de experiências e sensibilização por meio da arte”.
Conversas: resistência e convergência
A segunda mostra celebra a diversidade da arte contemporânea produzida no Planalto Central. A exposição apresenta um coletivo de 51 artistas que moram e trabalham nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal. Com curadoria de Paulo Henrique Silva, “Conversas: resistência e convergência” busca compreender a arte da Região Centro-Oeste como um dos eixos que compõem a produção brasileira.
“O imaginário do exótico e da potência da arte realizada fora do circuito Rio-São Paulo tem chamado a atenção para a arte contemporânea do Planalto Central, instigando novas investigações sobre uma produção expressiva em volume e qualidade que, até então, por muitas vezes, foi excluída de importantes mostras do cenário nacional”, define Paulo.
A mostra “Conversas: resistência e convergência” é um recorte temporal que busca criar uma espécie de Raio X da produção regional. Para o curador, “com certeza, vários outros artistas, em especial mulheres, poderiam estar presentes, porém em razão do limite do espaço foi adotado como critério para a escolha, independente de gênero, orientação sexual e heterogeneidade de suas pesquisas, artistas cujos trabalhos oferecessem entre si possibilidades de leituras e conversas possíveis”.
O curador destaca: “Na perspectiva de sedimentar-se como registro e parte da história atual das artes visuais, o conjunto de obras apresentadas visa contribuir para a construção de uma História da Arte horizontal, em que periferias e centros estejam registrados em um mesmo mapa. Esses artistas conseguiram, a despeito das distâncias, estabelecer diálogos de suas narrativas poéticas com a das grandes metrópoles, e projetaram suas carreiras em âmbito nacional e internacional”.
Serviço
Fayga Ostrower: diálogos ativos e Conversas: resistência e convergência
Quando: De 31 de março a 27 de maio de 2022 Horário: Terça a sexta-feira, das 9 às 17h; sábados, domingos e feriados, das 10 às 17h Onde: Fayga Ostrower: diálogos ativos – Mezanino MAC-GO Conversas: resistência e convergência – Térreo MAC-GO Centro Cultural Oscar Niemeyer, Avenida Jamel Cecílio, nº 4490, Setor Fazenda Gameleira, em Goiânia