Projeto selecionado pelo Centelha detecta adulterantes do leite
Fonte de nutrientes essenciais como proteínas, lipídios e cálcio, o leite é um alimento amplamente consumido pelos goianos. É também uma importante matéria-prima para a indústria de alimentos.
Considerando a sua importância na alimentação humana, a qualidade do produto é uma constante preocupação de técnicos e autoridades ligadas às áreas de saúde e de laticínios e demanda constantes e rigorosas fiscalizações e avaliações da autenticidade.
O leite é alvo constante de adulteração, o que é crime, além de representar risco significativo à saúde dos consumidores. Por motivos econômicos, inicialmente, as adulterações do leite almejavam o aumento do volume, por meio da adição de água, e desnate para produção de creme de leite.
Depois, foram surgindo novos tipos de adulterações, como a adição de formaldeído (formol), peróxido de hidrogênio (água oxigenada), amido, hidróxido de sódio (soda cáustica), hipoclorito de sódio (água sanitária), dicromato e ácido salicílico para aumentar a vida útil do produto. Soro de leite e ureia também são utilizados para alterar artificialmente o teor de proteína.
As adulterações se caracterizam por adição de reconstituintes (para aumentar o volume e encobrir a adição de água), por adição de conservantes (para aumentar a durabilidade do leite), ou por adição de neutralizantes (para mascarar a acidez da fermentação).
O produto
Selecionado pelo Programa Centelha, que em Goiás é executado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), o projeto da pesquisadora Karoliny Almeida Oliveira e sua equipe, denominado Sensor descartável para identificação de adulterantes em leite bovino, propõe o desenvolvimento de strip tests (testes em tira) para detecção de adulterantes.
Em comparação com os sistemas comerciais já existentes, o protótipo idealizado é uma alternativa eficiente e aperfeiçoada que possui o diferencial associado com a possibilidade de permitir a análise simultânea de sete adulterantes importantes para avaliar a qualidade do leite bovino por meio da detecção visual.
“Após mergulhar os strip tests no leite pode-se comparar as cores obtidas com o rótulo da embalagem que estará armazenando as fitinhas, ou através de um aplicativo fazer a estimativa da concentração do adulterante. Todo o ensaio pode ser realizado no ponto de necessidade”, explica Karoliny Oliveira.
Os strip tests poderão fazer a detecção simultânea de amido, ureia, formaldeído, antioxidante, pH, peróxido de hidrogênio e hipoclorito de sódio por detecção colorimétrica. A pesquisadora relata que o processo de fabricação é simples e de baixo custo, e é preparado em poucos minutos. A detecção é realizada de forma rápida por comparação de cor com a embalagem do produto ou por ferramentas portáteis, tais como smartphones.
Os strip tests poderão ser utilizados por empresas de laticínio, agências ou órgãos de fiscalização, produtores rurais que queiram certificar a qualidade do leite produzido, ou ainda, pela indústria alimentícia no controle de qualidade dos produtos lácteos.
“A nossa expectativa é trazer uma melhor qualidade do leite bovino com os strip tests por meio da fiscalização dos adulterantes no ponto de coleta. A indústria alimentícia que fizer esse sistema de fiscalização trará mais segurança para a população no consumo de leite e seus derivados”, destaca a pesquisadora.
Cada laticínio tem suas regras para as sanções ao produtor infrator, que pode receber uma advertência para a adequação ou a suspensão da entrega do leite ao laticínio por um período. Após a produção do leite, a Vigilância Sanitária também pode avaliar o leite e a indústria receber as devidas sanções, explica a pesquisadora.
Avaliação
Segundo Karoliny, os dispositivos foram avaliados com testes de interferência e armazenamento e foi constatado que não houve interferência nos resultados do ponto de vista analítico, e que podem ser armazenados por até 30 dias em temperatura ambiente sem comprometer o desempenho da análise. Ela destaca que o projeto encontra-se na fase de patente.
“Em seguida faremos testes no momento da coleta do leite bovino para análise no ponto de necessidade, seguido de validação analítica. Após esse processo, faremos um estudo de mercado para viabilizar a inserção do produto em parceria com uma empresa já atuante no setor”, pontua.
De acordo com o artigo publicado na International Journal of Nutrition and Food Sciences, (Misgana Banti et al., 2020), a saúde humana é altamente sensível a adulteração de alimentos e às vezes mostra efeitos colaterais imediatos como diarreia, disenteria e vômito. Porém, as adulterações expõem a sociedade a muitas doenças que variam de leve a fatal. Por exemplo, asma, doenças de pele e câncer causados devido à ingestão de peixe, frutas, carne ou leite adulterado com produtos químicos, como o formaldeído.
A equipe
A equipe que desenvolve o projeto conta com cinco químicos, integrantes do Laboratório de Microfluídica e Eletroforese na Universidade Federal de Goiás (UFG), que possuem experiência comprovada em fabricação de dispositivos analíticos de baixo custo para detecção colorimétrica de biomoléculas.
A Dra. Karoliny Oliveira, administradora e sócia majoritária da empresa 3R Solutions LTDA, criada como fruto do projeto aprovado no Programa Centelha, está em estágio pós-doutoral no laboratório e tem experiência no desenvolvimento de dispositivos alternativos, bioanálises e detecção colorimétrica.
Dr. Cyro Chagas é professor na Universidade de Brasília, trabalha com o desenvolvimento de dispositivos alternativos microfabricados. O Me. Lucas Rodrigues e a Barbara Guinati são pós-graduandos em química, e trabalham com dispositivos alternativos aplicados a detecção colorimétrica.
A equipe também conta com o professor Dr. Wendell Coltro, coordenador do Laboratório de Microfluídica e Eletroforese, o qual possui experiência no desenvolvimento de dispositivos alternativos, microfluídica, bioanálises, eletroforese e detecção colorimétrica, contando com nove patentes depositadas e mais de 100 artigos publicados.
Goiás: quarto produtor de leite
Goiás é hoje o quarto maior produtor de leite do Brasil, com uma produção de 3,08 bilhões de litros ao ano. Presente nos 246 municípios, a cadeia produtiva do leite goiano tem o Valor Bruto da Produção (VBP) superando os R$ 3,5 bilhões. São 72.353 estabelecimentos produtores e mais de 1,9 milhão de vacas ordenhadas.
Já o segmento industrial é representado por 82 laticínios com Selo de Inspeção Federal, 138 com Selo de Inspeção Estadual e um número variável de mini-indústrias com Selo de Inspeção Municipal. Os dados são da publicação Radiografia do Agro em Goiás, criada pelo Governo de Goiás por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e do Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite de Goiás, do sistema Faeg/Senar e parceiros.
Centelha Goiás
O Programa Centelha busca incentivar a proposição de novas ideias para transformá-las em empreendimentos novos e exitosos. Parte literalmente da proposta da ideia brilhante ao CNPJ. Em Goiás, o programa foi lançado no dia 5 de setembro de 2019 e teve suas inscrições encerradas no dia 21 de outubro.
O programa foi executado em três etapas, com capacitações, oficinas, workshops com especialistas em várias áreas. Foram contabilizadas 917 ideias inscritas inicialmente e 2.185 empreendedores cadastrados, sendo 202 ideias aprovadas na primeira etapa, 102 na segunda e 28 nesta fase final.
Os projetos inovadores estão recebendo, cada um, até R$ 60 mil não reembolsáveis para execução de seus negócios. Em relação às áreas temáticas dos projetos estão: Química e Novos Materiais, com maior número de aprovações, seguida por Tecnologia Social, Biotecnologia e Genética, Mecânica e Mecatrônica, TI e Telecom, Inteligência Artificial e Machine Learning, Nanotecnologia, Automação, Big Data, Design, Internet das Coisas (IoT), Manufatura Avançada e Robótica e Realidade Virtual.
Goiás contou com a mobilização de diversos parceiros na articulação institucional dos atores dos variados ecossistemas que contribuíram para a melhoria da qualidade das propostas de empreendimentos submetidos tais como incubadoras, aceleradoras de empresas, espaços de coworking, parques, laboratórios e polos tecnológicos.
A primeira edição do Centelha Goiás foi promovida pelo Governo do Estado por meio da Fapeg, em parceria com o MCTI, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), e operado pela Fundação Certi.
Assessoria de Comunicação da Fapeg