Nas duas semanas que antecedem a Sexta-feira da Paixão, a Irmandade dos Passos realiza uma série de ritos preparatórios da Semana Santa na cidade de Goiás.

Às 6h do sábado de Passos, como é conhecido esse dia pelos vilaboenses, ouve-se o badalar do sino que anuncia que chegou o sábado de Passos e chama para a missa da comunhão dos irmãos dos Passos, também aberta à população. Os irmãos dos Passos comparecem todos trajados numa vestimenta chamada de Balandrau – um tecido roxo até na altura dos joelhos; e as mulheres com uma pequena capa chamada de murça, na mesma cor.  Ao meio-dia, ouve-se novamente o badalar dos sinos.

Importante destacar que os sinos representam a identidade de cada região da cidade de Goiás. A ressonância que o sino de cada Igreja traz em seu badalar mostra, em seu toque, o código que insere na paisagem sonora da antiga Vila Boa, cujo significado é traduzido pelos moradores.

Cerimônia do Encerro

Às 14h, novamente, badala-se o sino, para anunciar a população que a imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos será encerrada, ou seja, preparada para as comemorações da Semana Santa.  A imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos é uma imagem de roca, de procedência baiana, que segundo a tradição oral, veio para Goiás em carro-de-boi. Posteriormente, atribui-se que foi restaurada pelo célebre artista Veiga Valle, que completou a imagem com olhos de vidro e cabeleira natural. 

Na cerimônia do encerro, só participam homens que são irmãos dos Passos, e no máximo de doze pessoas. A imagem é retirada do seu camarim e colocada num grande andor, onde depois são trocadas suas vestimentas e cabeleira. Em seguida, é colocada uma grande cruz no ombro da imagem. Já na parte de trás da cruz, como sustentação, uma peça chamada de “cireneu”  apóia o madeiro (uma peça lindíssima de mais ou menos 70 cm, fundida em prata, que pesa por volta de 10kg). Posteriormente, a imagem é ladeada por tecido roxo, denominado de “baldaquim”, feito de seda roxa, com franjas douradas e nas suas quatro extremidades superiores são colocadas ponteiras, entalhadas em madeira, com folhas de ouro.

 Nesse dia, a imagem não é exposta ao público, pois fica coberta. Após essa cerimônia, faz-se uma oração e toca-se o sino que anuncia para a cidade de Goiás que a Imagem do Senhor já está pronta. Tradicionalmente, nesse badalar do sino, devido a seu grande peso e tamanho, juntam-se todos os homens que fizeram o encerro para tocar o sino, para tentar dobrá-lo, ou seja, fazer com que ele vire em 360º.

E logo começam os murmúrios entre os vilaboenses de que “já pegaram o Senhor dos Passos”.