O pedestre não tem vez em Taguatinga
Andar pelas ruas da Comercial Norte B(1) (CNB), em Taguatinga Norte, é uma tarefa difícil. É preciso desviar de buracos, contornar invasões de área pública e disputar espaço com os carros até nas calçadas. Um exemplo de área crítica é a CNB 12, entre o Shopping Top Mall e o supermercado Pra Você. Para trafegar ali, não há outra opção a não ser a de se misturar aos veículos.
Um estacionamento improvisado e árvores atrapalham a passagem. Perto dali, uma academia ocupa quase toda área de circulação coletiva com uma rampa de acesso, contêineres e até motos paradas em cima da passagem de pedestres. As calçadas já são poucas e, quando existem, costumam estar esburacadas: risco grande para quem caminha Nos raros locais onde há calçadas, as estruturas estão danificadas e não passam por revitalização há 30 anos. Pessoas com dificuldade de locomoção, como portadores de necessidades especiais e alguns idosos, são ainda mais prejudicadas.
Moradores da região criticam o descaso do governo e a falta de regras para a ocupação dessa área da cidade. “Moro aqui há um mês e já percebi como as coisas funcionam. É difícil demais circular na rua, dá medo de cair”, reclamou o aposentado Valério Francisco, 76 anos. Como se não bastassem os problemas de má conservação, os carros e motos que circulam por ali invadem o espaço dos pedestres. Além de parar em filas duplas, os motoristas estacionam até em cima da calçada. “Taguatinga é um local onde o pedestre não tem vez. Nunca vi uma cidade feita só para carros.
Estamos abandonados, essa terra não tem lei”, mreclamou a aposentada Maria Aparecida Rodrigues, 56 anos, moradora da CNB 12. Durante mais de um hora em que a reportagem do Correio esteve no local, não havia nenhuma viatura do Departamento de Trânsito (Detran) monitorando o trânsito na região. O Detran afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que as viaturas circulam nessa região todos os dias — mas reconheceu que a fiscalização ainda não é suficiente, pois faltam agentes para dar conta do grande fluxo de veículos nesse local. Denúncias sem retorno Todas as vezes que precisa sair de casa, a professora Maria da Silva, 59 anos, moradora das QNB 2, abaixo da CNB, sabe que vai enfrentar dificuldades. Portadora de necessidades especiais, ela sofre com os obstáculos distribuídos ao longo de toda a avenida: “É assim da CNB 1 até a 13, no final. Andar na rua é um sobe e desce na tentativa de desviar de buracos, carros e puxadinhos de bares e restaurantes. Tenho que sair costurando o trajeto. Não me machuco porque já ando prevenida.
Mas moro aqui há 24 anos e esse problema só piora”. Na CNB 9/10, restaurantes, sorveterias e lanchonetes espalham cadeiras em frente às lojas que ocupam. Os proprietários afirmam ter autorização da Administração Regional de Taguatinga para expandir a ocupação. O órgão, no entanto, admite a existência de irregularidades e garantiu ter acionado a Agência de Fiscalização (Agefis) mais de uma vez. Todos os meses, o governo recebe, no mínimo, 15 novas denúncias desse tipo de infração, somente em Taguatinga. “Nós sabemos da desordem. Já contatamos a Agefis, mas ninguém apareceu.
É função deles fiscalizar. Eu já percorri a área e tentei negociar com os comerciantes, mas fui mal interpretado”, disse o administrador de Taguatinga, Gilvando Galdino. A Agefis informou que até o fim deste mês fiscais devem percorrer toda a cidade, começando pela Samdu Norte, em uma operação para erradicar as irregularidades. Com relação às calçadas, Galdino disse que seria necessário um investimento muito alto para consertá-las e que não há dinheiro suficiente em caixa na administração. “A verba da revitalização das calçadas de Taguatinga está prevista no projeto Brasília Integrada.
Estamos esperando um posicionamento da Secretaria de Transportes para saber como vai ficar. Se demorar muito, vamos reformar o que for possível ainda este ano”, prometeu. “São 30 anos de abandono nas ruas de Taguatinga. Uma hora isso se torna um câncer e a cidade sofre.” 1 – Centro nervoso A CNB é uma via paralela entre a Comercial Norte e a avenida Samdu. Está rodeada por casas, apartamentos e todo tipo de comércio.
É uma das áreas mais movimentadas de Taguatinga com circulação de milhares de pessoas e carros diariamente.
Correio Braziliense Online